sábado, 21 de outubro de 2017

ESPLENDOR COM AUDIODESCRIÇÃO NA MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA

Esplendor” (ou "Hikari", no original) é uma lufada de delicadeza numa safra de filmes pesados. Não que a diretora japonesa Naomi Kawase aborde aqui um

tema leve, muito pelo contrário. Mas o resultado é uma obra sensível sobre a perda da visão e o sentido do próprio cinema que será exibida com audiodescrição

para o público cego.

Esplendor - cartaz do filme

Em Esplendor, Misako (Ayame Misake) é uma jovem que faz audiodescrição: seu ofício consiste em narrar cenas de filmes para que eles possam ser desfrutados

por espectadores cegos. A missão é intrincada: como traduzir a emoção de uma obra que depende dos olhos para ser plenamente fruída?

Ela topa com o taciturno Masaya (Masatoshi Nagase), fotógrafo talentoso que cai em desgraça porque aos poucos está perdendo a visão. Ele se comporta como

um implacável julgador do trabalho de Misako. A trama de Esplendor se constrói a partir da improvável relação entre os dois, num filme que explora os signos

da perda da luz, como provam as cenas de pôr do sol.

A diretora japonesa conta que teve a ideia de filmar Esplendor quando topou com o material de audiodescrição de um de seus longas anteriores e indagou

como seria o trabalho de quem narra filmes para espectadores cegos. Para um cineasta, que sempre se debruça sobre a interpretação das imagens, a questão

é um tanto mais aguda.

"Sempre me pergunto como elevar a imaginação de quem assiste sem explicar demais ou de menos", diz a diretora a um pequeno grupo de jornalistas que incluiu

a Folha, durante o último Festival de Cannes, em maio.

Naomi Kawase ("O Segredo das Águas", "Floresta dos Lamentos") é a diretora dos sentidos e de como eles embalam os afetos: em seu filme anterior, "Sabor

da Vida" (2015), o paladar despertava o apetite para uma história sobre o gerente de uma padaria e uma idosa que era um ás na cozinha.

Em Esplendor, com o qual a diretora competiu no Festival de Cannes neste ano, a visão (ou a perda dela) abre espaço para uma indagação sobre a natureza

do cinema. E deixa a dúvida: não seria o dilema de Misako, dividida entre a descrição objetiva e a sugestão do que as imagens evocam, o dilema da própria

atividade do cineasta?

Esplendor

Duração: 101 minutos
Classificação: 12 anos
Direção: Naomi Kawase
Com: Masatoshi Nagase, Ayame Misaki e Tatsuya Fuji
Sala Reserva Cultural: Av. Paulista, 900 – Bela Vista – São Paulo
19, 20, 22 e 31 de outubro

Fonte: Folha de São Paulo

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