sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Abertura paralímpica ‘cegou’ plateia para estimular outros sentidos

A cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos, que aconteceu às 18h15 desta quarta-feira, no Maracanã, no Rio de Janeiro, buscou “cegar” temporariamente a plateia no estádio para estimular outros sentidos, sobretudo a audição. A intenção foi transformar o evento numa experiência multisensorial e aproximar o público da realidade dos atletas paralímpicos. Num dado momento, refletores emitiram um forte flash de luz, e em outro segmento todas as luzes do estádio se apagaram por alguns minutos, deixando o Maracanã completamente às escuras. Além disso, um serviço de audiodescrição estava disponível para que tanto atletas quanto espectadores cegos e surdos pudessem acompanhar a festa. Para os organizadores, a intenção foi “romper com a ditadura da visão”, levando a plateia a experimentar as atrações por meio de outros sentidos, como audição e tato. Fred Gelli, um dos diretores criativos da cerimônia, diz que o “universo paralímpico é multisensorial por natureza”, já que muitos dos atletas desenvolvem habilidades em função das deficiências. “Este é um ponto central da cerimônia desde o início do processo criativo. Queremos derrubar essa coisa da necessidade da visão, do ‘ver para crer’. O público vai ser instigado a usar todos os sentidos”, disse, antes da cerimônia. O designer, que criou a logomarca multisensorial dos Jogos, diz que desligar todas as luzes do estádio causou estranheza às equipes de transmissão das imagens para as emissoras de TV ao redor do mundo, mas a ideia foi mantida. “A necessidade de usar outros sentidos é a sensação cotidiana do atleta paralímpico. Para eles é emocionante ver isso contemplado para todos”, explica Gelli, acrescentando que outros recursos, como as projeções já usadas na abertura olímpica, seriam usados para ampliar essa experiência. Universalidade e convivência em vez de superação e inclusão Para Leo Caetano, diretor de cerimônias do Comitê Rio 2016, a intenção da abertura foi que o público tenha contato com “coisas incríveis” que devem “desmontar o preconceito”. “Vamos ter um casal de bailarinos e o espectador só se dará conta de que são cegos no final. Num dado momento haverá o salto de uma megarrampa, e será feito por um cadeirante. O objetivo é que o público veja que se tratam de coisas espetaculares, mas não porque são feitas por pessoas com deficiência. São coisas incríveis porque são coisas incríveis, ponto”, disse, antes da cerimônia. Caetano diz que os diretores criativos sempre pautaram o trabalho com essa perspectiva de surpreender os espectadores sem focar nas deficiências. “A festa transcende esse discurso, essa narrativa de superação. Não se fala disso em momento algum. Fala-se em adaptação e universalidade, o mesmo acesso, o mesmo projeto, a mesma entrada em que todos possam conviver, em que todos possam passar, todos tenham direito à mesma experiência”, explica. Fred Gelli relembra que os conceitos de inclusão e superação não foram trabalhados. “Quando você pensa esse universo, não faz sentido destacar a pessoa com uma deficiência com a necessidade de uma solução só para ela. É mais lógico imaginar soluções em que ela conviva com todos os outros, soluções universais. Falar em inclusão remete à ideia de alguém excluído que precisa ser absorvido. Não é isso, todos querem conviver”, explica. A frase “Everybody has a heart” (“Todo mundo tem um coração”) também norteou o trabalho da equipe criativa com o lema de que, apesar das diferenças, todos têm algo em comum. “É com essa base que falamos da diversidade e da diferença. Não só as pessoas com deficiência, mas todos somos diferentes. Todos nós somos imperfeitos e deficientes em um certo grau. E podemos desenvolver grandes eficiências e alta performance, assim como esses atletas”, explica Flavio Machado, produtor-executivo da cerimônia de abertura e vice-presidente da Cerimônias Cariocas, uma união entre a agência brasileira SRCOM e a italiana Filmmaster Group, responsáveis pelas cerimônias olímpica e paralímpica. Seu Jorge, Maria Rita, João Carlos Martins e Vik Muniz Além do conceito de universalidade e do estímulo à multisensorialidade, a cerimônia de abertura contou com artistas como Seu Jorge e Maria Rita, além de sambistas como Diogo Nogueira e Pretinho da Serrinha (que se apresentou junto com o filho de nove anos). Mais de 4,5 mil pessoas estiveram envolvidas no espetáculo, que contou com 11 segmentos e um elenco de 25 artistas. Já o hino nacional ficou a cargo do pianista e maestro João Carlos Martins, tido como um dos maiores pianistas do mundo e que passou por diversas cirurgias após ter uma das mãos paralisadas. “Quanto à parte técnica, é muito semelhante à abertura da Olimpíada. Fogos, sistemas de luz, som, projeções, isso tudo é muito parecido. O palco vai mudar, no entanto, e os atletas entram logo no começo, para poderem acompanhar toda a festa”, explicou Leo Caetano antes da cerimônia. Cada atleta que entrou no estádio recebeu uma peça que aos poucos foi formando uma obra idealizada pelo artista Vik Muniz, um dos diretores criativos da cerimônia. Ao final da entrada, uma grande obra ficou visível no gramado do Maracanã, composta pelos rostos de todos os 4.022 atletas paralímpicos de 161 países. Fonte: BBC Brasil Site externo (adaptado) Foto: Marcelo Sayão (EFE)

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