sábado, 17 de janeiro de 2015
Para-atleta brasileira é "cobaia" em tratamento contra doença rara
Foto de Verônica sorrindo no mar
Nadar 12 quilômetros em mar aberto com um braço só e sem movimentar as pernas, entrando para o
Guinness Book Site externo. ,
o livro dos recordes. Esse foi o feito conquistado na última segunda-feira (12) em Salvador por Verônica Almeida, para-atleta brasileira. Pode parecer
a maior superação de toda a sua vida, realizada em um único dia. No entanto, este último êxito na água salgada é "apenas" a mais recente vitória da baiana
de 39 anos.
Os triunfos à base da superação são mais antigos. A mãe de gêmeos é medalhista paraolímpica na natação classe S7 (para atletas com limitação motora e física)
e há oito anos trata de uma doença rara. A luta requer não só esforço, mas uma boa dose de coragem. O desafio encarado pela baiana é para poucos.
A vida da atleta mudou completamente em 2007, quando descobriu possuir uma doença rara, a Síndrome de Ehlers-Danlos, em que as células do corpo não conseguem
produzir colágeno (proteína que fortalece e une os tecidos do corpo). O médico deu apenas um ano de vida para Verônica, que encontrou na internet a única
esperança para viver: se candidatou a um tratamento experimental francês após longas buscas de informações.
Entenda a Síndrome de Ehlers-Danlos
Roberto Vital, médico do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro): "É uma patologia rara do tecido conjuntivo. As células não produzem colágeno suficiente,
resultando em deformações e luxações (deslocamento dos ossos) frequentes. Pode causar morte por complicações diversas, até cardiovasculares. Não há tratamento
no Brasil. Por aqui é comum se tratar conforme as luxações acontecem, com cirurgia, por exemplo. O único tratamento é experimental, na França."
"Eu entrei na internet quando o médico me deu um ano de vida e tentei uma solução. Preenchi uma ficha para um teste experimental e fui escolhida para compor
um grupo de 20 pessoas", contou Verônica, que atualmente não anda e não tem o movimento do braço direito.
Ser "cobaia" de testes que podem resultar até em morte assusta qualquer um. Não é diferente com Verônica e a família, mas foi justamente a partir desta
decisão que a rotina da para-atleta mudou para a melhor.
Desde 2007, ela passa todos os anos um período de 10 a 30 dias na França. "É muito difícil e assustador, mas a doença não tem cura e esse tratamento é
a única chance que tenho de fazê-la estabilizar. Nos primeiros anos, eu ia para França, passava um mês: 48 horas em coma induzido para fazer a aplicação
do medicamento, que eu desconheço qual é. Depois desse período eu ficava muito fraca, mas me recuperei e hoje estou com a doença estabilizada há cinco
anos", explicou a atleta, em tom de conquista.
A rotina é fechada pelos treinamentos de natação, em Minas Gerais. O esporte é o que começou por recomendação médica e no qual se destacou a ponto de ser
convocada pela seleção brasileira paraolímpica de natação. No Brasil, ela é atendida pelo médico do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Roberto Vital. "A
Verônica teve problemas nas articulações. Ela já operou o ombro e não deu resultado. O ombro sai do lugar e tem que colocar novamente, até com o uso de
anestesia", explicou.
Verônica é a única dos 20 candidatos ao experimento que ainda continua com o tratamento, com duração total de 10 anos. Perguntada por qual motivo os outros
desistiram, a baiana não entra em detalhes, mas lembra que o custo é alto e o período na França é muito doloroso. Ainda existe risco de morte, mas, segundo
a baiana, em proporção menor depois de superar oito anos de testes, sendo os últimos cinco com a doença estabilizada.
São necessários R$ 30 mil por ano para continuar o tratamento, que faz o nível de colágeno de Verônica subir, mantendo ela viva. Verônica paga o experimento
ano a ano com a ajuda de amigos e com o dinheiro de palestras motivacionais que dá contando sobre sua vida.
O período na França aumenta as chances da atleta de conseguir medalhas na seleção brasileira paraolímpica de natação. Na próxima semana, ela embarca para
mais um período de tratamento. O foco é continuar com êxito no experimento para conseguir subir ao pódio em 2016.
Em 2008, a baiana foi bronze na Paraolimpíada de Pequim, também foi bronze no Mundial da modalidade de 2010, mas não conseguiu subir ao pódio em Londres-2012,
ano que não conseguiu custear o tratamento. "Quando eu vou para França eu fico 20 dias muito fraca fisicamente. Mas quando não recebo o medicamento, eu
me sinto muito mais fraca e por isso nadei para sexto em 2012", relembrou.
"Minha vida é toda focada para 2016. Eu optei por fazer a travessia no mar agora em janeiro justamente porque estou de férias e não iria interferir nos
meus treinamentos. Estou desde Londres treinando", finalizou.
Fonte:
UOL Site externo.
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