terça-feira, 13 de maio de 2014

OLHOS DA ALMA: Conheça um pouco mais sobre a deficiência visual e ajude a transformar o mundo!!

por Daniela F. Kovács, Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Daniela F. Kovács NÃO VER, OU QUASE NADA VER A deficiência visual me ensinou a sentir o mundo de outra forma. Quando não se tem influência do externo, o mundo é mais seu. Ele não vem de fora para dentro, mas sim de dentro para fora. Aprendi a ver as pessoas sem aparência, sentir o vento, o cheiro das flores, ouvir o barulho das árvores. AGRAVAMENTO DA LIMITAÇÃO Tenho baixa visão, ou seja: enxergo pouco desde a infância, mas de uns anos para cá a doença se agravou. Foi muito difícil, mas é engraçado como o tempo modifica tudo. Hoje agradeço a Deus por eu ter piorado, pois, só assim, tive condições de aceitar a minha própria condição de pessoa com deficiência Foi com muito sofrimento que entendi que quando não nos aceitamos, vivemos num processo de constante agressão a nós mesmos. A piora me trouxe aceitação e também novas limitações. E para conseguir manter minha autonomia precisei buscar recursos de adaptação, são os chamados recursos de tecnologia assistiva. Trataremos deles. Também precisei do auxílio da bengala. Resgatar, assim, minha independência, que se perdia, mais e mais, a cada dia. Melhor que ter companhia, é perceber que ela tem de ser uma opção e não uma necessidade. TECNOLOGIA ASSISTIVA: RECURSOS QUE FACILITAM A NOSSA VIDA!! São recursos que nos capacitam, garantem independência e autonomia. Confesso que quando os descobri fui tomada por um sentimento de alívio, misturado com uma sensação de felicidade. Percebi que era possível ler ainda, era possível independência. Existem muitos produtos, lupas eletrônicas, com aumento de até quarenta vezes ou mais, telescópios para longe, ampliadores e leitores de tela para computador e celular... O engraçado é que minha primeira reação foi recusar o auxílio. Achava esquisito aquela tela gigante de computador, que nunca me acostumaria a ter de enxergar em quadrados e mover o mouse para poder ver o resto da tela que, por conta da ampliação, não cabia no monitor. E o telefone celular com leitor de tela então? Detestei aquele negócio que ficava falando num primeiro contato. As lupas eletrônicas analisei por quase um ano, em busca de uma que fosse capaz de ampliar uma folha inteira de uma vez só, até que entendi que isso não era possível, que eu precisava aceitar que tinha de ler mais devagar. Do telescópio não quis proximidade porque iria parecer um extraterrestre com aquilo nas ruas... Embora tenham passado por minha cabeça todos esses absurdos senti alívio por conhecer tais recursos. Apenas achava que eles ainda não eram para mim, que não precisava deles. O que é diferente assusta. Aceitar o auxílio estava intimamente ligado a aceitar a limitação. Como facilita a vida! Como cansa menos ler com letras enormes! Como é bom enxergar detalhes nunca antes vistos na lupa! Bom saber quem está ligando e conseguir consultar a agenda de telefones! Eu recomendo. Quanto mais for possível independência, melhor. VOCÊ SABIA?! Infelizmente, esses recursos são, em sua maioria, muito caros. Mas é importante dizer que: O Banco Bradesco oferece gratuitamente à pessoa física software leitor de telas para o computador: virtual vision e também software ampliador e/ou leitor de telas para o celular talks and zoom. Desta forma, a pessoa com deficiência visual consegue fazer parte do mundo digital, ouvir livros em formato acessível no seu computador, pesquisar na internet, escrever, ter acesso à informação. Além de ter autonomia para utilizar o telefone celular e falar, falar, falar, coisa que quem não vê gosta muito de fazer. Já repararam nisso? Quem é deficiente visual, normalmente, fala muito. Isso porque o som é a nossa forma de comunicação e interação com o mundo. Por favor, divulguem essa informação. Ela pode transformar a vida de muita gente sem custo algum. BASHER, O ANJO GUIA “Seus olhos, meu clarão. Me guiam dentro da escuridão. Seus pés me abrem o caminho. Eu sigo e nunca me sinto só. “ (Tribalistas, Velha Infância) Hoje graças ao Instituto IRIS, conto com o auxílio do Basher. E por mais que isso fosse algo que eu quisesse muito, eu não imaginava o quanto a minha vida mudaria. Aprendi que eu, que sempre recebi cuidados dos outros, conseguia cuidar muito bem do meu cão guia sozinha. Descobri que a partir daquele momento em que ele passou a fazer parte