sexta-feira, 23 de junho de 2017

Sistema permite que deficientes visuais andem sem usar bengala

Solução criada em instituto dos Estados Unidos permite que deficientes visuais substituam a bengala por um sistema de identificação de obstáculos acoplado

ao corpo. Nos testes, o mecanismo reduziu as colisões em até 86%
Imagem mostra pessoa fazendo percurso dentro de sala com o sistema acoplado ao corpo: segundo testes, a tecnologia reduz em até 86% o número de colisões

com outras pessoas em um salão movimentado
Um acessório muito usado pelos deficientes visuais para se locomover é a bengala. Prática de carregar e leve, ela acusa a presença de obstáculos e evita,

ao máximo, as colisões indesejadas. Não consegue, porém, identificar o que toca, uma mesa, uma cadeira ou outra pessoa, por exemplo.
Tentando resolver esse problema, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, pela sigla em inglês) criaram um sistema de orientação

que permite ao usuário andar em um ambiente interno sem usar a bengala. Pendurada no pescoço do deficiente visual, uma câmera 3D sonda a região à frente

dele, identificando obstáculos e o quão distantes estão. O usuário é, então, orientado sobre qual direção deve se locomover por meio de vibrações emitidas

por um cinto. No acessório, também fica presa uma tela em braile que ajuda no processo de locomoção.

Segundo testes, a tecnologia reduz em até 86% o número de colisões com outras pessoas em um salão movimentado, quando se compara deficientes visuais no

mesmo ambiente usando a bengala para se locomover. Além disso, ao procurar uma cadeira, os voluntários entraram em contato com 80% menos objetos indesejados

no percurso quando estavam com o novo dispositivo.
“Ter algo que não interferisse com os outros sentidos foi importante. Nós não queríamos usar áudio, não queríamos ter algo ao redor da cabeça ou vibrações

no pescoço. Testamos esses métodos com deficientes visuais, mas nenhum foi aceito”, diz Robert Katzschmann, um dos principais autores do artigo, apresentado

na Conferência Internacional de Robôs e Automação, em Cingapura, no início deste mês.

Algoritmo-chave
A câmera 3D é capaz de detectar profundidades, algo extremamente importante para a locomoção de um deficiente visual. A câmera fica na altura do peito

do usuário, dentro de uma bolsa de couro, que também guarda um pequeno computador. As imagens são processadas por um algoritmo também criado pelos pesquisadores

e considerado o elemento-chave do sistema. Ele organiza os pixels da filmagem em grupos de três. Se cinco grupos adjacentes estiverem em um ângulo menor

que 10 graus entre eles, ou seja, se esses grupos estiverem aproximadamente no mesmo plano, o programa conclui que formam uma mesma superfície.
O algoritmo não precisa necessariamente identificar o objeto, mas avisar ao usuário se ele estiver muito próximo. A facilidade para a movimentação do deficiente

visual vai além do caminhar. A solução avisa, por exemplo, a existência de uma cadeira vaga. Nesse caso, o algoritmo analisa uma determinada superfície

três vezes. Se ela for paralela ao chão e estiver em uma altura compatível com o tipo de móvel, ele avisa que há uma cadeira desocupada. Caso haja alguém

sentado, não identifica o objeto.
As informações são passadas para o usuário por dois aparelhos: um cinto com motores vibratórios e uma tela em braile. Quando o deficiente chega a menos

de dois metros de um objeto, o cinto vibra, indicando qual direção tomar para se desviar. Quanto menor a distância, mais forte é a vibração. “Nós descobrimos

que a área do corpo menos usada pelos outros sentidos fica ao redor do abdômen”, conta Robert. Já a tela em braile exibe símbolos, como a letra C para

cadeiras, e indica a direção e a proximidade de um obstáculo.

Aprendizagem
“A grande dificuldade é que o usuário precisa aprender a usar o dispositivo”, avalia Emerson Fachin-Martins, professor do Programa de Pós-Graduação em

Ciências e Tecnologias da Saúde da Universidade de Brasília (UnB). “Para usá-lo, a pessoa precisa saber braile. Não é todo cego que sabe braile. E precisa

saber usar os dispositivos vibratórios.” Segundo o especialista, muitos deficientes visuais preferem a bengala porque ela é muito mais simples de aprender

a usar do que os sistemas tecnológicos.
Por esse motivo, afirma Andréa Sonza, assessora de Ações Inclusivas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), os futuros usuários devem sempre

ser ouvidos nas pesquisas voltadas para a tecnologia assistiva. “Qualquer dispositivo feito em conjunto com as pessoas com deficiência é sempre importante.

Se elas aprovam, a pesquisa é válida”, argumenta. Sonza chama a atenção ainda para a quantidade de pessoas que podem ser beneficiadas com projetos nessa

linha: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,6% dos brasileiros (cerca de 9,3 milhões) têm deficiência visual, sendo que

o grau intenso ou muito intenso da limitação impossibilita 16% deles de realizarem atividades rotineiras, como ir ao trabalho e brincar.
Os pesquisadores do MIT realizaram diversos testes em que pessoas cegas percorreram labirintos e corredores e localizaram cadeiras vazias em uma sala usando

a nova solução. As tarefas foram executadas sem o auxílio da bengala. Porém, quando as duas alternativas foram usadas juntas, a velocidade e a confiança

dos deficientes foram bem maiores. “Parece ser algo viável”, avalia Andréa Sonza. “Quanto menor e mais fácil de carregar, melhor.”

Campos diversos
Criado em 1988, o termo tecnologia assistiva refere-se aos recursos e serviços que podem contribuir para proporcionar ou ampliar as habilidades de pessoas

com deficiência. Os recursos são variados, incluindo soluções como softwares e hardwares voltados para a acessibilidade e equipamentos de comunicação
e locomoção alternativa. Os serviços são geralmente multidisciplinares e envolvem áreas como medicina, psicologia, engenharia e computação.
fonte Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Postar um comentário