quinta-feira, 20 de abril de 2017
Placa adaptada devolve autonomia a artista com deficiência motora
Devido a uma doença neurológica, a artista plástica Elizandra Joyce Bueno tem espasmos musculares por todo o corpo. Ela nasceu com distonia generalizada
congênita, um distúrbio que provoca contrações involuntárias e que poderia tê-la impedido de continuar pintando. Mas Joyce, como prefere ser chamada, conta
com a ajuda de um dispositivo especial que a auxilia nos movimentos com a boca, sem prejudicar seus dentes e sua mordida.
Assistida por uma equipe multiprofissional da
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP Site externo,
a artista usa uma placa miorrelaxante de acrílico adaptada. Usada por pacientes com bruxismo e dores faciais, a ferramenta foi personalizada para suas
necessidades. Esses profissionais – cirurgião-dentista, médico, fisioterapeuta, protético e engenheiro mecânico – são especialistas do Centro de Formação
de Recursos Humanos Especializados no Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais (Caope) da Forp.
A placa foi moldada individualmente para se adaptar aos dentes e à mordida da paciente, evitando que seus dentes sofram apertamento, explica a professora
Andiara De Rossi, do Departamento de Clínica Infantil da Forp e integrante do Caope.
Os especialistas providenciaram uma cavidade de encaixe na arcada dentária superior da placa, com dispositivos de madeira que facilitam o encaixe dos pincéis
e do lápis que a artista utiliza para digitar no teclado do computador. Segundo Andiara, uma alternativa de baixo custo, fácil adaptação e confecção. “Além
de cuidados com a saúde bucal, nossa equipe apresentou um olhar voltado para as demais necessidades dos pacientes com deficiência, que no Brasil encontram
pouco suporte e apoio especializado”, afirma.
“A Joyce começou a pintar aos 13 anos de idade e usava os dentes para segurar pincéis”, lembra Ondina Bueno, mãe da artista. Com o tempo, começou a sentir
dores e seus dentes amolecerem. Segundo a professora, a essa altura a artista tinha desenvolvido Disfunção Temporomandibular (DTM), overjet acentuado (dentes
incisivos inclinados e projetados para frente), diastemas (espaço extra entre os dentes), mobilidade e desgastes dos incisivos superiores (dentes superiores
frontais).
Para as dores na região da cabeça, pescoço e articulação temporomandibular, a equipe da Forp investiu em fisioterapia e acupuntura. E, a cada seis meses,
Joyce é submetida a aplicações de toxina botulínica, que diminui as contrações musculares em outras partes do corpo, como braços e pernas.
“Hoje, ela tem acesso ao computador”, conta satisfeita dona Ondina. A inclusão digital da paciente, com acesso às redes sociais, é importante. E esse dispositivo
garante acesso digital a pacientes tetraplégicos ou com deficiências que não permitem o uso dos dedos das mãos ou pés, por meio de adaptações feitas de
acordo com a necessidade de cada um.
Pessoas com deficiências motoras, como Joyce, encontram opções como os computadores por comando de voz, língua e movimentos dos olhos. Mas são alternativas
de alto custo e que muitas vezes não estão disponíveis no mercado brasileiro. Para Andiara, “essa é a vantagem da placa de acrílico com encaixe, além de
promover alívio das dores, proporciona inclusão social e digital, devolvendo autonomia, independência e qualidade de vida”.
Integram a equipe que assiste Joyce os professores Aldevina Campos de Freitas, Fabrício Kitazono de Carvalho, Raquel Assed Bezerra da Silva, Kranya Diaz
Serrado, Alexandra Mussolino de Queiroz e Andiara De Rossi, a cirurgiã-dentista Carolina Paes Torres, o técnico José Carlos Ferreira Jr. e as alunas Késsia
Suênia Guimarães e Michela Camilo.
Caope
O Centro de Formação de Recursos Humanos Especializados no Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais, da Forp, atende de forma multidisciplinar pacientes
de todas as idades com deficiência. Oferece serviços à comunidade abrangendo procedimentos educativos e preventivos, como orientação de higiene bucal;
dentística restauradora; periodontia; tratamento endodôntico; extrações dentais; aparelhos ortodônticos; procedimentos cirúrgicos especiais; entre outros.
Mais informações por
e-mail.
Por Giovanna Grepi
Fonte:
Jornal da USP Site externo
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