terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Aluna cega filma sozinha documentário sobre pessoas com deficiência

Durante as gravações de ‘Lentes Escuras’, Caroline Reis operou a câmera guiando-se pela audição
Foto de duas mulheres. A da esquerda está em uma cadeira de rodas e a da direita, cega, está com uma câmera em um tripé.
A estudante de jornalismo Caroline Barbosa Reis, de 23 anos, cega desde que nasceu, filmou sozinha um documentário que mostra as dificuldades diárias enfrentadas

por pessoas com algum tipo de deficiência. “Lentes Escuras” tem duração de 30 minutos e foi apresentado neste ano como trabalho de conclusão de curso (TCC)

da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Gravado em Palmas, o vídeo capta a percepção de Caroline sobre o mundo. No trabalho produzido pela jovem, pessoas cegas, com membros amputados e cadeirantes

com e sem paralisia cerebral falam sobre como é viver de um modo diferente da maioria (veja vídeo acima).

Virei a página em 2017 é uma série de reportagens do G1 que vai contar histórias de pessoas que, como Caroline, alcançaram um sonho, superaram uma dificuldade

ou mudaram de vida neste ano que termina.

Gravações

Durante as gravações, Caroline operou a câmera guiando-se pela audição. Em alguns trechos, é possível ver que os entrevistados ajudam a estudante a encontrar

o melhor ângulo para as imagens.

No documentário, há relatos de pessoas que, apesar de estarem em uma situação de fragilidade, preferem olhar para vida com esperança. Esse é o caso do

Aroldo Ribeiro Soares, que perdeu a visão aos 33 anos. Nas imagens, ele apresenta a casa para Caroline. “Tem horas que eu até esqueço que sou deficiente.

Eu passei a ver com a mente”, diz.

O trabalho também contou com imagens de apoio do técnico voluntário Idglan Bob Maia. Ele diz que a proposta o tirou da zona de conforto.

“Conviver com pessoas que de alguma forma mostram superação fez valer cada segundo. Foi diferente de tudo que já presenciei. O olhar da Caroline sobre

as coisas é impressionante. Filmar várias partes de Palmas com sensibilidade me chocou muito. Uma sensação incrível de acompanhar”, afirma.

Vivendo sempre em ambientes com pessoas sem necessidades especiais, a estudante conta que preferiu não deixar que o preconceito a afetasse.

“Isso tem em todos os lugares, principalmente quando eu era pequenininha, entre os colegas da escola. Eu não deixo esses problemas me atingirem porque

senão não vamos para frente. Nunca deixei que nenhuma situação me prejudicasse e sempre procurei superar”, afirma Caroline.

O documentário era um sonho da estudante e emocionou amigos, familiares e professores. Para ela, o resultado final provocou diversos sentimentos.

Trajetória de Caroline

Caroline nasceu aos cinco meses e três semanas e, por causa dos procedimentos pós-parto, nunca enxergou. “Tive queima e descolamento da retina enquanto

estava na incubadora”, explica. Ela é a única pessoa da família com deficiência.

A jovem entrou na universidade em outubro de 2013 e conta que o objetivo do trabalho é mostrar para a sociedade que pessoas com limitações também são capazes

de fazer atividades normais. “Pretendo levar para as pessoas uma nova visão do mundo.”

Para ela, uma das maiores limitações enfrentadas atualmente é a falta de acessibilidade na maioria dos locais que frequenta. A gente tem muitos problemas

com a falta de acessibilidade em todos os lugares. Eu sei que coisas estão sendo pensadas, mas precisam ser colocadas em prática”, defende.

Caroline conta que os desafios da graduação começaram ainda no vestibular. “Durante a prova não pude usar a máquina de braile e nem tive acompanhamento.”


“Depois que eu entrei na faculdade, me deparei com o núcleo de acessibilidade fechado. Minha turma fez manifestação. Existem alguns equipamentos que não

funcionam, e eu nunca pude ler nenhum livro da biblioteca. Nunca consegui andar sozinha dentro da universidade. Sempre dependo das pessoas”.

A UFT informou que atualmente a instituição tem mais de 15,4 mil alunos e 170 deles declaram algum tipo de deficiência. Pelo menos cinco desses estudantes

possuem deficiência visual.

Sobre a acessibilidade dentro da UFT, a universidade informou que tem tentado se adequar e afirma que “é um desafio constante que vem sendo aprimorado”.


Foto: Divulgação / Bob Maia
Fonte:
G1 Site externo

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