sábado, 2 de setembro de 2017

Mães de Itirapina vendem pães e acarajés para filhos deficientes praticarem esporte

Treinos de Power Soccer ocorrem em Rio Claro e vendas custeiam as viagens.
Por Kalinka Bacacicci*, G1 São Carlos e Araraquara
Duas mães de Itirapina (SP) resolveram apostar em seus conhecimentos na cozinha e usar as receitas para os filhos deficientes praticarem esporte.

Por amor, Janete de Jesus Meireles vende acarajés e Maria Inês Rosa Ferreira comercializa pães. Com o dinheiro das vendas, elas pagam as viagens para Rio

Claro, onde ocorrem os treinos do time
Blue Angels,
que pratica Power Soccer, futebol adaptado para cadeirantes.

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“A interação é forte, vão conversando, trocando ideias. Torna os meninos mais comunicativos”, contou Maria. "Parece que é uma bola de salvação, eles se

agarraram nesse treino e se transformam".
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João Vitor de Jesus Meireles pratica o esporte em Rio Claro (Foto: Tayna Hian Arezu/ Divulgação)
Acarajé

João Vitor de Jesus Meireles, de 13 anos, soube do jogo durante um atendimento de fisioterapia em Rio Claro, onde é atendido, e logo se apaixonou pelo

esporte.

"A ONG Mais Forte que a Deficiência trouxe o Power Soccer do Rio de Janeiro e, em um evento, uma moça da ONG mostrou para o João. Ele gostou e procurou

a presidente, ela fez um projeto e surgiu o Blue Angels", contou Janete.

A família, porém, não tinha como custear as viagens da criança para Rio Claro e adaptar a cadeira para os jogos. Ao pensar em como levantar a quantia,

a mãe teve a ideia de vender um prato típico da Bahia, seu estado natal.

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“Comecei a fazer, pedi ajuda, pessoas que nem conheciam acarajé vieram experimentar, gostaram e começaram a comprar. Consegui o dinheiro e adaptei a cadeira

do João”, disse.
fim da citação

Desde então Janete vende os bolinhos de feijão em casa. Cada um sai por R$ 5 e há levas a cada 15 dias para pagar os gastos com os treinos. “É uma amizade

e tanto, eles se divertem juntos, brincam juntos”, elogiou.

Willian Ricardo Lourenço Rosa leva o esporte a sério (Foto: Arquivo/EPTV)
Barraquinha de Pães

Maria também apostou na culinária para manter o filho nos treinos. Ela já costumava vender pães e, para cobrir o gasto extra com as viagens, arma uma barraquinha

em Rio Claro enquanto Willian Ricardo Lourenço Rosa, de 31 anos, está nos treinos.

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“Ele era desanimado, caladão dentro de casa. Depois que começou a treinar conversa mais com a gente, leva o time a sério. A autoestima dele mudou de 0

para mais de 10 de tanto que ele é entusiasmado”, contou a mãe.
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Na barraquinha há opções de R$ 2,50 a R$ 14, além de roscas vendidas a R$ 22 por kg. A mãe fatura entre R$ 60 e R$ 80 a cada visita, e assim paga a viagem.

“Coloquei uma meta: se ele quiser ir ao treino, a gente dá um jeito e vai”.

Gastos

Cada mãe gasta de R$ 50 a R$ 70 com os treinos às sextas-feiras, somando a contribuição para o motorista, combustível e pedágio, mas o time tem a intenção

de treinar também aos sábados, o que vai aumentar os gastos com as viagens.

Além disso, há os valores despendidos com as cadeiras. Cada pneu traseiro custa R$ 390, os dianteiros custam R$ 150 cada e a troca de duas baterias custa,

em média, R$ 400. Há ainda as manutenções e adaptações necessárias após determinado tempo de uso, avaliadas em R$ 1,5 mil.

Quatro integrantes do grupo ainda não possuem cadeiras motorizadas e nenhum tem cadeira nível Fifa, projetada especificamente e com custo médio de R$ 25

mil.

Maria revelou que gostaria de trocar a cadeira de Willian por uma com os padrões da federação, mas para realizar a compra seria necessário fazer um empréstimo.

Não há como adquirir o modelo apenas com a venda de pães.

Elas também contaram que o time procura patrocinadores e por enquanto sobrevive com ajuda de pessoas físicas. Atualmente, há uma
vaquinha online
para contribuições. Também já foram feitas rifas de bicicletas, camisetas e sofá, e existe a intenção de promover um bingo.

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“Você tem que correr atrás do 'sim'. Eu acho que se tiver uma porta você tem que correr, não importa se no túnel vai ter um 'não', você tem que ir”, afirmou

Maria sobre a busca de patrocinadores.
fim da citação
Time está à procura de patrocinadores e se mantém com doações e rifas (Foto: Arquivo/EPTV)
Prefeitura

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Itirapina informou que as famílias solicitaram o transporte das crianças por meio da Secretaria de Assistência

Social, mas que não seria possível oferecer o serviço devido aos gastos com as viagens que os cadeirantes já fazem para tratamentos fora da cidade. Disse

ainda que há a intenção de colaborar com os meninos também nesse aspecto e, assim que possível, ajudará com as viagens para os treinos.

* Sob a supervisão de Stefhanie Piovezan, do G1 São Carlos e Araraquara

fonte g1

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