quinta-feira, 20 de abril de 2017

Enem: a redação nota mil de um jovem com deficiência auditiva

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nesta terça-feira o espelho das redações do Enem 2016. Nesta edição, apenas 77 estudantes tiraram 1000, a nota máxima. Um deles foi Bernardo Lucas Piñon de Manfredi, de 19 anos, que passou para o curso de Filosofia na UFRJ e para a PUC-Rio, em 2º e 4º lugares. A história de Bernardo, que optou pela PUC, impressiona não só pelas excelentes colocações e a nota em redação, mas também por ser um exemplo de superação. Ainda recém-nascido, ele foi o único que sobreviveu a uma infecção hospitalar que matou mais de 90 bebês em uma maternidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Ficou, no entanto, com sequelas: perdeu a audição e tem problemas motores nas mãos e nos braços. Aluno de escola pública no Ensino Fundamental, viu sua vida escolar mudar depois de conseguir uma bolsa para estudar no Colégio Palas, na Tijuca. Lá sempre foi incentivado pelos professores a dar o seu melhor. Na última edição do Enem, Bernardo escreveu sobre intolerância religiosa. Leia o texto abaixo. Redação de Bernardo Lucas Pinñon de Manfredi, nota 1000 no Enem 2016 Sob o olhar das raízes O Brasil é mundialmente reconhecido por sua diversidade religiosa. Ao longo da sua formação e com as influências externas e internas, o país tornou-se um grande exemplo de miscigenação, evidenciando a sua riqueza cultural. Porém, apesar desses fatos, o Brasil sofre com um grave problema de intolerância religiosa, formado pelo reflexo de uma filosofia etnocêntrica marcada nas raízes da sociedade brasileira. Como combater esta realidade que implica na harmonia? Primeiramente, é preciso entender que a intolerância religiosa começa na educação, ou seja, na falta de conhecimento das religiões. As famílias costumam seguir as religiões tradicionais, no caso o cristianismo, e adotam uma filosofia etnocêntrica. Essa adoção é influenciada por preconceitos históricos, como racismo, e baseada num processo radical de “cristianizar” o Brasil. A partir disso, todas as outras religiões são consideradas inferiores e acabam sofrendo um total desrespeito, sendo vítimas de violência. Além disso, é necessário analisar o choque entre o Estado laico e o conservadorismo social. Apesar de o cidadão ser constitucionalmente livre para escolher sua religião, os conservadores (muitos deles políticos, padres e pastores) obrigam que tal indivíduo siga o ritual referente, e pior, pregando atos fundamentalistas e modificando a conduta dos fiéis. Há também uma silenciosa mistura de política com religião, fazendo instensificar a intolerância por meio de discurso preconceituoso e desmoralizador que afeta o olhar para as diferenças e o convívio entre elas. Diante desse grave cenário é possível compreender que a instolerância religiosa no Brasil está enraizada e deve, portanto, ser combatida. É necessário implantar o ensino de religião em todas as escolas de fundamental e médio formando os jovens dotados de conhecimento sobre a diversidade religiosa no país e assim ajudar a combater a intolerância. Além disso, deve-se criar ONGs de parceria com o Estado e a Unesco, fazendo valer a laicidade e fornecer projetos culturais que influenciem um novo olhar das pessoas, entendendo melhor as diferenças, e assim combater o radicalismo que tanto prejudica a harmonia da sociedade. Fonte: site O Globo.

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