da minha vida, e eu chorei de felicidade, eu nunca mais me sentiria só. Porque o Basher e eu somos um. Passei a sentir realização, prazer, felicidade em caminhar com ele, ou melhor: em deixar que ele me levasse, guiasse, mostrasse o caminho. Um milhão de caminhos e possibilidades antes inimagináveis. Brincar com ele em suas horas de folga me fez resgatar algo que perdi quando deixei de ser criança. O prazer que se sente ao deitar, rolar no chão brincando. Com certeza, hoje sou ainda mais feliz. Isso sem falar dos muitos amigos novos que faço nas ruas todos os dias por causa do Basher. Ele aproxima as pessoas. E isso é maravilhoso. QUE TAL AJUDAR OUTRAS PESSOAS A TER ACESSO A ESSES ANJOS GUIAS?! O Brasil conta hoje com 6,5 MILHÕES de pessoas com deficiência visual segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso se considerarmos apenas aquelas que declaram não enxergar de forma alguma ou ter muita dificuldade para enxergar. Esses dados são preliminares e têm sido objeto de maiores estudos. Mas ainda que falássemos de um por cento, seriam 65 MIL pessoas com deficiência visual severa. Você sabe quantos cães guias temos aproximadamente no Brasil hoje? Oitenta. Apenas oitenta anjos cães guias. O Basher, já salvou a minha vida algumas vezes. Que tal ajudarmos a salvar a vida de outras pessoas com deficiência visual? O Instituto IRIS de Responsabilidade e Inclusão Social é uma organização sem fins lucrativos cuja principal finalidade é oferecer gratuitamente cães guias às pessoas com deficiência visual para facilitar sua orientação e mobilidade e garantir inclusão social. A fila de espera é grande. Faltam recursos, principalmente financeiros. Seja um voluntário, participe dos eventos de conscientização, apoie o projeto, compre uma camiseta linda e outros produtos do Instituto e ajude a transformar a vida de uma pessoa. Seja um sócio contribuinte uou um patrocinador deste projeto maravilhoso que dividiu minha vida em duas: antes e depois do Basher. Sua ajuda é fundamental para transformar a realidade das pessoas com deficiência visual em nosso país. Acesse: www.iris.org.br, conheça o projeto, contribua e faça a diferença!! VAIDADE A possibilidade de cegar já me fez perder a vaidade, pensava que se cegaria era porque o externo não tinha a menor importância. Hoje sei que ela é essencial, mesmo que não se consiga olhar no espelho. Imprescindível à auto-estima. Descobrir a possibilidade de me maquiar, mesmo sem enxergar me fez muito bem. Posso escolher minhas roupas, se não puder vê-las, sentirei, o tecido, o corte, perguntarei a cor. Vaidosa sim, e feliz. Aprendi a me cuidar de outra forma. CONSIGO O INIMAGINÁVEL: A LIBERDADE Na piscina me sinto livre. Dançando me realizo, conheço meu corpo, me supero, consigo o inimaginável: a liberdade. Descrição dos movimentos é essa a adaptação de que preciso. Convivendo com as diferenças o ser humano aprende que a deficiência não é causa de infelicidade, nem tampouco motivo para segregação. ANDAR DE BICICLETA SEM ENXERGAR?! É indescritível o sentimento que me toma quando ando de bicicleta. Talvez seja como se estremecesse de prazer, de felicidade. A liberdade de sentir o vento, as árvores, as outras pessoas se divertindo num dia bonito no parque. Não posso dirigir, é verdade, mas há aquelas para duas pessoas. LER SEM VER Não existe nada que goste tanto quanto ler. Quem sabe por conta da semelhança que a história escrita guarde com a cegueira. Pode-se imaginar os personagens, as cenas. Descobrir os livros falados foi um alívio e uma felicidade incrível. Ainda são poucos os títulos, mas é um começo. Acesse: www.audiolivroplus.com Conheça também o trabalho da Fundação Dorina Nowill, instituição sem fins lucrativos que disponibiliza, gratuitamente, às pessoas com deficiência visual: - Livros falados: são mais de dois mil e duzentos títulos disponíveis. O livro escolhido é encaminhado, por correio, sem custo algum, às pessoas com deficiência visual cadastradas na Biblioteca da Fundação. E caso você precise de um livro que não conste do acervo, ele será produzido. É só pedir. - Livros em braille: a produção desses livros atende a pessoas com deficiência visual, escolas, bibliotecas e associações. Eles são imprescindíveis na alfabetização da pessoa com deficiência visual, mas além de livros escolares e infantis, a Fundação também tem best cellers para aqueles que preferem ler em braille. - Livros em formato digital acessível: são os chamados livros