terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Mãe relata empurra-empurra entre Estado e Prefeitura para matricular filho com autismo: 'discriminação'

Confeiteira diz que menino de 6 anos ainda não foi alfabetizado por falta de professor mediador. Secretaria de SP diz que contrata auxiliar e governo de

Ribeirão Preto incluiu garoto em fila de espera.
Por Jornal da EPTV 1ª edição
Aos 6 anos, Enzo Ferreira ainda não sabe ler e escrever. Diagnosticado com autismo, o menino deveria ser alfabetizado este ano, mas a família relata dificuldade

para conseguir uma vaga em escolas públicas em Ribeirão Preto (SP).

Mãe do garoto, a confeiteira Érica Cristina Ferreira afirma que, tanto a rede municipal, quanto a estadual, alegam não ter estrutura para receber o aluno,

que precisa de um professor mediador para acompanhá-lo durante as aulas.

“Isso é discriminação. Falar que o menino não pode ficar na escola porque não tem estrutura, dizer para eu ficar com ele no pátio e na hora do recreio

ir embora. O autismo precisa de atenção redobrada, é um direito dele”, reclama.

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que a Diretoria Regional de Ensino já está contratando um cuidador para acompanhar o menino em sala

de aula, e explicou que as aulas perdidas são repostas.

A Secretaria Municipal de Educação, por sua vez, justificou que Enzo está na fila de espera por uma vaga e a família já foi orientada.

A confeiteira Érica Ferreira e o filho Enzo, de 6 anos, em Ribeirão Preto (Foto: Antônio Luiz/EPTV)
Érica conta que o impasse teve início no fim do ano passado, depois que o filho concluiu a educação básica na rede municipal e deveria ter sido matriculado,

automaticamente, no ensino fundamental. Segundo a mãe, Enzo foi transferido para uma escola estadual.

“Eu comecei a ligar em 29 de dezembro e eles alegavam sempre alguma coisa: ‘não tem como fazer a matrícula dele agora’, ‘precisa conversar com a direção,

primeiro, por causa do autismo’, ‘o diretor quer falar com você’. Cada dia era uma desculpa”, relembra.

Na segunda quinzena de janeiro, Érica diz que, finalmente, se reuniu com a direção da Escola Estadual Dr. Edgardo Cajado e foi informada que a matrícula

dependia de uma autorização da Diretoria Regional de Ensino para contratação do professor mediador.

Dias depois, a mãe de Enzo recebeu a notícia de que o colégio não teria condições de receber o aluno especial porque a contratação de um auxiliar demoraria

cerca de um ano e meio. A direção sugeriu que Érica ficasse com o filho na escola.

“Mas, como vou ficar todo o tempo com ele na escola? Não tenho como alfabetizar, ajudar ele na alfabetização. Posso acompanhar, mas não na alfabetização

dentro da sala. A escola mesma alegou falta de estrutura”, afirma a confeiteira.

Enzo Ferreira, de 6 anos, precisa de vaga no ensino fundamental em Ribeirão Preto (Foto: Antônio Luiz/EPTV)
Direcionada à rede municipal, Érica conta que procurou a Secretaria Municipal da Educação e foi informada que deveria ir ao Poupatempo. Após protocolar

toda a documentação, Enzo foi incluído em uma lista de espera: é o vigésimo quinto na fila.

“Eles alegam que estão montando uma sala de educação especial na escola municipal em que fizemos a inscrição. A moça disse que não garante a vaga. A única

coisa que a gente pode fazer é aguardar. Ela falou para mim que não pode fazer nada”, diz.

Preconceito

A confeiteira relata que essa não é a primeira vez que a família enfrenta dificuldades, pelo fato de Enzo ter autismo, apesar do grau leve. Segundo Érica,

o filho também sofreu preconceito da professora e da diretora da creche onde estudava.

Bloco de citação
“A gente ficava em cima mesmo, ia sempre à escola, eu aparecia de surpresa. Em relação à professora, ele não gostava de se aproximar dela. Ela o deixava

mais excluído, do que incluído com as outras crianças. Mas, a mediadora, sim, ele gostava muito dela”.
Fim do bloco de citação

Sem estar matriculado no ensino regular, Enzo também não pode seguir com o tratamento no Centro Ann Sullivan – a ONG só realiza o atendimento gratuito

de pacientes encaminhados pela Secretaria Municipal da Educação.

“Ele fazia acompanhamento com fonoaudiólogo, terapeuta, psicopedagoga, aula de música, aula de dança. Ele brincava mais, ficava mais próximo, se divertia

mais, interagia com as outras crianças, ficava mais sociável. Então, faz muita falta”, conclui.

A confeiteira Érica Cristina Ferreira busca vaga em escola para o filho de 6 anos com autismo (Foto: Antônio Luiz/EPTV)
Contratação

A Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão Preto esclarece que já tramita a contratação de um cuidador que acompanhará Enzo nas atividades escolares. Além

disso, será oferecido o acompanhamento no contra turno escolar e transporte.

"A equipe pedagógica da escola também atuará na reposição do conteúdo perdido, de modo que o processo de ensino-aprendizagem seja contemplado", diz o comunicado,

sem informar prazo para que o auxiliar seja contratado.

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