terça-feira, 10 de maio de 2016
Reglete positiva facilita aprendizagem da escrita Braille
A reglete positiva reduz em 60% o tempo de aprendizado do Sistema Braille
Em 1837 o francês Louis Braille (1809-1852) apresentou a primeira versão da reglete, um aparelho de escrita para pessoas com deficiência visual. A reglete
é composta por duas placas de metal ou plástico, do tamanho de pequenas réguas escolares, fixas uma na outra por meio de uma dobradiça na lateral esquerda
e com um espaço entre elas para permitir a introdução de uma folha de papel.
A placa superior possui diversos retângulos vazados, correspondentes aos espaços de escrita em Braille, as chamadas “celas Braille”. Já a placa inferior
tem celas Braille com seis pontos côncavos (em baixo relevo) em cada uma delas.
A reglete funciona basicamente assim: ao introduzir um instrumento (chamado punção) com uma ponta côncava dentro de cada retângulo vazado da placa superior
da reglete, pressiona-se a folha de papel entre as duas placas contra os pontos côncavos dispostos na placa inferior para formar o símbolo Braille correspondente
às letras, números ou qualquer outro caractere que se deseja escrever. Com a folha virada do lado contrário ao que foi inserida na reglete, os deficientes
visuais conseguem identificar, por meio da leitura tátil, os pontos em relevo formados pela pressão exercida pela punção na folha de papel.
No entanto, um dos problemas apresentados por esse dispositivo convencional é que, em razão de os pontos serem escritos em baixo relevo e a leitura ser
realizada em alto relevo, a escrita é iniciada do lado direito e os caracteres são escritos espelhados de modo que, quando a folha é virada para a leitura
(realizada da esquerda para direita), os caracteres estejam do lado correto. Além disso, no Sistema Braille diversas letras são o reflexo invertido de
outras, gerando um esforço maior para quem está aprendendo o sistema, já que precisa aprender um alfabeto para ler e outro para escrever.
Foi para solucionar este problema que, em 2007, por meio de um projeto apoiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da
FAPESP
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a empresa Tece, fundada por Aline Picolli Otalara, bióloga que fez mestrado em Educação e atualmente
realiza doutorado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), desenvolveu a reglete positiva, esteticamente similar ao instrumento convencional, que possibilita
escrever os pontos já em alto relevo diminuindo, assim, o tempo de aprendizado do sistema de escrita e leitura Braille.
O produto foi batizado pela empresa de “reglete positiva”, porque, no ensino de Braille, os pontos em baixo relevo, que não aparecem no momento da escrita,
são chamados pontos negativos. Já os pontos em alto relevo – legíveis e sensíveis ao toque com a folha virada do lado contrário ao que os pontos foram
marcados pela punção escrita – são chamados de pontos positivos.
À Agência FAPESP Aline informou que, ao todo, o processo de desenvolvimento do produto e de testes em instituições que atendem pessoas com deficiência
visual levou seis anos. Na primeira fase do projeto, os pesquisadores da empresa criaram diversos protótipos, com diferentes distâncias entre os pontos,
e realizaram uma série de testes de leitura dos textos escritos com o novo instrumento.
Ao contrário da reglete convencional, a placa inferior do instrumento criado pela Tece possui os seis pontos em cada cela Braille na forma convexa (em
alto relevo). Para marcá-los, a empresa desenvolveu um instrumento de punção similar a uma caneta sem ponta e com concavidade fechada que, ao ser pressionado
sobre a folha de papel entre as duas placas da reglete, forma os pontos já em alto relevo. Assim, o usuário pode começar a escrever da esquerda para a
direita, porque não é necessário virar a folha para ler o que foi escrito. Além disso, precisa aprender um único alfabeto tanto para ler como para escrever
em Braille.
Os pesquisadores constataram que, com a reglete que desenvolveram, foi possível reduzir em 60% o tempo de aprendizado do Sistema Braille pelos futuros
educadores. Com isso, de acordo com Aline Otalara, é possível diminuir o investimento em formação de professores, facilitar o aprendizado e aumentar o
interesse do público, em geral, em aprender o Sistema Braille. Estes resultados do projeto da reglete positiva serão utilizados pela empresa para desenvolver,
também com apoio do PIPE, uma máquina de escrever em Braille.
O desenvolvimento da reglete positiva resultou em um pedido de patente, que está em processo de avaliação. Também com apoio do PIPE, a Tece já iniciou
a comercialização do produto no Brasil e tem planos de exportá-lo. O produto é vendido no
site
da empresa – que possui recursos de navegação para pessoas com deficiência visual – e em lojas especializadas.
(Fonte: Agência FAPESP)
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