segunda-feira, 30 de março de 2015
Quase três em cada dez empreendedores de São Paulo têm algum tipo de deficiência, revela estudo do Sebrae-SP
Ricardo atua no segmento de turismo e prepara roteiros adaptados
conforme a demanda
Ricardo atua no segmento de turismo e prepara roteiros adaptados
conforme a demanda
Em fevereiro de 2001, Ricardo Shimosakai acabara de voltar de uma viagem
de um ano ao Japão quando sofreu um sequestro relâmpago. Assustado,
tentou reagir
e foi baleado, o que o deixaria, a partir de então, em uma cadeira de rodas.
Quando olha com distanciamento, Ricardo não tem pesar ao lembrar-se de
quando recebeu a notícia de que não voltaria a andar. Seu principal
empenho estava
em recuperar o máximo que pudesse da vida anterior, inclusive voltar a
trabalhar. Após tentar colocações profissionais que envolveram ser
operador de telemarketing
e auxiliar administrativo, ele resolveu abrir sua própria empresa e hoje
faz roteiros de viagem para pessoas com demandas específicas na Turismo
Adaptado.
Ricardo compõe um índice significativo no mercado de trabalho: o das
pessoas com algum tipo de deficiência que decidem empreender. De acordo
com o Panorama
das MPEs Paulistas, estudo que foi elaborado pelo Sebrae-SP, o Estado
conta hoje com cerca de 27% de empreendedores com alguma deficiência.
Essa proporção
é superior ao porcentual da população economicamente ativa: 21% dos
paulistas são empreendedores.
Para Ana Paula Peguim, consultora do Sebrae-SP, a possibilidade de ter
seu trabalho reconhecido e de participar da economia do País motivam o
empreendedorismo
nas pessoas com deficiência.
“Para essas pessoas, empreender significa ter maior participação na
sociedade. E não é servindo cafezinho ou trabalhando em uma recepção, é
de forma qualificada”,
explica a especialista. Ana ressalta que a especialização da mão de obra
já chegou às pessoas com deficiência, por isso, o desejo de partir para
empreitadas
mais ousadas.
A exemplo de Ricardo, as pessoas com deficiência física compõem a maior
parcela de empreendedores, com 27% de participação; eles são seguidos
pelos deficientes
auditivos, que representam 25% dos empreendedores com algum tipo de
limitação. “Com acessibilidade em escolas e faculdades, a pessoa tem
estudado mais
e encontra todas as possibilidades de se desenvolver”, reflete Ricardo.
Mas o empreendedor, por outro lado, ainda reconhece: há um longo caminho
a percorrer. “Somos tratados como heróis, e não só no mundo empresarial.
O simples
fato de estar na rua já admira algumas pessoas. E é apenas meu direito”,
reflete Ricardo Shimosakai.
No caso do empresário, o desejo de trabalhar em uma ocupação que o
satisfaz profissionalmente foi o fator motivacional para abrir o próprio
negócio. Ricardo
explica que, seja por falta de estrutura ou receio, empresas ainda não
estão preparadas para receber pessoas com deficiência em todos os
cargos, o que
dificulta o posicionamento.
“Amigos me aconselharam a aceitar o primeiro emprego que aparecesse,
pois as pessoas me olhariam com mais respeito. Aceitei em uma empresa de
telemarketing,
mas odiei. Não era a minha, fiquei seis meses e saí”, relata Ricardo. O
prazer em viajar e a vontade insuperável de conhecer lugares novos o
levaram a
profissionalizar a paixão. “Comecei a considerar a possibilidade quando
entendi que as empresas de turismo que prestam um serviço direcionado à
pessoas
com deficiência, quando o fazem, é de forma errada.”
Contratação. Ainda assim, há um grupo de empreendedores que apostam na
qualificação e no empenho de pessoas com deficiência para o trabalho e
investem
sem medo na sua contratação enquanto funcionários.
É o caso de Maria Alzira Linares, proprietária da unidade de Alphaville
da franquia de lavanderias Lavasecco, que emprega há 10 anos uma
funcionária com
deficiência auditiva na linha de produção.
“O trabalho de uma passadeira é artesanato puro. É preciso cuidar de
peça por peça à mão e a exigência dos nossos clientes por um acabamento
de qualidade
é muito alta. E ela apresenta um resultado impecável”, relata Maria Alzira.
Para integrar a funcionária à empresa da melhor forma possível, a
empresária chegou a contratar uma professora intérprete da linguagem de
sinais (Libras)
para ensinar os demais colaboradores a se comunicarem com a colega, que
não tem poder de verbalização. “Com o tempo, todos os 13 funcionários da
loja se
adaptaram a essa comunicação. Quando é necessário, ela dá indicativos de
caminhos. Mas principalmente as aulas nos aproximaram muito.”
:: O cotidiano desses profissionais ::
Falta de oportunidade no mercado empurra o deficiente para o negócio
próprio; maioria prefere a indústria
Homens
Entre 55% e 72% dos empreendedores com deficiência em São Paulo são do
sexo masculino.
Idade
Mais da metade dos empresários têm 50 anos ou mais e cursou, pelo menos,
o ensino fundamental.
Salário
De 60,1% a 71,8% de quem decide empreender tem rendimento mensal de até
R$ 1.020.
Setor
A atividade industrial é a mais acessada entre as pessoas com
deficiência que decidem empreender, com 32,9% de adesão entre os novos
negócios.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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