terça-feira, 16 de junho de 2015

Uma mulher cega, duas rodas e um mundo pela frente

Cathy Birchall, Bernard Smith e a BMW de vinte anos Dar a volta ao mundo montada numa motocicleta, não é para qualquer um. Ir de carona, então, exige determinação. Muito mais quando a moto conta com vinte anos de uso. Mas a situação fica ainda mais incrível quando a pessoa que dá a volta ao mundo de carona em uma moto de vinte anos é cega. Seu nome, Cathy Birchall. Nascida com uma doença que a foi cegando lentamente, esta inglesa cresceu à margem das brincadeiras de escola. Os anos passados num instituto especializado atenuaram a solidão. Mas a universidade agravou-a. Duas coisas ajudaram neste período. Uma foi Petra, a cadela-guia que finalmente lhe permitiu sair à rua sozinha quando ela não o fazia já há seis anos. A outra foi encontrar o homem que se tornaria o seu primeiro marido. A felicidade durou duas décadas, até ele falecer de câncer. Algum tempo depois, Cathy conheceu Bernard Smith, um professor que dava aulas para cegos e se apaixonou por ela. Bernard já era, então, um fanático motociclista. Não precisou de muito esforço nem argumentos para convencer Cathy a partilhar deste amor. A ideia da volta ao mundo surgiu como forma de melhorar o conhecimento geral em relação à experiência dos deficientes visuais. Tentaram arranjar um patrocínio, mas não conseguiram. O jeito foi vender a casa para financiar a viagem. Ao longo de mais de um ano, montados numa velha BMW, o casal atravessou 31 países em cinco continentes, fizeram quase quarenta mil quilômetros, enfrentaram temperaturas extremas, subiram a montanha de Machu Pichu, percorreram vales, desertos e cidades. Bernard descrevia tudo para Cathy. Arriscaram a vida nas ruas da Índia, onde carros em velocidades absurdas roçavam pela moto e Cathy ouvia ruídos assustadores. Quando sentia perigo, avisava Bernard por um intercomunicador. Finda a viagem, começaram a dar entrevistas e escreveram um livro para contar a história. Cathy tornou-se uma pequena celebridade, atingindo em parte os seus objetivos de conscientizar a população. Infelizmente, ela estava na Inglaterra há apenas seis semanas quando descobriu que tinha câncer de mama. É um assunto que, quando os jornalistas tocam a voz de Cathy estremece. Ela confirma que a situação "evoluiu", que não se encontra propriamente bem, e mais não fala. Ela prefere contar sobre a viagem - um feito único, tanto quando se sabe. Ao que parece, Cathy foi a primeira a fazê-la nas condições acima apresentadas. A caminho dos sessenta anos, Cathy pôs o seu nome na História. Já Bernard, quando perguntado sobre algum momento especialmente marcante da viagem, fala do encontro com mulheres indianas que se mudaram para refúgios quando as famílias e os maridos as rejeitaram por serem cegas. Também um dia, há muito tempo, amigos de Bernard acharam estranha a sua atração por uma mulher cega. A resposta dele foi simples: vocês não a conhecem. (Fonte: Expresso de Portugal)

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