sábado, 31 de março de 2018

Com soluções simples e criativas, bar dá exemplo de inclusão de deficientes na Itália

por
Ricardo Shimosakai
Com soluções simples e criativas, bar dá exemplo de inclusão de deficientes na Itália

Com boa vontade e imaginação, os proprietários de um bar-restaurante em Bolonha, no norte da Itália, criaram um local completamente acessível a deficientes

físicos – dentro e fora do balcão.

Inaugurado há poucas semanas, o L’Altro Spazio conta com uma série de simples adaptações que permitem o emprego de funcionários com limitações físicas.


A simplicidade das soluções pode ser notada já na entrada. Uma rampa de madeira, removível, facilita o ingresso de pessoas com dificuldades motoras, evitando

reformas de grande porte, além da burocracia necessária para modificações na calçada pública.

Entre as novidades criadas especialmente para o local está um balcão de apenas 80cm de altura, que pode ser usado por cadeirantes, tanto de um lado quanto

do outro. Dentro, as geladeiras, as garrafas, as máquinas de lavar copos e demais instrumentos de trabalho estão todos à altura de quem usa cadeira de

rodas.

Um sistema de laços amarrados às torneiras da máquina de chope permite que a bebida seja tirada usando apenas uma mão. A cozinha também foi planejada para

receber empregados com deficiência.

Um dos “chefs” tem apenas 10% da visão. Em dias de pouco movimento, graças à disposição especial do mobiliário e dos equipamentos, ele dá conta de preparar

as refeições sozinho.

Maioria dos funcionários conhecem a língua de sinais
Maioria dos funcionários conhecem a língua de sinais

No L’Altro Spazio, a maioria dos funcionários conhecem a língua dos sinais. Mas, se o surdo estiver atrás do balcão, os clientes podem ajudá-lo usando

bilhetes impressos com o nome de cada bebida ou coquetel.

Para os clientes cegos, o bar oferece um mapa do local que descreve em braile a disposição das mesas, o espaço entre elas, o acesso ao bar, ao banheiro

e os obstáculos presentes no salão. Além disso, o cardápio em braile traz a descrição completa dos ingredientes presentes nos drinks e pratos da casa.


“Não é apenas uma questão de garantir o acesso físico, mas de conscientizar as pessoas de que, com boa vontade e formação, é possível empregar pessoas

com dificuldades físicas”, afirma à BBC Brasil Nunzia Vannuccini, uma das sócias do local.

De acordo com Nunzia, o maior problema durante a construção do bar foi superar a burocracia devido à falta de padrões técnicos para a acessibilidade de

funcionários com deficiência.

“Começamos do zero. Os arquitetos e marceneiros trabalharam com base no projeto desenvolvido por nós, já que, com exceção das medidas relativas à porta

de entrada e aos banheiros, não existem parâmetros para este tipo de construção”.

“Fizemos tudo na base da tentativa e erro”, diz. “O balcão do bar, por exemplo, não era baixo e largo o suficiente. Tivemos que refazê-lo completamente”.


Manuela Migliaccio, garçonete cadeirante de 31 anos, foi uma das funcionárias que ajudou os proprietários a encontrarem as medidas ideias para o local.

“Não é preciso um projeto de engenharia aeroespacial. Com poucas adaptações, nós deficientes podemos fazer tudo”.

Se um surdo estiver trabalhando no balcão, clientes podem usar bilhetes com o nome de bebidas
Se um surdo estiver trabalhando no balcão, clientes podem usar bilhetes com o nome de bebidas

Este é seu primeiro emprego desde que, há seis anos, ficou paralítica após uma queda. “Sou uma ‘barwoman’. Sempre fiz este serviço porque adoro estar em

contato com o público, mas até então não tinha encontrado outro emprego”, diz.

Além do aspecto econômico de se ter um trabalho, Manuela considera importante “poder mostrar que os deficientes físicos são como as demais pessoas”.

“As campanhas de conscientização deixam muito a desejar. Ser atendido por um ‘barman’ em cadeira de rodas e perceber que ele consegue fazer tudo o que

os outros fazem causa nas pessoas um impacto muito maior do que qualquer teoria”, afirma.

“No início, alguns clientes ficam surpresos, mas depois percebem que não há nada de tão especial em trabalhar como garçom estando numa cadeira de rodas”.


Chiara Danisi, de 25 anos, que tem mal formação em um dos braços devido à doença focomelia, também contribuiu para a busca de soluções criativas ao local.

“Agora, até os garçons que não têm dificuldades físicas usam o meu método par tirar chopp com uma mão só”, brinca.

Ela afirma que alguns clientes tendem a fazer o pedido a outros atendentes, por acreditarem que ela não seja capaz de preparar as bebidas. “Mas depois

eles caem na real e percebem que estou ali exatamente para trabalhar”.

Cardápio em braile ajuda clientes com deficiência visual
Cardápio em braile ajuda clientes com deficiência visual

Para Chiara, bastam poucas adaptações para que um deficiente físico possa realizar as mesmas tarefas que os demais trabalhadores. “Uma coisa é definir

os direitos dos deficientes, outra é criar condições para que eles se concretizem. É difícil encontrar pessoas dispostas a valorizarem aquilo que podemos

fazer, em vez de concentrarem-se sempre nas nossas dificuldades.”

Segundo o artista e cineasta holandês Jascha Blume, de 33 anos e sócio do bar, o local tem atraído um público jovem, como a maioria dos outros locais da

cidade, conhecida pela grande concentração de estudantes universitários entre a sua população.

Em entrevista à BBC Brasil via whatsApp, Jascha, que é surdo, conta que tem recebido muitos pedidos de reserva por parte de estudantes para as festas de

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