terça-feira, 23 de junho de 2015

É fantástico: nós enxergamos com o cérebro, não com os olhos

Erik Weihenmayer: alpinista volta a "enxergar", após 30 anos Três semanas depois da concepção é quando o cérebro nasce, com 100 bilhões de células repletas de conexões que se formam a cada estímulo, desde muito cedo. Como as imagens intrigantes de um mundo novo, completamente desconhecido. A porta de entrada dessas imagens é o buraco negro que se vê no centro do olho, a nossa lente natural - o cristalino, por onde passam os raios luminosos. A luz atinge o fundo do olho, a retina. Nela, existe uma floresta formada por 125 milhões de células sensíveis à luz. Cada uma delas capta um pedacinho do que estamos vendo e envia essa informação para o cérebro. É ele que vai juntar os fragmentos e montar a imagem completa. E isso começa ainda no útero materno, pois, com a claridade que atravessava o corpo da mãe, o bebê já fazia os primeiros treinos para enxergar, só que via tudo em preto e branco. É só depois do nascimento que surgem células com a missão específica de detectar as cores. Elas vão se agrupar numa área da retina que adquire a forma de um vulcão: a mácula. Nesta área, que só fica pronta aos 4 anos de idade, é que a visão atinge o máximo de nitidez e de flexibilidade. Por isso, desde pequenos, as crianças do povo mokaen, também conhecidos como os ciganos do mar, que vivem na Ilha de Kossurím, no sudeste da Ásia, aprendem uma habilidade incomum: enxergar debaixo d’água. O normal é que a visão fique embaçada, já que a claridade nesse ambiente é menor. Assim, a reação natural do olho é dilatar as pupilas pra aumentar a captação de luz. Com as pupilas dilatadas, fica mais difícil focalizar as imagens. Mas com os ciganos do mar ocorre justamente o contrário - eles aprenderam a contrair a pupila ainda mais e enxergam o fundo do mar com duas vezes mais nitidez do que qualquer outra pessoa. Estudos recentes mostram que qualquer criança com treinamento seria capaz de aprender o que as crianças mokaens fazem, pois é justamente nos primeiros anos de vida que o cérebro está mais aberto a transformações. Antigamente se pensava que o cérebro atingia a maturidade completa aos 20 anos. Hoje, sabe-se que ele está sempre pronto a aprender coisas novas até o fim da vida. Como exemplifica o caso de Erik Weihenmayer, que ficou cego aos 13 anos. Aos 43, ou seja, após 30 anos na mais completa escuridão, Erik voltou a enxergar. Mas com a língua. E fez um teste escalando um penhasco no deserto de Moab, nos Estados Unidos. Para isso, ele utilizou um óculos de sol especial, equipado com uma câmera, cuja função é enviar as imagens para um minicomputador preso na cintura de Erik. O equipamento então simplifica o cenário captado pelos óculos, preservando o relevo e os contornos. As imagens são transmitidas para uma das partes mais sensíveis do corpo – a língua, onde sensores elétricos minúsculos descarregam os sinais captados pela câmera. Erik sente pontinhos que juntos formam linhas e contornos. O cérebro recebe essas sensações e com elas, monta uma imagem rudimentar. Ou seja, nós enxergamos com o cérebro, não com os olhos. (Fonte: The Human Body – BBC)

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