quarta-feira, 19 de abril de 2017

Cego após doença, americano se reinventa no skate e dá lição de vida: "Pensam que sou menos capaz"

Dan Mancina usa paixão pelo esporte como motivação, brinca que sexo melhorou e afirma: "Pais não precisam esconder filhos cegos e devem deixá-los fazer o que crianças estão destinadas a fazer" Daniel Mancina, o skatista deficiente visual que concorre ao prêmio Holman Prize Aos 13 anos, Daniel Mancina recebeu uma notícia nada animadora. Cedo ou tarde, perderia completamente a visão. Diagnosticado com retinose pigmentar, ele não tinha escolha. Ficaria cego com o passar do tempo. A certeza que a doença trouxe, porém, não foi encarada como uma sentença de morte. Pelo contrário. Dan se preparou para os dias que teria pela frente. Entre a incerteza de um futuro sem enxergar e a manutenção da rotina na cidadezinha de Livonia, nos Estados Unidos, em nenhum momento teve dúvida de optar pela segunda. Sempre com o sorriso no rosto, aprendeu o braille, interagiu com outros cegos para entender como seria seu cotidiano quando o inevitável batesse à porta, e hoje, aos 29 anos, é uma lição de vida. O skate, paixão desde os sete anos de idade, talvez tenha sido o único bloqueio inicial quando Dan perdeu 100% da visão do olho esquerdo e manteve 5% da visão periférica do direito, o que lhe proporciona apenas percepção de movimentos e vultos, mas nunca de forma nítida. Aos poucos, contudo, o incentivo dos amigos, e a saudade falaram mais alto. E Mancina voltou. Quem vê seus vídeos nas redes sociais, custa a acreditar no que Dan consegue fazer. O equilíbrio em cima das rodinhas impressiona. E tamanha coragem ganhou o mundo. No início do ano, Daniel foi anunciado como finalista do "Holman Prize", prêmio internacional que celebra atitudes, feitos incríveis e o ativismo de deficientes visuais. - Antes, tinha dificuldade apenas à noite, mas andava normalmente de skate. Nos últimos cinco anos, porém, quando perdi toda a visão do olho esquerdo e a maioria do direito, parei. Só voltei nos últimos dois anos. No ano passado, resolvi levar a sério e me senti mais confortável, mas ainda é assustador como o inferno. Só que acredito que sou uma inspiração. Eu mostro que podemos fazer mais na vida. Eu forço as pessoas a se perguntarem qual é a desculpa que os retém. Essa é uma das partes favoritas, saber que posso inspirar outras pessoas me dá motivação e traz a paixão que eu tinha perdido quando fiquei cego - contou Dan, que foi fortemente afetado pela doença a partir de 2012. Daniel Mancina voltou a andar de skate nos últimos três anos (Foto: Reprodução) Pensando no futuro, Dan buscou uma ocupação que pudesse mantê-lo ativo após a perda da visão, mesmo amparado pelo seguro social do governo americano. Investiu na massagem terapêutica: "não envolvia os olhos". Nas redes sociais, exibe seu dia a dia. Pesca, jiu-jitsu e outras atividades que pessoas cegas normalmente colocam de lado, como cortar lenha, jogar dardos. As quedas em cima das rodinhas, ele confessa, acontecem, mas não mais do que qualquer um skatista que tente evoluir e descobrir novos truques. O preconceito é que foi inevitável. - As pessoas me tratam diferente. As pessoas pensam que sou menos capaz, mas é leve em comparação com outras pessoas com deficiência e grupos étnicos, então eu não posso reclamar muito. É por isso que faço o que faço, e de forma dura, me cobrando, para fazer o possível para mudar a visão que os outros têm dos cegos e de si mesmo - explicou Dan. Daniel Mancina pesca, joga dardos e brinca com outras situações que normalmente cegos ignoram (Foto: Reprodução/Instagram) Dan aproveita cada chance que tem para passar a mensagem de que nada é impossível: "sou exatamente a mesma pessoa que era antes". Nos últimos meses, tentou até estacionar um carro velho em um estacionamento da cidade. O difícil é arrumar um veículo emprestado para isso. "ninguém quer arriscar". - Sinceramente, sinto muito pelas pessoas que acham que existem coisas impossíveis. Eles me frustram, por vezes não posso ajudar, e me sinto mal por isso. Se todos se sentissem assim, o mundo seria muito chato e triste. Conseguir fazer o que os outros acham ser impossível é o que nos torna humanos, é o que nos faz evoluir e seguir crescendo. Se todos tentassem fazer o acreditam que não conseguem, mesmo que não tenham sucesso, a vida seria muito mais interessante - disse Mancina. "Sexo é melhor cara, acredite em mim" Zapeando pela internet, Dan encontrou outros skatistas cegos. Nomes como Marcelo Lusardi, da Espanha; Brett Devloo, do Canadá; Nick Mullins, que inclusive mora perto dele e já combinou um rolê junto nas próximas semanas. O número de praticantes, contudo, ainda é pequeno. Apesar disso, o americano acredita que seria no mínimo curioso ver o esporte numa Paralimpíada no futuro - o skate tornou-se esporte olímpico já no ciclo de Tóquio 2020. - Nunca gostei de competição, então ir para uma Paralimpíada não é um sonho que tenho. Mas confesso que se tivesse a chance, certamente iria. Seria louco ter um skatista cego em um torneio profissional, mas não tenho certeza se teríamos atletas suficientes. Há poucos skatistas cegos. Só que seria incrível mostrar para o mundo o que podemos fazer, e que as pessoas cegas e outras com deficiência gostam de fazer esportes radicais. Ajudaria a mostrar que pais não precisam esconder os filhos cegos e deixá-los fazer o que crianças estão destinadas a fazer - diz o skatista, fã de Jamie Thomas, Tony Trujillo, Louie Barletta, Misled Youth e Jeremey Rogers. Daniel faz manobras que chamam a atenção de qualquer um (Foto: Reprodução) Obviamente, Dan não consegue mais assistir aos vídeos dos seus atletas preferidos. Então, ele acompanha a trilha sonora e as reações de quem os vê ao seu lado. É assim que percebe uma manobra mais difícil e daí passa a consumir o conteúdo. Se a cegueira dificultou esse cenário, ele garante que o sexo é muito melhor agora. - O sexo é bem melhor cara. É melhor para a garota, eu vou te dizer que é muito mais. Não é apenas o visual para mim, o corpo dela, e sim o meu. É mais sentimento e toque. Eu fico realmente brincando. Acho que tenho até um pouco mais de consciência e sentidos do que a garota - se diverte Dan. Fonte: http://globoesporte.globo.com/radicais/skate/noticia/cego-apos-doenca-am...

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