sábado, 4 de novembro de 2017

Ciclista de Nova Odessa troca casa por ônibus e usa dinheiro do aluguel em projeto para deficientes

Ele faz adaptações em bicicletas e incentiva a prática do esporte por deficientes físicos e intelectuais; 'O sorriso deles é o que me faz feliz', conta.

Por Carol Giantomaso*, G1 Piracicaba e Região
Ciclista realiza projeto para incentivar prática do esporte por deficientes (Foto: Dimmy Vieira/Arquivo pessoal)
Um ciclista de Nova Odessa (SP) criou um projeto de adaptação de bicicletas para pessoas com deficiência física e intelectual. Para dar andamento à ideia,

Adenilson Vieira saiu da casa onde morava e pagava aluguel e passou a viver em um ônibus. Atualmente, parte do dinheiro que pagava na moradia, ele usa

para ajudar os beneficiados.

Dimmy, como é conhecido, é motorista, ciclista e faz "bicos" de bombeiro. Mas hoje em dia, ele dedica boa parte do tempo para o projeto que começou com

os amigos que gostavam de pedalar: o grupo "Bike Brothers".

A ideia do projeto surgiu há cerca de quatro anos, quando Dimmy e os amigos adaptaram uma bicicleta para uma menina de 7 anos que tinha deficiência e começaram

a passear com ela regularmente. Segundo ele, depois de começar a praticar o esporte, ela parou de sentir as dores, que eram consequência de uma doença.


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“Queria tirar eles dessa vida sedentária”, lembrou.
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Depois da menina, outros foram ajudados e, atualmente, cada membro do "Bike Brothers Especial", como passou a ser chamado o projeto, apadrinha uma pessoa

com necessidade especial. Ele faz a adaptação nas bicicletas, acopla os triciclos e todos passeiam. O projeto vive de doações, incentivo dos membros do

grupo e da "boa vontade" de cada um deles.

Adaptação

Segundo Dimmy, para adaptar uma bicicleta, é preciso um triciclo e um novo custa em torno de R$ 1,3 mil no mercado. O ciclista faz a adaptação para acoplar

na bicicleta de quem vai "puxar" o deficiente.

Ciclista trocou casa por ônibus e usa dinheiro do aluguel em projeto para deficientes (Foto: Dimmy Vieira/Arquivo pessoal)
O mais trabalhoso e caro é conseguir o triciclo e fazer a adaptação. Depois de pronto, o deficiente vai pedalando como puder e o ciclista puxa, levando

a maior parte do peso se for necessário. Além dos veículos, também é um desafio conseguir os equipamentos de segurança para garantir que ninguém vai se

machucar durante a prática do esporte.

A manutenção regular das bicicletas e dos triciclos para manter tudo "em ordem" também é um custo constante. E além desses gastos, o grupo também se preocupa

na suplementação e alimentação dos deficientes que começam a praticar exercícios, que tem que ser de qualidade. No fim, a conta sai alta, mas vale a pena

investir, segundo Dimmy.

Ele conta que, desde que passou a adaptar triciclos e bicicletas e passear com os deficientes físicos e intelectuais, percebeu que a atividade auxilia

na melhora do condicionamento físico e na coordenação motora, além da interação social dos beneficiados. E além de ajudar os amigos, a ação também "aquece"

o coração do idealizador. "O sorriso deles é o que me faz feliz", descreveu.

Liberdade

Rafael Mateus da Silva é paratleta de atletismo e participante do Bike Brothers há um ano e meio. Ele teve paralisia cerebral após o parto e ficou com

sequelas na fala, coordenação motora e hoje é cadeirante. Quando começou a andar de bicicleta com Dimmy, a coordenação para prática do atletismo melhorou.


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“Antes eu me sentia preso em casa”, contou
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“Tenho no projeto a esperança de melhora do meu bem estar. Melhorou muito meu condicionamento físico e minha coordenação motora”, explicou. No atletismo,

Rafael atua há quatro anos e já conquistou vários prêmios.

Paratleta de Nova Odessa Rafael Mateus participa do projeto há um ano e meio (Foto: Dimmy Vieira/Arquivo pessoal)
Segundo Rafael, outro benefício do projeto é atrair outros deficientes para o esporte. “Atrai mais pessoas cadeirantes para o projeto, mostra para elas

que também somos capazes de ser livres”, afirmou.

O treinador e amigo se emociona ao falar da evolução dele: “O Rafael transmite uma alegria que transborda dentro de mim. Meu coração começa a bater mais

feliz e eu fico muito contente com isso”, contou Dimmy. Segundo ele, antes de ganhar a bike adaptada, o sonho do amigo era andar de bicicleta, agora realizado.


Empatia

Mesmo antes de começar com a adaptação das "magrelas", Dimmy conta que sempre gostou de ajudar as pessoas e já tinha uma empatia especial pelos deficientes

desde a escola. “Eu já arrecadava alimentos, roupas, remédios”, disse.

Mesmo com as dificuldades financeiras que Dimmy encontra pela frente, ele continua caminhando, ou melhor, pedalando. “O que me motiva é Deus”, completou.


Ciclista de Nova Odessa mostra projeto que adapta bicicletas para deficientes
O bullying também é uma das razões de Dimmy para começar com a adaptação e ajudar deficientes físicos. Ele próprio já vivenciou a situação na época de

escola. Ele contou que, quando era mais jovem, percebia as crianças rindo e zombando das que tinham alguma deficiência. “Eu não gostava que ficavam praticando

bullying”, contou.

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“A única palavra que consegui encontrar no dicionário foi empatia”, disse.
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E essa empatia foi tanta que ele terminou morando no ônibus para aumentar as possibilidades de ajudar os outros e conseguir dar andamento ao projeto. Quando

decidiu sair da casa onde morava há um ano, Dimmy pediu ajuda a um amigo, que cedeu o veículo em troca de ele cuidar dos outros ônibus que tinha.

Como vive de "bicos", Dimmy não consegue manter uma casa e o projeto ao mesmo tempo. "Se tivesse trabalho fixo seria ideal", explicou. Ele afirma que se

morasse em um imóvel alugado, teria que abdicar da paixão de ajudar os amigos deficientes, já que os custos para manter tudo funcionando são altos.

“Eu acabei economizando cerca de R$ 1 mil. Uma parte eu uso para me manter e a outra eu vou fazendo investimento nas bicicletas, na manutenção delas”,

explicou. Apesar de viver em uma "casa alternativa", o ciclista tem tudo que precisa e garante que é confortável (veja vídeo acima).

Dimmy também contou que além de ele próprio e os colegas ajudarem os quatro deficientes que participam hoje, o projeto acabou por incentivar outras pessoas

da cidade, que o procuram em busca de ajuda para adaptar bicicletas.

*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Piracicaba e região

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