sábado, 12 de agosto de 2017

Vida real: o dançarino que sonha voltar a ouvir

Caminhando juntos pela rua, mãe e filho mais parecem dois irmãos indo para a escola. Ela, com a mochila nas costas, calça jeans e tênis. Ele, de óculos

escuros, boné e casaco moletom. Dona Elinor Gonçalves e o filho, Guilherme, sempre cultivaram uma boa relação. “Conversamos sobre tudo e ele nunca me
causou problema”, conta a mãe. Doméstica por profissão, para poder trabalhar deixava o garoto todos os dias aos cuidados da avó, Teresa. Foi também na

convivência com a avó que ele aprendeu valores fundamentais. “Uma das coisas que ela me ensinou é tratar todas as pessoas com muito respeito”, diz.

Sempre muito educado e cercado de bons amigos, Guilherme foi se revelando uma liderança nas instituições de ensino em que passou. Na Escola Estadual Nossa

Senhora do Rosário, do Bairro Independência, por exemplo, liderou o Grêmio Estudantil, o que mais tarde o levaria a assumir também a União dos Estudantes

Santa-Cruzenses (Uesc). Enquanto ativista, participou de manifestações em favor dos professores, defendeu o direito das mulheres e mobilizou colegas de

escola para gritar contra a corrupção.

A maior de suas paixões, no entanto, sempre foi a dança. Com dez anos de idade já cantava e dançava pela sala de casa. Depois, na escola, incentivado pela

então professora Margaret Rodrigues, criou coreografias e desenvolveu seu próprio estilo. Foi como estudante do ensino médio que iniciou voluntariamente

oficinas de dança para um grupo de alunos surdos do educandário. “Sempre admiramos e apoiamos o trabalho dele. Embora não seja mais aluno da escola, ele

continua com a dança para surdos e ouvintes”, elogia a diretora, Gláucia Maria Etges.

O desfecho dessa história você pode conferir na carta que ele escreveu e que reproduzimos abaixo. Nela, revela seus sonhos, a superação apesar das limitações

e, especialmente, a possibilidade de resolver um problema que o acompanha desde a infância. Hoje com 25 anos, podemos atestar que o jovem Guilherme é daquelas

pessoas que realmente merecem o apoio de todos nós.
Foto: Lula Helfer

Carta de Guilherme

“Olá, estou escrevendo esta carta pra contar minha história de vida, da deficiência auditiva que adquiri e como interajo com ela na dança, dos anseios

e frustrações que tenho na vida e como imagino ser meu futuro. Meu maior sonho é ser um professor de dança. Também almejo casar e ter minha própria família,

adquirir meus próprios bens, ter meu estúdio de dança, viver da minha arte como profissional.

Aos 10 anos de idade comecei a ter chiados nos ouvidos e falei para minha mãe. Ela me levou ao médico, mas infelizmente, por avaliações equivocadas ou

incompletas não detectaram o problema e falaram estar tudo normal. E por ouvir sempre as mesmas explicações fui me acostumando. Com a maioridade fui procurar

emprego. Na empresa que fiz minha entrevista fiz teste de audiometria, e nesse exame fui diagnosticado com perda severa de audição em ambos os ouvidos.


Fiquei por anos em fila de espera para um atendimento com especialista, até me deparar com os problemas que todos nós deficientes auditivos nos deparamos:

o alto custo de um aparelho, que, no meu caso, ajudaria na condição da melhora auditiva. Estou cursando Educação Física na Universidade de Santa Cruz (Unisc),

colocando meus sonhos em prática, acreditando que sou capaz e que posso fazer a diferença na vida de muitas pessoas.

Amo ser professor, amo dançar, e se faço as coisas com amor acredito ser possível que os sonhos se tornem realidade. Com ajuda de um anjo chamado professora

Úrsula (Müller), e tomando ciência de minha condição, ela me levou em consultas e hoje tenho um aparelho para testes, de forma comodato, e que custa R$

15 mil. Peço a ajuda de pessoas como você, que está lendo essa mensagem e que também acredita como eu, na esperança e no amor, e assim eu consiga adquirir

este aparelho de forma definitiva”. Quem quiser colaborar com Guilherme é só acessar o
endereço no site Vakinha
ou fazer contato pelo telefone (51) 9 81613610.

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