segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Projeto Pedaleiros leva deficientes visuais para passeios de bike

Neste sábado, pedaladas aconteceram na Praça Mauá
POR SIMONE CANDIDA
RIO — Risete Chagas Pereira, de 60 anos, há vinte não andava de bicicleta. Mas neste sábado ela pôde sentir novamente a sensação do vento soprando em seu

rosto. E chorou de emoção. Risete foi uma das dezenas de deficientes visuais que compareceram à Praça Mauá para pedalar num bike dupla, no projeto Pedaleiros,

que oferece a pessoas que não enxergam a experiência de montar numa “magrela” com a ajuda de um voluntário. Criado em dezembro de 2015, o projeto já realizou

11 etapas e atendeu 1.800 pessoas com deficiência visual com passeios em diferentes lugares do Rio de Janeiro. O encontro deste sábado, na Orla Conde,

teve até fila de espera. Na próxima semana, será em Niterói, na Praia de Icaraí.

— Eu fiquei tão feliz que até chorei. Eu tive glaucoma e perdi parte da visão há 20 anos, desde então nunca mais andei de bicicleta. Há seis anos, perdi

totalmente a visão. Andava muito deprimida, sem vontade de viver. E um dia conheci uma pessoa maravilhosa que me indicou este projeto — conta ela, que

é moradora de Vilar dos Telles.

Maria Delfina da Costa Guimarães, de 53 anos, já participa do projeto há dois anos e não perde um passeio. Para ela, pedalar em companhia de um guia é

uma terapia, que ela indica para vários conhecidos deficientes visuais.

— Parece que a gente ganha uma liberdade. Já indiquei para várias pessoas e quero vir a todos! Eu adoro, muito bom o passeio, e parece até que a gente

volta a enxergar. Temos um grupo de WhatsApp só de deficientes visuais e ficamos sempre atentos — comenta.

Manuel dos Anjos, de 57 anos, também aproveitou o dia de sol quente para se exercitar em dupla. Depois do passeio, ficou conversando com outros deficientes

visuais na Praça Mauá.

— Sou cego há 32 anos, e já tinha andado de bicicleta antes, mas com a ajuda do meu irmão. Amarramos uma corda nos guidões e ele vai pedalando. Mas esta

maneira aqui é muito boa — disse o morador de Vila Isabel.

início do grupo Voluntário leva deficiente visual para andar de bicicleta pelas ruas do Rio - Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Durante o passeio, os guias — voluntários que recebem treinamento — vão descrevendo para o “carona” os detalhes e as belezas do cenário. A pedalada dura

em média 5 minutos e no percurso são usados capacete e outros equipamentos de segurança. Segundo o publicitário Fabien Ghestem, um dos organizadores, além

de proporcionar diversão, o projeto tem também objetivo de tirar as pessoas de casa, facilitando a integração.

— Eles podem conhecer outros deficientes e também ter contato com pessoas que enxergam. Este contato é muito importante — explica.

Outra missão do projeto, completa, é fazer com que pessoas que enxergam coloquem-se no lugar do outro e experimentem a sensação de uma pessoa com deficiência

visual. Por isso, quem tem a visão perfeita pode participar do passeio, usando uma venda dos olhos. A iniciativa é sempre gratuita e tem quatro horas de

duração, das 10h às 14h. O projeto, sem fins lucrativos, foi criado pela agência Novo Traço.

Mais informações:
https://www.facebook.com/projetopedaleiros

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