segunda-feira, 6 de julho de 2015
Minas Gerais: Quadro de inclusão para pessoas com deficiência é destaque na Record
Desde que se tornou cadeirante, o belo-horizontino Thiago Helton, de 26 anos, milita pelos direitos das pessoas com deficiência. A experiência, então,
fez com o estudante de jornalismo que fosse convidado para comandar o “Faça Parte”, quadro do “Balanço Geral”, da Rede Record, que vai ao ar às quartas.
A exibição tem por objetivo mostrar à sociedade as dificuldades que as pessoas com deficiência têm na luta pelos seus direitos. “Não se trata de um quadro
apenas para explorar denúncias e reclamações, mas sim de um espaço para questionarmos se os direitos e a dignidade das pessoas com deficiência estão sendo
respeitados”, diz.
Para o apresentador, o quadro faz com que o telespectador entenda essa realidade. “É um meio para se quebrar paradigmas e desfazer mitos que envolvem as
pessoas com deficiência”, comenta Helton.
Leia a entrevista completa com Thiago Helton
O Tempo - Como surgiu o convite para apresentar o quadro no Balanço Geral?
Thiago Helton - A Record Minas procurava algo inovador para tratar da temática da inclusão das pessoas com deficiência. Creio que queriam alguém que entendesse
dessa realidade e fosse capaz de transmiti-la para o público. É um tema que eu já dominava, por viver isso em virtude da minha deficiência (tetraplegia
incompleta), além de eu estar me formando em Direito. Ademais, eu já levantava essa bandeira na Comissão de Acessibilidade da PUC Minas (campus do Barreiro),
dentro do TJMG através do processo judicial eletrônico (PJe), como ferramenta de inclusão para servidores e advogados com deficiência, além das palestras
e participações em matérias inclusivas dentre outras atividades, que eu tenho publicadas, nas redes sociais e blogs acerca dos interesses das pessoas com
deficiência.
O Tempo - Como é o quadro?
Thiago Helton - O ideal do quadro "Faça Parte" é mostrar a realidade das pessoas com deficiência através de uma abordagem inclusiva. Não se trata de um
quadro apenas para explorar denúncias e reclamações. Mas sim de um espaço para questionarmos se os direitos e a dignidade das pessoas com deficiência estão
sendo respeitados. Mostramos as dificuldades que essas pessoas, assim como eu, enfrentam. Se houver violação de direitos ou garantias das pessoas com deficiência,
o "Faça Parte" não só registra, como apresenta ainda o caráter educativo, informando ao público o dispositivo legal pertinente. E claro, sempre envolvemos
histórias de superação que na maioria das vezes acompanham a vida de tantas pessoas com deficiência na simples luta por dignidade em seu dia a dia.
O Tempo - Como tem sido a participação do público?
Thiago Helton - As pessoas têm recebido de forma bastante positiva e motivadora, pois é uma nova abordagem sobre o tema. Acredito que em TV aberta, nos
moldes do Faça Parte, a Record Minas seja pioneira neste tipo de jornalismo inclusivo. Por isso contamos cada vez mais com o apoio e participação do público
interessado.
O Tempo - Por que é importante ter um cadeirante à frente do programa, e não outra pessoa falando por vocês?
Thiago Helton - Não apenas o fato de eu me locomover por cadeira de rodas. Mas se tem alguém que pode falar com propriedade sobre o que vivemos, são as
próprias pessoas com deficiência. A abordagem fica mais precisa, pois nós entendemos a luta que vivemos e os desafios que superamos diariamente.
O Tempo - O que pode ser mudado na vida dessas pessoas com o quadro?
Thiago Helton - Vejo o "Faça Parte", acima de tudo, como uma grande ferramenta de mudança cultural. Um meio para se quebrar paradigmas e desfazer mitos
que envolvem as pessoas com deficiência. Através deste espaço, nós podemos semear, além da informação, uma educação inclusiva, provocar reflexões reais
sobre a realidade que vivemos, viabilizar o questionamento de diretos, além de motivar pessoas. Principalmente dentro de um programa completo como é o
"Balanço Geral MG", um dos programas mais queridos dos mineiros.
O Tempo - Qual são as dificuldades que você enfrenta no seu a dia a dia?
Thiago Helton - Bom, eu encaro diariamente toda essa realidade que temos mostrado no "Faça Parte". A mobilidade urbana insuficiente e, às vezes, precárias,
dificuldade de encontrar locais adaptados para cultura e lazer, o desrespeitos às vagas preferenciais e aos espaços destinados a pessoas com deficiência.
Além da necessidade de ter que me superar todos os dias, eu tenho o dever de contribuir para uma mudança de mentalidade da sociedade no que tange a inclusão
das pessoas com deficiência. Mas de maneira sempre positiva, em busca de condições de uma vida melhor não só para mim, mas para toda a comunidade de pessoas
com deficiência.
O Tempo - O termo certo cadeirante ou deficiente físico?
Thiago Helton - Na verdade nem um, nem o outro. O termo mais adequado é pessoa com deficiência, que é a terminologia adotada pela Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, sendo que o Brasil é signatário deste Tratado desde 2008. O termo cadeirante também é bem comum e aceito
pela grande maioria das pessoas com deficiência. O termo deficiente físico acaba sendo usado erroneamente, pois este é apenas um tipo de deficiência, sendo
que além da física, existem outras como a deficiência visual, auditiva e a mental . Vale lembrar que, ao contrário do que muita gente pensa, termos como
portador de necessidades especiais não são nada bem-vindos e são totalmente rejeitados por nós, pessoas com deficiência.
O Tempo - Tem seis anos que você é cadeirante? Como aconteceu?
Thiago Helton - Há seis anos que estou no quadro de tetraplegia incompleta e consequentemente cadeirante. Fui vítima de atropelamento no dia 20 de novembro
de 2008, quando eu saia para trabalhar e fui atingido por veículo no acostamento de uma rua na região do Cardoso, em Belo Horizonte. O meu pescoço quebrou
ao meio entre a quarta e a quinta vértebra o que fez com que eu perdesse o movimento de quase todo o corpo do pescoço para baixo.
Fonte: O Tempo
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