Mykeias dos Santos Jorge foi aprovado no Vestibular 2018 para o curso de Ciências da Computação
Por
Paola Carvalho
Mykeias sofreu um derrame com um ano e cinco meses, mas isso não o impediu de prosseguir nos estudos (Foto: Nilzete Franco)
Com apenas um ano e cinco meses de idade, Mykeias dos Santos Jorge sofreu um derrame cerebral que dificultou o desenvolvimento motor do lado esquerdo do
corpo. Mesmo com as dificuldades, o jovem continuou a trilhar seu caminho escolar com o apoio da família e hoje, aos 19 anos, conseguiu realizar um dos
seus maiores sonhos: ser aprovado no curso de Ciências da Computação da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Em entrevista à Folha, o jovem contou que um dos fatores que mais o ajudou no seu desenvolvimento foi o apoio dentro de casa, dado por sua mãe, Dona Maria;
do pai, Manoel; e do irmão mais velho, Mykael, de 22 anos, além das tias, primas e da avó.
A família levava Mykeias, ainda criança, à fisioterapia no Hospital da Mulher para ampliar a sua força física. Na infância, os familiares também perceberam
o interesse do jovem pela Tecnologia da Informação e o inscreveu em cursos de informática e ciências da computação.
Para continuar o aprendizado, aos 14 anos, foi inscrito nas atividades pedagógicas na Unidade de Capacitação e Produção (UCP) do Rede Cidadania Atenção
Especial, programa da Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes).
Lá, os professores perceberam o interesse de Mykeias pelo estudo. Ao terminar o terceiro ano do Ensino Médio, a equipe entrou em contato com a família
para saber se poderiam auxiliar o jovem no processo de inscrição para o Vestibular e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O preparatório para as provas
foi feito em um cursinho de três meses na Universidade Virtual de Roraima (Univirr) e estudando em casa.
O estudante disse que tinha interesse em fazer o vestibular para Universidade Federal, mas tinha medo de não passar. “Eu falava para o meu pai que queria
tentar em uma faculdade privada, mas ele me disse para tentar na Federal e, se eu não conseguisse, ele pagava a mensalidade da particular. A minha mãe
também colocou na minha cabeça para fazer a prova. Fiz o vestibular e passei. A minha prima que viu meu nome na lista e me mandou, mostrei para minha mãe.
Todo mundo me ligou e mandou mensagem, parabenizando. O apoio da família foi muito importante”, avaliou.
Agora, o jovem aguarda pelo início das aulas em agosto. Depois, o foco do jovem é se formar, trabalhar na área e tentar uma especialização em informática.
Enquanto esse momento não chega, Mykeias vive em estado de gratidão. “Agradeço principalmente minha mãe que me incentivou, minha avó, meu pai, minha tia
e minha prima também. Toda a minha família sempre me incentivou. Estou muito feliz”, finalizou.
Pais ainda têm medo de deixar filhos com deficiência cursarem a faculdade
Mykeias não é o único aluno do Rede Cidadania Atenção Especial a passar em um vestibular. Outros nove estudam em instituições públicas e privadas de Ensino
Superior em Roraima. Segundo a professora de Mykeias na Unidade de Capacitação e Produção, Cléia Melo, um dos pilares da UCP é justamente ampliar os níveis
de estudo e as propostas do mercado de trabalho.
“Quando o aluno completa o Ensino Médio, é feita essa pesquisa com os pais para ver se ele tem interesse de cursar o Ensino Superior. Hoje nós temos alunos
no curso de Psicologia e Música, entre outros. Em Ciências da Computação da UFRR, ele é o segundo aluno”, informou.
A professora frisou que ainda existem muitos pais com medo de deixar seus filhos cursarem o Ensino Superior por conta do preconceito com pessoas especiais.
“Eles alegam que o aluno tem dificuldade na leitura, na convivência. Eles têm medo da descriminação, que a gente sabe que acontece. É outro ambiente, totalmente
diferente e eles têm receio que o filho seja mal tratado. Nós conversamos, mas respeitamos a opinião dos pais”, completou.
Nessa situação, os alunos mantêm as atividades na UCP com acompanhamento pedagógico, orientações, suplementação de leitura, escrita e cálculo. Os alunos
precisam ter 14 anos para iniciar as atividades, mas não há idade limite para participação. (P.C)
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