quinta-feira, 14 de junho de 2018

Museus criam e ampliam projetos para pessoas com vários tipos de deficiências e necessidades

Museus inclusivos
Museus inclusivos | Divulgação/Instituto Oi Futuro

Cesar Baima

Ser cego não é impeditivo para apreciar a arte, a surdez não impossibilita acompanhar uma história, nem problemas cognitivos ou dificuldades de aprendizado

vetam a expansão do conhecimento. E é exatamente com estas possibilidades em mente que museus de arte, antiguidades e ciência no Brasil e no mundo cada

vez mais instituem projetos direcionados para a inclusão de públicos com os mais variados tipos de deficiências e necessidades específicas que vão muito

além da “simples” acessibilidade.

- Rampas, elevadores, circulação sem obstáculos, tudo isso é o básico. A gente pensa o conceito de acessibilidade no plural, são “acessibilidades” – resume

Roberto Guimarães, gerente-executivo de Cultura do Instituto Oi Futuro. - Por isso, colocamos no rol das pessoas que devem não só serem atendidas, mas

atraídas e tocadas pelo que a gente faz, públicos com diferentes deficiências e especificidades, numa atitude que está no nosso dia a dia e práticas.

Assim, no centro cultural mantido pelo instituto, no Flamengo, Zona Sul do Rio, um arte-educador surdo e fluente na Língua Brasileira de Sinais (Libras)

é parte da equipe fixa do local, mediando visitas e atividades para quem precisar. Além disso, os editais para utilização do teatro do espaço exigem alguma

iniciativa neste sentido, o que faz com que todas as peças que entrem em cartaz lá, tanto adultas quanto infantis, acabem promovendo sessões com audiodescrição

e visita tátil ao cenário para cegos ou intérprete de Libras e legendas eletrônicas para deficientes auditivos. E, mais para o futuro, a ideia é conferir

ainda mais autonomia para estes visitantes, disponibilizando materiais como videoguias em Libras para que possam usufruir as exposições sem precisarem

de agendamentos ou depender da presença de um guia especializado, prática cada vez mais comum nos principais museus do mundo (confira no box).

E embora os surdos educados em Libras sejam o público do tipo com mais ofertas atualmente no país, com visitas mediadas regulares ou sob agendamento disponíveis

em instituições como a Pinacoteca de São Paulo, os centros culturais do Banco do Brasil no Rio, São Paulo, Minas e Brasília, o Museu de Arte do Rio (MAR)

e o Museu do Amanhã, ambos na região da Praça Mauá, no Centro da cidade, ou videoguias produzidos especialmente para exposições como a “Insetos Ilustrados”,

atualmente em cartaz no Museu da Vida, na Fiocruz, outros grupos com necessidades específicas, como cegos, pessoas com transtornos do espectro autista

(TEA) ou deficiências cognitivas e de aprendizado, também já recebem cada vez mais atenção.

Ainda na Pinacoteca de São Paulo, por exemplo, desde 2009 funciona a “Galeria tátil de esculturas brasileiras”, com 12 obras em bronze de diversos artistas

nacionais que podem, e devem, ser tocadas pelos visitantes. Também lá, mas mais recentemente, começaram a ser realizadas visitas “multissensoriais”, que

buscam por meio de materiais descritivos ou interpretativos, como pinturas “tridimensionalizadas”, odores e sons, oferecer uma nova maneira de “experimentar

a arte com outros sentidos que não a visão”, conta Gabriela Aidar, coordenadora dos programas educativos inclusivos da instituição.

Já no Museu do Amanhã, o foco mais recente são as pessoas com TEA. Desde abril, a instituição já promoveu duas visitas experimentais com este público,

em horários especiais, antes da abertura para o público em geral, e com som e iluminação reduzidos, num processo de aprendizado para melhor atendê-lo e

fazer disso uma oferta regular, diz Adriana Karla, diretora de Programação do museu.

- Estamos construindo esta iniciativa a várias mãos e várias mães, pois são elas a grande maioria dos acompanhantes deste público – destaca ela, que planeja

realizar uma terceira experiência em junho.

Prática comum nas principais instituições mundo afora

Tate, Metropolitan, Smithsonian. Nomes que figuram entre os principais museus do mundo - e que incluem ainda as National Galleries, os “museus nacionais”,

do Reino Unido e EUA, respectivamente em Londres e Washington - também estão na vanguarda da oferta de iniciativas de inclusão para pessoas com diferentes

tipos de deficiências. Além de promoverem visitas guiadas regulares em linguagem de sinais para surdos ou com audiodescrição para cegos, elas agora querem

que esses públicos tenham cada vez mais autonomia em seus salões, enquanto buscam dar a eles novas formas de experimentar suas obras, além de atender pessoas

com deficiências mais diversas.

No primeiro caso, por exemplo, são cada vez mais comuns os “tours táteis”, em que, sob a supervisão de guias ou mesmo de forma independente, os vistantes

são convidados a manipular originais ou reproduções de seus acervos. Entre as instituições que fazem isso está o Museu Americano de História Natural (AMNH),

em Nova York, que chegou a montar uma lista de todas atrações que o público pode tocar à vontade nos seus corredores.

Ainda no AMNH e no Metropolitan, também em Nova York, autistas, deficientes cognitivos e idosos com demência também já contam com visitas guiadas regulares,

com horários, formatação e acompanhamento especiais de acordo com suas necessidades, o mesmo acontecendo nas muitas instituições do Smithsonian espalhadas

por Washington.

fonte TÔ DENTRO!
o globo

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