sábado, 11 de abril de 2015
Encenada no escuro, peça 'Acorda Amor' propõe experiência de cegueira
Você não vai ver "Acorda Amor", segunda montagem do Teatro Cego, que
estreia nesta sexta (10), em São Paulo. O espetáculo é encenado no mais
completo breu.
Como adianta o nome do grupo, é uma peça em que a visão não faz parte do
programa.
Mas não é uma peça para cegos. A proposta é mostrar para todo o tipo de
público uma montagem em que nada se vê, mas tudo se entende.
A experiência de assistir sem ver é a parte mais curiosa de "Acorda
Amor". Foi o que a reportagem experimentou na semana passada, em uma
apresentação para
convidados na produtora Caleidoscópio, sede do grupo, na zona norte de
São Paulo.
A maior parte do público presente enxergava. Por isso, a produção reuniu
os espectadores para uma série de orientações antes da entrada no teatro
–e de
um mergulho na escuridão.
O público entra na sala em fila indiana, cada um com a mão no ombro da
pessoa à sua frente. A entrada se dá em quatro times.
"Lembrem o número do grupo. Se, durante a peça, alguém se sentir mal,
levante a mão e diga em que grupo está, e a produção irá buscar e levar
essa pessoa
para fora da sala. Só não pode voltar", orienta a produtora Paula
França. Ela é cega.
A medida, diz Paulo Palado, diretor do Teatro Cego, é para o caso de a
pessoa não suportar a angústia de ficar na mais completa escuridão. "Tem
quem passe
mal mesmo", conta ele, que enxerga.
Na sessão da qual a reportagem da Folha participou, ninguém surtou. O
maior desconforto foi mesmo a entrada. Um bando de desajeitados tateando
cadeiras
para poder sentar e a espera até todos os grupos se acomodarem.
NO ESCURO
Começa a peça e, rapidamente, esquecemos que não estamos vendo nada. Dá
para entender a trama no escuro: histórias de jovens que lutaram contra
a ditadura
nos anos 1970 e de triângulos amorosos já fazem parte do repertório do
grande público.
O mesmo pode ser dito sobre as músicas de Chico Buarque, tocadas pela
banda Social Samba Fino, que conduzem o espetáculo. "A música é de certa
forma nosso
cenário", diz o diretor Palado.
O sentido da audição é mesmo o mais aguçado na peça. Além da música, a
entonação das falas, que revela cada personagem. "Num teatro em que não
ninguém
vê, você precisa passar tudo pela voz", diz a atriz Sara Bentes, pivô do
triângulo amoroso da peça.
Há também os "sons ambientes", que vêm de todas as direções e fazem o
espectador caminhar pelos cenários não vistos. "A movimentação é
fundamental. Tem
que ser tudo marcadinho, a gente não está usando bengala para se
locomover. Mas os atores que enxergam são os que mais demoram a se
acostumar com a marcação",
diz Bentes, cega.
O olfato também é ativado quando aromas de banho, café ou comida se
espalham pela sala, explicitando as ações de certas cenas. E, em uma
única cena, a
sensação tátil é estimulada, quando a água é respingada no público.
ACORDA AMOR
QUANDO estreia sex. (10). Sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; dia 17/4,
às 19h e 21h. Até 19/4
ONDE Centro Cultural São Paulo, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397.4002
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO
FONTE:folha
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