terça-feira, 3 de novembro de 2015

Ensaio fotográfico desperta reflexão sobre deficiência física e intelectual em crianças

Fotógrafa troca imagens por cestas básicas. Os alimentos são doados para a ONG Novo Rumo. Foto Ricardo Fernandes DP D.A Press Fotógrafa troca imagens por cestas básicas. Os alimentos são doados para a ONG Novo Rumo. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press O convite surgiu despretensioso nas redes sociais. Pouco a pouco as mães atenderam ao chamado. Vieram de vários recantos, trouxeram seus filhos e filhas. No dia combinado, protagonizaram suas histórias na frente de uma máquina fotográfica. Um ano depois daquele primeiro passo ser dado, o projeto Fonte de Luz permanece como uma reflexão sobre o universo das crianças com deficiência física ou intelectual. Se uma parcela da sociedade exclui, a fotógrafa Lívia Neves, 33 anos, abraça. Especialista em eternizar momentos de partos normais, ela decidiu aprender mais sobre imagens infantis lançando um olhar atento sobre meninos e meninas até então pouco retratados. Além de perceber a ausência de ensaios com crianças com Síndrome de Down ou paralisia cerebral, por exemplo, Lívia também despertou para o tema durante a apresentação do filho, com 5 anos na época, em uma feira de ciências da escola. “O cromossomo 27 é o que faz a pessoa com Down ser diferente, mas ele tem braço, olho e cabelo igual a mim, disse meu filho. A partir daí tive a ideia de fazer o convite para as mulheres especiais no Dia das Mães, no ano passado”, conta a fotógrafa. As descobertas de um cenário desenhado por preconceito e exclusão surgiram a medida que o ensaio avançava. “Vou fazer as fotos de uma criança na praia que nunca foi ao mar. A mãe me contou que tinha vergonha de expor o filho para ele não ser apontado por outras pessoas. Certa vez também já ouvi de uma fotógrafa que as fotos dessas crianças não são um ‘produto bonito’”, lamenta Lídia. A fotógrafa calcula já ter retratado cerca de 15 mães com suas crianças. O ensaio é feito preferencialmente na Praça da Jaqueira, no Recife, ou na Praça do Carmo, em Olinda. Em troca, as famílias doam cestas básicas para serem entregues à ONG Novo Rumo. “Comecei a ver que os ensaios eram como uma fuga da rotina das mães e crianças, repleta de médicos, fono, fisioterapia. Além disso, as fotos levantam a auto-estima delas”, reflete. A lei federal 11.982 prevê, desde 2009, que parques de diversões, públicos e privados, devem adaptar, no mínimo, 5% de cada brinquedo e equipamento e identificá-lo para possibilitar sua utilização por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Em 2013, a Jaqueira recebeu brinquedos inclusivos em um trecho do parque. Lívia aposta na prática do bem como forma de recebê-lo de volta. A equação parece dar certo. Lívia tem espondinite anquilosante, uma doença inflamatória crônica que acomete preferencialmente articulações da coluna vertebral. Além de sofrer com muitas dores, Lívia sabe que a doença não tem cura e, se não tratada, ela poderá ter limitação de movimentos e até invalidez. “Percebi que meus problemas não são nada diante da rotina dessas mulheres. Muitas largam tudo para cuidar dos filhos”, reflete. DEPOIMENTOS Anadilsa Marques, 36 anos, funcionária pública, mãe de Calyne, 2 anos “Senti felicidade, libertação do luto, da dor. O resultado das fotos comprovam que minha filha pode sim ser fotografada, como qualquer criança”. Edna Costa, 44 anos, monitora de dança, mãe de Luis, 14 anos “As fotos comprovam que meu filho pode ser o que ele quiser, onde quiser, no momento que quiser. Apesar de todo preconceito, ele é uma criança”. Fonte: Diário de Pernambuco

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