daisy, produzidos a pedido, conforme a necessidade da pessoa com deficiência visual. É possível solicitar livros acadêmicos, ou seja: para estudo universitário, de extensão e formação continuada e também livros necessários para o trabalho. Conta com audiodescrição das figuras e possibilita fazer anotações. São importantíssimos, pense como seria difícil procurar uma palavra no dicionário num livro falado ou em braille. Além de tudo isso, os livros digitais podem ser solicitados em inglês ou espanhol. Acesse: www.fundaçcaodorina.org.br ou ligue: (11) 5087-0991. VER COM PALAVRAS As legendas dos filmes nunca consegui ler a tempo, correm tão rápido. Ou se presta atenção nelas, ou no filme. Não consigo mais enxergar a tela do cinema, fica tudo tão escuro. Já me chateou. Hoje sei que é importante não deixar de fazer as coisas porque não enxergo. Graças a Deus, além da dublagem dos filmes, atualmente, contamos com a audiodescrição em alguns filmes, óperas, teatros,espetáculos de dança, exposições, museus e até em casamentos!! Assisti à primeira de muitas peças de teatro com audiodescrição. É difícil encontrar palavras capazes de descrever a felicidade que senti. Só então percebi o quanto perdia dos espetáculos. Audiodescrever é contar com palavras, para aquele que não vê, ou pouco vê, aquilo que é visual na atividade cultural. No teatro, por exemplo, será audiodescrito o cenário, a movimentação e a expressão física dos personagens, o figurino etc. Essa descrição é feita entre as falas dos atores por profissionais habilitados e a pessoa com deficiência usa um fone para não atrapalhar os demais expectadores. É como se, naquele momento, as diferenças entre deficientes e não deficientes deixassem de existir. Quem sabe seja esse o verdadeiro sentido da palavra inclusão, ser igual, sujeito dos mesmos direitos, direito de entender o que está acontecendo, direito de ter acesso ao lazer, à cultura, direito de não precisar perguntar a ninguém o que está se passando na peça, direito de não enxergar!! Experimente assistir a um filme de olhos fechados. Entenderá o que quero dizer, tenho certeza. Saiba mais em: www.vercompalavras.com.br/blog. Lá você terá acesso à programação, prestigie os eventos com audiodescrição, nossa participação é fundamental para que esse direito seja visto como necessário. A POESIA Talvez meus olhos morram. Desisti de pensar como será. Foi importante: mitigou o desespero, se pode ser tão ou mais feliz. Aceitar, sem preconceito ou sofrimento. Pouco importa a reação do outro. Tanta ajuda surgiu, a bondade também pode surpreender, ainda hoje. A bengala: mais amigos e segurança, essencial à independência que se perdia. A cegueira. Eu, tão cética à época, pedi, mais tempo. E tive o que queria. Minha visão ficou pouco a pouco, mais nítida. Também tive medo e pena. Meu futuro que até então se afigurava tão promissor... Será que o esforço era mesmo para mim? A progressão bate à porta para avisar dos limites. Sábias palavras: inclusão e integração. A doença, processo natural. Sim, vejo pouco, não vi, pouco importa. A dificuldade me torna melhor. Essa é palavra certa? Palavras, palavras, às vezes me sinto num turbilhão delas. Necessidade de memorizar o que não se vê? Sabe, é bom ver as pessoas sem aparência. Eu já quis guardar o pôr-do-sol. Talvez o externo não tenha mesmo importância, ou tenha... Não tenho mais medo. A troca é fundamental. Somos felizes. Sim, meus olhos podem cegar, e daí? Eu tenho o Basher, meu cão guia. E tenho Deus dentro de mim. LIVRO Essa e outras poesias você pode ler ou ouvir no meu livro. Ele fala sobre mim e sobre parte de mim, o Basher, meu cão guia, que de forma bem humorada e divertida colabora comigo também na redação e conta sobre sua “vida de cão” guia. Somos um. Sinto como se ele fizesse parte de mim. E minha outra parte, que sou eu mesma, diz como cheguei até ele. A perda da visão, o aprendizado que ela trouxe, o trabalho pela inclusão de pessoas com deficiência. Fala também sobre a cegueira. O medo do escuro e a força que me ajuda a conquistar o impossível: a liberdade. Conto, ainda, da importância da vaidade mesmo sem enxergar o espelho. E a lição de amor incondicional que esse anjo que é o Basher me ensinou. Além de histórias engraçadas do cotidiano. Feche os olhos e imagine não se ver. Será que o externo não perderia a importância para você? Vamos descobrir juntos? Lançamento em breve!! ¤ fonte:rede saci

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