terça-feira, 27 de novembro de 2018

Sem intérpretes, surdos denunciam dificuldades para doar sangue

Órgão confirma dificuldades, mas afirma que funcionários foram capacitados; não fluência em libras é apontado como falta de prática devido ao número pequeno

de surdos que procuram o local
Liniker Ribeiro e Anahi Zurutuza
Fachada do Hemosul em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Fachada do Hemosul em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Surdos e intérpretes de Campo Grande denunciam a falta de acessibilidade em instituições públicas da Capital. Na manhã desta quarta-feira (21), ao menos

duas pessoas com deficiência auditiva tentaram doar sangue na sede do Hemosul, localizada na Avenida Fernando Corrêa da Costa, mas sem funcionários que

entendam libras (Língua Brasileira de Sinais), não conseguiram.

“Amigos da comunidade surda tentaram doar e mostrar apoio diante de uma situação, mas não obtiveram respostas. Ninguém sabia língua de sinais e, para ser

doador, necessita passar por uma
entrevista
”, revelou uma intérprete que prefere não ser identificada.
Segundo ela, a doação, inclusive, ajudaria uma paciente surda internada na UTI de uma clínica da Capital, diagnosticada com anemia profunda devido uma

bactéria na garganta.

Conforme apurado, a dificuldade dos doadores começa logo no primeiro atendimento. “Todos devem preencher um questionário de duas páginas e, em seguida,

é feita uma triagem médica onde são feitas várias perguntas”, detalha a intérprete, que destacou o fato da doação só ser realizada após a finalização destes

procedimentos.

O Hemosul, por meio da assessoria de imprensa, confirmou a dificuldade em manter a capacitação de funcionários em libras, mas afirmou que já foram realizados

treinamentos com a equipe. Segundo o órgão, como o número de surdos que procuram o local é pequeno, os funcionários não conseguem manter a fluência no

idioma por falta de prática.

Em relação ao atendimento desta quarta-feira, o órgão confirmou que três pessoas estiveram no local e que houve dificuldade na comunicação, mas que todos

foram atendidos por meio da escrita. Ainda conforme a assessoria de comunicação, o procedimento só não foi realizado por conta de peso e hemoglobina baixos.


Já de acordo com a intérprete, os voluntários tiveram de entrar em contato com o CAS (Centro de Capacitação de Profissionais da
Educação
e de Atendimento às Pessoas com Surdez) para conseguir auxílio de um profissional. A medida, inclusive, é recomenda pela equipe do Hemosul.

“Nós não queremos perder esses doadores e estamos trabalhando para melhorar a capacitação dos funcionários. Nossa recomendação, neste momento, é para que

liguem no CAS e façam o agendamento para que o intérprete vá até o local para auxiliar”, recomenda. O voluntário que optar também pode levar um familiar

para acompanha-lo.

Melhorias – Ainda segundo o Hemosul, alternativas estão no Plano Diretor do órgão e devem ser colocadas em prática até 2020. Entre as medidas, estão sendo

pensados questionários que atendam as demandas de acessibilidade. Além de gravar em vídeo para surdos, um questionário em libras para auxiliar cegos também

está sendo planejado, garante o órgão.

Além disso, um funcionário do período da tarde também tem auxiliado na tradução em libras. A capacitação de novos trabalhadores deve ser realizada em breve.

Na tarde de hoje, um novo grupo esteve no local, acompanhado de um intérprete, e conseguiu realizar o procedimento.

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