segunda-feira, 29 de maio de 2017

Destaque no esporte paralímpico, ela se prepara para o Mundial de Londres Quem é Izabela Campos, de 36 anos, no esporte? Poucas pessoas devem ter ouvido falar dela. No entanto, essa mineira, portadora de deficiência visual desde os 6 anos, é líder do ranking mundial paralímpico no lançamento de dardo, segunda colocada no lançamento de disco e terceira no arremesso de peso. Medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos Rio’2016, ele acumula ainda um ouro no disco e uma prata no peso no Parapan-Americano de Toronto’2015, um bronze no disco no Mundial do Catar’2014 e outro no peso no Mundial de Lyon’2012. E ela ainda não se dá por satisfeita – de 14 a 23 de julho, ela vai atrás de mais conquistas no Mundial de Londres. Nascida na Vila Oeste e criada no Bairro Serrano, Izabela vive atualmente no Bairro São João Batista. É casada com Anderson Coelho, de 42, que, como ela, não enxerga. Ele é atleta de corrida, especialista em provas de fundo. Apesar das dificuldades, ela se orgulha de sua vida e do marido. Os dois moram sozinhos num apartamento que fica no quarto andar de um prédio sem elevador. Não têm a ajuda de ninguém. Todos os dias, ela se levanta às 7h, limpa a casa, lava e passa as roupas, tendo como companheiros o rádio e a televisão. Pela manhã e à tarde, treina no Centro de Treinamento da UFMG. E não é só. À noite, ela cursa serviço social, na Faculdade Estácio de Sá, que fica próxima de sua casa. “Todo mundo pensa que ser cega é horrível, mas não é não. A gente aprende a viver, a levar uma vida normal. Escuto os jornais e as novelas todos os dias. Meu marido é vidrado em televisão, filmes. Faço supermercado e vou a açougue, padaria, sempre sozinha. Sempre aparece alguém para ajudar.” Em entrevista ao Estado de Minas, ela fala sobre os desafios encontrados nas pistas de atletismo e na vida. Cegueira “Parei de enxergar aos 6 anos, quando tive sarampo. Tive a doença porque minha mãe relaxou com as vacinas, mas não a culpo. Ela não sabia, ou podia imaginar, que algo assim aconteceria. Na infância e adolescência, fiquei em casa, sendo tratada, minha família não me deixava sair. Isso fez com que eu me tornasse obesa. Cheguei a pesar 160 quilos. Até que com 18 anos fui levada para o Instituto São Rafael, para estudar. E lá fui apresentada ao esporte. Primeiro participava de corridas. Perdi peso, muito. Cheguei aos 60 quilos, mas não gostava, ficava muito cansada. Eu até tinha prazer em correr, mas havia a cobrança por resultados, inclusive de minha parte.” O esporte “Ia do Instituto São Rafael para o treino de carona com um dos técnicos, Cássio. Um dia, dentro do carro, peguei numa bola de ferro muito pesada, que me chamou a atenção. Perguntei para ele o que era e ele me disse que era o peso, usado no arremesso. Quis experimentar. Não sabia que havia no atletismo provas além das corridas. Do Instituto São Rafael fui para a Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte (Adevibel), para competir. Falei com a treinadora, Ana Camila, sobre meu interesse nas provas de campo e comecei a praticar. Já treinava na pista da PUC, no Dom Cabral, com o Jarbas, um amigo. Ele me apresentou o meu preparador físico, Ivan Bertelli, com quem estou até hoje.” Dificuldades Edésio Ferreira/EM/D.A Press “No início, era muito difícil, pois não havia em BH um lugar como o CT da UFMG, com equipamentos de última geração. Treinava com uma gaiola, onde a gente fica para arremessar disco, que não existia em lugar nenhum mais. Ela era ultrapassada, com a área de saída mais fechada. Então, quando eu chegava nas competições fora, tinha de me adaptar para o lançamento sem qualquer treino. Era muito difícil. Além disso, não tenho condições de levar meu técnico, o Bertelli, o que muito me ajudaria.” Dia a dia “Já tive propostas de São Paulo, mas não quis ir. Pra sair de BH seria muito difícil. Aqui já conheço tudo. Vou a lugares e pego ônibus pra tudo quanto é lado. Saio de casa, pego um ônibus até a entrada da UFMG. Outro até lá dentro e nesse último ponto meu treinador me pega e leva para o CT. Antes era pior, pois os treinos eram no Clube dos Oficiais da PM e precisava pegar três ônibus às vezes, assim como na PUC.” Sonho realizado “Foi com o Bertelli que comecei a desenvolver as técnicas para competir no dardo, no disco e no peso. Ele é, como diria, meus olhos. Com ele obtive a classificação para os Jogos Paralímpicos de Londres. Não consegui bom resultado, mas estava lá competindo pelo meu país. Quando comecei a treinar, se falassem comigo que eu iria para uma Paralimpíada, para um Mundial, morria de rir. Achava que não tinha qualquer chance. Olha, surpreendi a mim mesma. Quando ganhei minha primeira medalha, no peso, no Mundial de Lyon, não acreditei. Bateu uma emoção muito forte. Chorei como nunca tinha chorado. Foi uma grande vitória.” fonte estado de minas

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