terça-feira, 20 de outubro de 2015

O paraíso, a rádio comunitária e o DJ cego

Quando Zaqueu sai para almoçar ou ir ao banheiro, os amigos se revezam para tomar conta do equipamento (foto: Jotabê Medeiros/Estadão) Entre Paraty e Trindade, no estado do Rio de Janeiro, seguindo as trilhas na mata atlântica pela Reserva da Juatinga, existe um lugar com pouco mais de 300 habitantes conhecido como Praia do Sono. Apesar do nome, não existe tédio ali. Pelo menos durante o verão quando, todas as tardes, no meio da multidão, surge o DJ Zaqueu e sua Rádio Caiçara, uma emissora comunitária cuja transmissão é feita através de um equipamento que o próprio Zaqueu inventou com duas pilhas palito – segundo ele mesmo gosta de contar. Zaqueu também gosta de se gabar em dois outros itens: seu gosto musical e o fato de ser o único DJ cego do mundo. O gosto musical fica por conta de nomes como Chico Buarque, Belchior, Milton, Alceu Valença entre outros que estão presentes em um case com uns 40 CDs que ele localiza de memória e cuja distribuição está distribuída pela batida e pelo ritmo. Já a cegueira foi por conta de uma catarata que, aos 12 anos, tirou sua visão de vez – até então ele conseguia enxergar um pouco em apenas um olho. Hoje, aos 46 anos, Zaqueu se tornou uma espécie de celebridade local. Além da rádio, ele participa de ações educativas com as crianças da região, cujos moradores vivem da pesca artesanal e de um modesto comércio local. Zaqueu ganha salário de um restaurante local e o apoio dos bares vizinhos para manter sua rádio no ar. "Quando eu noto que o pessoal está mais quieto, mudo a música”, explica ele que sempre gostou da profissão de DJ e acabou aprendendo sozinho a fazer as interseções entre uma música e outra. Mas o que está tirando o sossego da Praia do Sono não são as mudanças musicais promovidas por Zaqueu. É a invasão cada vez maior de turistas. Neste ano, a estimativa era de pouco mais de 5 mil pessoas desembarcando no local. Já passou dos 8 mil visitantes. Os campistas montam barraca em locais de preservação ambiental e sobrecarregando a já restrita rede de água e esgoto. Fora o lixo acumulado e, até mesmo, o consumo de crack. Depois, quem não enxerga é o Zaqueu... (Fonte: Estadão)

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