quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Pessoas com deficiência contam com solidariedade para se locomover em Nairóbi
Jessica Martorell.
Nairóbi, 31 ago (EFE).- Deslocar-se por Nairóbi com o transporte público
é um autêntico desafio para as pessoas com deficiência: veículos velhos
e precários
sem nenhum tipo de adaptação a suas necessidades e poucos motoristas
dispostos a ajudar. Exceto por Josphat Mwangi, o único que oferece um
serviço especial.
Mwangi faz há seis anos a mesma rota por Waiyaki Way - uma das vias mais
movimentadas da capital queniana - com seu velho "matatu", uma das
populares caminhonetes
de transporte público que oferecem preços muito econômicos.
Neste anos observou diariamente as dificuldades que enfrentam as pessoas
que sofrem de algum tipo de deficiência física, até que um dia decidiu
começar
a romper barreiras. Agora seu "matatu" é o único na cidade que se adapta
às necessidades deles.
Todas as tardes, o ensurdecedor barulho de seu motor adverte a todos que
a jornada acabou nos escritórios do Conselho Nacional de Pessoas com
Deficiência
no Quênia (NCPDK) e que é hora de ir para casa.
Trizah Okudo é uma das muitas que saem de seu escritório com ajuda de
muletas, mancando, enquanto cumprimenta entusiasmada Mwangi, que a
espera ao lado
da porta da caminhonete.
Após ajudá-la com as muletas e guardá-las na parte traseira do veículo,
Mwangi a pega em seus braços e, com um pequeno impulso, a senta na parte
dianteira,
ao lado do assento do motorista.
"É uma pessoa excepcional. É amável e muito próximo", contou Okudo à
Agência Efe, que antes tinha que esperar muito tempo em pé no ponto de
ônibus até
chegar um "matatu" com espaço suficiente para acomodá-la.
"É incrível porque não nos cobra nenhum custo adicional por nos pegar na
porta de nossos escritórios e nos levar para casa", disse Okudo, agradecida.
Apesar dos elogios generalizados, Mwangi diminui a importância do que
faz. "É só meu trabalho. Venho buscá-los e, aos que precisam de ajuda
para subir,
ajudo", declarou à Efe.
Hellen Owuor, que trabalha na recepção da NCPDK, também caminha com
dificuldade e precisa de ajuda para subir na caminhonete.
"Antes era um desafio e um sofrimento diário; agora ele vem nos buscar,
e isso facilita muito nossa vida", contou.
Embora não existam dúvidas sobre a generosidade de Mwangi, todos admitem
que sua ajuda só é um remendo para o grande problema que a falta de
transporte
público habilitado representa.
"Em nossa vida normal, é muito difícil nos movimentarmos em Nairóbi,
porque alguns de nós só podem utilizar transporte público como matatus
ou ônibus,
pois os táxis são caros demais", relatou Owuor.
O presidente do NCPDK, David Ole Sankok, também lamentou que o sistema
de transporte público não seja acessível, e reconheceu que é um assunto
difícil
de solucionar porque a gestão é privada.
"Os matatus tem capacidade para 14 pessoas, se sobe uma pessoa
incapacitada, o espaço diminui e o motorista perde dinheiro. Esse é o
problema", apontou.
Segundo seus números, seis milhões de pessoas sofrem de algum tipo de
deficiência no Quênia, onde o governo destina anualmente dois bilhões de
xelins (cerca
de R$ 67 milhões) para melhorar sua situação.
Embora nos últimos anos tenham alcançado alguns avanços, como a
obrigatoriedade de acessibilidade nos novos edifícios, ainda há muito a
fazer, já que,
por exemplo, muitos prédios do governo continuam a ter barreiras
intransponíveis para uma pessoa em cadeira de rodas.
Alheio a estas grandes números e após uma paciente espera de mais de
meia hora para pegar a todos os que trabalham no NCPDK, o matatu de
Mwangi já está
cheio e pronto para continuar seu trajeto. Pouco a pouco desaparece
entre o alvoroço e o grande engarrafamento cotidiano de Waiyaki Way.
fonte:uol
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