sábado, 16 de março de 2019

Em Porto Alegre, casal mostra cadeira que ajuda pessoas com restrições de movimento a fazer trilha 

Início do grupo Em viagem de trailer pelo país, Guilherme, Juliana, o
filho Benjamin e a cadeira Julietti passaram o final de semana na
CapitalFélix Zucco
/ Agencia RBS
Em viagem de trailer pelo país, Guilherme, Juliana, o filho Benjamin e a
cadeira Julietti passaram o final de semana na CapitalFélix Zucco /
Agencia RBS

Fim do grupo

Após síndrome neurológica rara de mulher, montanhistas paulistas criaram
projeto que já levou 26 cadeiras de rodas adaptadas para trilhas a mais
de 10
Estados

Ele não esquece a promessa que fez:
– Aonde você quiser ir, eu vou levar.

Faz três anos já, Guilherme Cordeiro via a esposa, grávida, perder os
movimentos por causa de uma síndrome neurológica rara. Na cadeira de
rodas, Juliana
Tozzi estava impossibilitada de fazer montanhismo, prática que os dois
descobriram juntos e os uniu desde o começo do relacionamento, havia 10
anos. Mas
ela não queria parar de viajar e fazer trilhas. E ele garantiu que daria
um jeito.

Com a ajuda de um amigo, Guilherme construiu uma cadeira de rodas
especial para o tipo de atividade. O equipamento ganhou até nome,
Julietti, e acompanhou
os dois em montanhas ainda mais altas do que costumavam subir. Juliana,
Guilherme e Julietti chegaram a cerca de 5,4 mil metros de altitude no
Pico Chacaltaya,
na Bolívia, e a quase 6 mil metros no vulcão Acotango, no Chile, em
operação que envolveu 20 pessoas e demandou um ano de preparação.
Guilherme precisou
contratar um personal trainer e ganhar 10 quilos para ajudá-la no
percurso. Além do frio extremo (fez -20°C), a esposa recorda a sensação
de superação:

– É indescritível, sabendo que tu está na condição de cadeirante, ir
para um lugar desses. Nem antes pensei que faria isso.

Guilherme e Juliana, ambos engenheiros civis, hoje com 36 e 33 anos, são
de São José dos Campos, interior de São Paulo. Ficaram conhecidos
nacionalmente
quando, durante o “test drive” da Julietti, uma pessoa tirou uma foto e
publicou nas redes sociais. Era Dia dos Namorados, e a história de amor
dos dois
viralizou na internet. Acabariam aparecendo na capa do jornal Estado de
S. Paulo e, mais tarde, foram tema de reportagens na Globo e na Record.
Juliana
deixa Guilherme com cara de bobo, até hoje, dizendo que ele é tudo para ela.

– Ela faria a mesma coisa por mim – responde o marido.

Com toda a repercussão gerada, o casal decidiu que queria levar a
experiência a mais gente com algum tipo de deficiência motora: criaram
um projeto para
incentivar o acesso à natureza, chamado Montanha para Todos. Já levou, a
mais de dez Estados, 26 Juliettis, que ficam sob cuidado de empresas de
turismo,
ONGs e parques nacionais. Três delas estão aqui no Rio Grande do Sul –
em São Francisco de Paula, Três Coroas e Porto Alegre. Visitar a agência
de turismo
em que está essa última, no bairro Menino Deus, foi o objetivo da
passagem do casal pela cidade neste final de semana.

Início do grupo Juliana e Guilherme tiveram ajuda durante a subida de
quase 5,5 mil metros de altitude no Pico Chacaltaya, na BolíviaMarcos
Terra / Arquivo
Pessoal
Juliana e Guilherme tiveram ajuda durante a subida de quase 5,5 mil
metros de altitude no Pico Chacaltaya, na BolíviaMarcos Terra / Arquivo
Pessoal
Fim do grupo

E eles vieram à Capital dentro da própria casa, trazendo o filho
Benjamin, de três anos. É que, no ano passado, alugaram o apartamento no
interior de São
Paulo para viajar o Brasil dentro de um trailer de 6,5 metros quadrados.
Desceram por São Paulo, Paraná, Santa Catarina, até chegar a solo
gaúcho. Usaram
a cadeira especial pela última vez em São José dos Ausentes, indo ao
Pico do Monte Negro e ao Boa Vista – no passado, também já conheceram
com ela os cânions
Itaimbezinho e Fortaleza, em Cambará do Sul.

Quando viu, estacionado na Avenida José de Alencar, o trailer adesivado
com uma foto da família inteira – Guilherme, Juliana, Benjamin e
Julietti –, o
técnico em segurança do trabalho Odilei Medeiro, 40 anos, se aproximou
para contar que segue o projeto nas redes sociais. Participou de um
passeio com
uma Julietti na serra gaúcha, até.

– É um baita exemplo. Não parem de explorar as montanhas – desejou.

Para Guilherme, o mais legal dessa viagem é “conhecer pessoas reais”.
Relata que em Nova Petrópolis, na Serra, um mecânico lhe ofereceu ajuda
com um problema
no carro, e acabaram dormindo na oficina, aprendendo a preparar
chimarrão, e até estenderam a permanência na cidade porque os anfitriões
fizeram questão
que experimentassem “um churrasco gaúcho” na casa deles.

– Acabamos nem conhecendo o parque da cidade. É muito mais interessante
conhecer as pessoas – conclui Guilherme.

A família deve seguir agora para o Chuí, no sul do Estado, e depois
subir o mapa do Brasil em direção ao Nordeste. Enquanto isso, buscam
patrocínio para
a próxima grande atuação da Julietti, que já está na quarta versão,
depois de vários aprimoramentos. O novo sonho é subir o Monte Elbrus, na
Rússia, durante
uma trip de volta ao mundo por cerca de 70 países. Aonde Juliana quiser
ir, a promessa segue de pé.

Julietti em Porto Alegre

Uma das cadeiras adaptadas do projeto Montanha para Todos está em Porto
Alegre e pode ser usada gratuitamente. O equipamento, que tem apenas uma
roda,
encosto para a cabeça e cintos de segurança, além de barras de ferro
para possibilitar que seja puxada e empurrada, está sob tutela da
empresa Top Trip
Adventure desde dezembro de 2017. Já levou cadeirantes ao cânion
Itaimbezinho, em Cambará do Sul, e ao Morro Tapera, na Capital.

A agência de turismo empresta a cadeira e também viabiliza passeios
gratuitos para cadeirante, dentro da própria programação de viagens. Mas
não é algo
fácil de operar: recomenda-se que seis pessoas sem dificuldades de
locomoção façam o trajeto junto – aceita-se o cadastro de voluntários
para esse staff
também. É possível buscar mais informações pelo WhatsApp (51) 99823-1666
ou na conta @toptripadventure no Instagram.

Fonte:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/

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