segunda-feira, 1 de maio de 2017

Faculdade de medicina torna curso de Libras obrigatório

Imagine-se com uma dor no estômago que vai e volta há três dias. Você resolve, então, ir ao médico, algo simples se ouve e fala bem, porque vai conseguir explicar todas as características do incômodo para o profissional. No entanto, é gigante a dificuldade de um surdo diante de um médico que não conhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Foi pensando nesse público de ao menos nove mil pessoas na região que a Faceres resolveu implementar a Libras como disciplina obrigatória no curso de medicina. Em 40 horas, estudantes do sétimo período da graduação aprendem a se comunicar por meio de sinais e as aulas são específicas para o atendimento ao paciente. “O diferencial é o atendimento direto”, diz o professor Thiago Vechiato Vasques, pedagogo pós-graduado em Educação e Interpretação de Libras. “Geralmente as pessoas surdas não conseguem ter um atendimento satisfatório. O objetivo é que eles consigam atender de maneira correta”, afirma. Thiago diz que é difícil o médico saber o que precisa sem se comunicar em Libras com um surdo. Por exemplo: onde é a dor, há quanto tempo os sintomas ocorrem, como apareceram, entre outros questionamentos. Dificuldades que a professora convidada Jacqueline Fontes, 31 anos, conhece bem. Surda, ela auxilia no ensino da disciplina. “Sempre sofro porque nunca entendo o que o médico diz. Psicólogo é pior. Se vou ao ginecologista, preciso chamar levar minha mãe, porque não tem ninguém que saiba conversar com a gente.” É importante que os alunos aprendam com uma pessoa surda porque são necessários mais do que sinais para que a comunicação aconteça. “As expressões faciais mudam o sentido da frase.” Jacqueline aponta outro problema: o sigilo. “Eu fico com vergonha, falta um pouco de ética. Sempre precisa de um mediador. Um exemplo é se a pessoa tem Aids ou câncer. Às vezes a pessoa da família que está interpretando precisa conversar com o médico, é uma situação incômoda.” A estudante Ana Christina Juvêncio Honoratto, 23, acredita que aprender a língua de sinais vai facilitar seu trabalho quando formada. “Eu acho que deveria ser introduzido bem no início do curso.” Seu colega, Victor Hugo Manzano, 22 a, diz que o curso ensina desde o básico até frases envolvendo os diagnósticos. “Que a gente vai usar no dia a dia.” Para Anna Luisa Ramos, 20, faz diferença aprender com uma pessoa surda. “Até para dar uma notícia. É preciso expressão facial adequada para mostrar empatia ao paciente.” Lei regulamenta oferta de curso Decreto presidencial de 2005 institui a linguagem como obrigatória em cursos de formação de professores e de fonoaudiólogos. Nas demais graduações profissionais, a disciplina é optativa. “Tornamos obrigatório na matriz curricular porque não dá mais para ignorar a quantidade de pessoas nesta condição. Quase a totalidade dos médicos não tem essa formação. Eles (surdos) são excluídos”, considera o mantenedor da Faceres, Toufic Anbar Neto. No curso de medicina da Unilago, a disciplina é optativa de 40 horas. Tem particularidades voltadas à carreira médica para capacitar os alunos a atender melhor os pacientes. A Famerp oferece o curso como atividades de extensão. Eles também são organizados pelos Centros Acadêmicos de Medicina, Psicologia e Enfermagem – que realizaram o último curso, encerrado nesta semana. Fonte: site Diário da Região de São José do Rio Preto por Millena Grigoleti (com adaptações). Foto: Mara Sousa.

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