quarta-feira, 24 de julho de 2019

Uber se recusa a levar cega acompanhada de cão-guia — e policial dá razão ao motorista

Thays chamou a polícia para resolver a questão, mas o PM disse que a lei dos cães-guia é de 2005 e que naquela época não tinha nem aplicativo.
 Tatiana Farah
Repórter do BuzzFeed News, Brasil
 Thays e a labradora Sophie, de 3 anos.

Depois que um motorista de Uber se recusou a aceitar em seu carro Thays Martinez e a cadela-guia dela, a advogada chamou a polícia para fazer valer a lei

federal 11.126/2005, que assegura que cegos possam ficar com seus cães-guias em espaços públicos e meios de transporte. Em vão: o policial disse que o

motorista não era obrigado a nada, até porque a lei é de 2005 e o aplicativo nem existia.

Thays teve de descer do carro, na noite de última quarta-feira (17), e esperar em uma avenida de Santana, na zona norte de São Paulo, por outro motorista

que a levasse para casa.

Não foi a primeira vez que a advogada teve sua viagem negada por um motorista da Uber. "Já tinha acontecido comigo algumas vezes e é sempre muito desagradável.

Pego Uber todo dia e é sempre um estresse esperar para saber se o cão-guia vai poder embarcar sem problemas. E outras pessoas passam pelo mesmo problema",

disse ela.

Thays com seu cão Diesel, seu antigo cão-guia.

Thays disse que explicou ao motorista sobre a lei federal 11.126/2005. "Eu entrei no carro e conversei com o motorista. Ele disse: 'o carro é meu e não

vou levar'. Eu falei: 'vou chamar a polícia'. Daí veio a pior parte. O policial falou: 'mas ele não é obrigado a te levar'. O policial tinha toda uma tese

jurídica, afirmando ainda que a lei era de 2005 e naquela época nem existia aplicativo."

Thays prestou queixa do episódio na Defensoria Pública de São Paulo. Também anotou os dados do policial militar para denunciá-lo à Corregedoria da PM.


"Já é um absurdo um motorista de Uber não saber sobre a lei, mas um policial é ainda pior. Eu saí do carro. Ia chamar quem, já que o estado não cumpriu

o seu papel?", disse Thays.

Em 2000, quando o metrô de São Paulo negou que Thays entrasse no vagão com seu cão-guia Boris, a advogada foi à Justiça. Esperou até 2006 a decisão final

do Judiciário de garantir o acesso do cão aos vagões, mas, antes disso, obteve uma liminar que lhe garantia usar o transporte público. Em meio à polêmica,

o tema virou lei federal.

"A Uber precisa se comprometer em esclarecer seus motoristas. A gente tem uma inovação na economia, com novos modelos como essas startups, que acho muito

bem-vindos, mas isso não pode vir sem a responsabilização pelo serviço", disse.

A Uber afirmou que, caso se confirme a irregularidade, o motorista pode ser descredenciado pela empresa. No site da Uber, é esclarecido que os cães-guias

devem ser acomodados no veículo atendendo às leis de acessibilidade.

Já o código de conduta dos motoristas prevê que ele pode ser descredenciado caso haja com discriminação ou descumpra alguma lei. No último parágrafo é

específico em tratar de animais de serviço.

"Esperamos que os motoristas que usam o aplicativo Uber cumpram todas as leis federais, estaduais e municipais sobre transporte de usuários com necessidades

especiais, inclusive transporte de animais de serviço", afirma o texto.

Reprodução/Uber
Procurada pelo BuzzFeed News, a Polícia Militar ainda não se manifestou sobre o ocorrido.
Correção

Este texto foi corrigido no que diz respeito ao posicionamento da Uber. Na primeira versão, informava erroneamente que o transporte de cão-guia não era

expresso diretamente no código de conduta da empresa.

Tatiana Farah é Repórter do BuzzFeed e trabalha em São Paulo. Entre em contato com ela pelo email
tatiana.farah@buzzfeed.com.

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 fonte  newsbr

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