sábado, 31 de maio de 2014

A leitura em braile e os audiolivros

Uma cena quase rara em São Paulo é ver dezenas de pessoas, em sua maioria jovens, lendo e estudando em um lugar público que não seja uma biblioteca. Comentário SACI: "É necessário esclarecer que o termo correto ao se referir a alguém com deficiência é pessoa com deficiência e não “pessoa portadora de deficiência”. Essa revisão do termo “portador” para pessoa com deficiência já havia ganhado muita força em 2006, com a promulgação da Declaração dos Direitos Humanos Fundamentais das Pessoas com deficiência da Organização das Nações Unidas ratificada no Brasil em 2008. Por fim, no dia 03 de novembro de 2010 foi publicada a Portaria n. 2.344 da Secretária de Direitos Humanos da Presidência da República que regularizou oficialmente as terminologias legais aplicadas as leis sobre a matéria, instituindo legalmente o termo Pessoas com Deficiência abolindo de vez o termo portador de deficiência." de Eduardo Martins de Miranda, Advogado - OAB/BA 36.757 Roney Cytrynowicz Uma cena quase rara em São Paulo é ver dezenas de pessoas, em sua maioria jovens, lendo e estudando em um lugar público que não seja uma biblioteca. Esta cena é parte da rotina do Centro Cultural São Paulo (CCSP), mais conhecido como “Centro Cultural Vergueiro”, certamente um dos espaços mais atraentes para a leitura na cidade, além da programação sempre interessante de eventos, teatro, shows e artes plásticas. Na ampla e confortável “Praça das Bibliotecas” e em dezenas de outros espaços com mesas e cadeiras é possível ver todos os dias, mas especialmente nos finais de semana, jovens sentados sozinhos ou em grupos com mesas cheias de livros. Dentro do andar inteiro ultra organizado e confortável dedicado às bibliotecas do CCSP (Bibliotecas Sergio Milliet, Alfredo Volpi e Gibiteca Henfil, além de um espaço parta crianças) situa-se a Biblioteca Louis Braille, que mantém um acervo de mais de cinco mil livros em braile, em sua maioria de literatura, entre romances, ficção, poesias, mas também de assuntos variados e para públicos diversos - além de livros didáticos. O acervo de audiolivros, por sua vez, conta com 1.050 títulos, principalmente de literatura. A própria biblioteca produz os livros em braile e os gravados. Para isso, conta com a colaboração de 55 voluntários em diversas funções. Em um mundo virtual e com a opção dos audiolivros, qual é a importância da leitura em escrita braile para os portadores de deficiência visual/cegos? Conforme Mariangela Paganini, presidente da Associação Amigos da Biblioteca Louis Braille, e Maria Helena Chenque, bibliotecária da BLB há 28 anos, “ler em braile permite melhor assimilação do texto, pois assim, tateando, a palavra fixa melhor na memória. O que para os videntes, funciona com a visualização o deficiente visual deve ler em braile também para aprender e assimilar a escrita, a ortografia correta”. Como entender a diferença da experiência da leitura entre ler em alfabeto braile e ouvir um audiolivro? O audiolivro é indicado quando se opta por ler um romance, uma ficção, é uma leitura que, segundo Maria Helena, depois de ouvida, resta a lembrança do que você ouviu, mas você perdeu-se a oportunidade de aprender a ortografia de novas palavras. Isso é ainda mais relevante uma vez que, conforme Mariangela: “Como ledora voluntária há cerca de quatro anos, posso afirmar que é muito importante termos em mãos livros com excelente qualidade gramatical senão a leitura também não dará certo. Alguns ledores podem até perceber que há erro e regravar o trecho, mas nem todos têm esse tino, então, conforme a Chenque, também nos audiolivros acontecem ‘erros de leitura’. E nós sabemos que uma vírgula mal colocada pode mudar todo o sentido de uma frase.” Os livros em braile ou gravados são réplicas dos produzidos em tinta, explica Mariangela; poesias seguem suas métricas e os demais formatos também, mas há variações entre os ledores que gravam as obras: “Porém, o ouvinte de livros ou revistas talvez possa apreciar mais um ledor do que outro pelo tipo de expressão. Para a leitura de uma revista, talvez até nem seja tão necessário um colorido na forma de ler. Já um livro de poesia ou mesmo um belo romance, ou um policial, um livro com emoções ou suspense, um colorido na voz tornará a audição bem mais agradável. É, para nós, como se víssemos um filme em que todos os personagens falassem linearmente, um cantochão, sem expressão. Imagine uma leitura sem uma exclamação bem colocada ou uma interrogação, ou sem deixar distinto um diálogo.” A Biblioteca Louis Braille também mantém um acervo de livros didáticos, mas como a cada ano as escolas podem mudar os títulos, é difícil manter um acervo sempre atualizado e que atenda a todas as necessidades. “Eu pessoalmente já gravei um material para uma usuária da biblioteca que estava fazendo faculdade de psicologia e retirei alguns livros de ensino médio para minha filha, mas não é possível manter atualizado com o material do ano”, conta Mariangela. A Biblioteca tem três computadores com software ledor de tela e internet para uso dos associados. Para auxiliar na leitura, possui uma lupa eletrônica, que amplia textos para os portadores de baixa visão – o que permite ter acesso também ao acervo da Biblioteca Sergio Milliet. Entre seus serviços, a BLB envia livros pelo correio através do Cecograma, um acordo internacional de envio de correspondência em braile pelo correio gratuitamente, incluindo livros. O objetivo da biblioteca é oferecer mais, tanto para seus usuários como para qualquer frequentador do CCSP. Por isso, foi criada em 1989 a Sociedade Amigos da Biblioteca Braille (SABB), que promove atividades tais como visitas culturais, seminários, debates, ciclos de palestras, cursos, conferências, exposições, espetáculos artísticos e lançamentos de livros. Com a fundação da Sociedade foi possível criar um fundo de reserva que permite a imediata realização de consertos de equipamentos, a compra de alguns materiais, de computadores para os usuários e realizar atividades para seus usuários. Mariangela conta que “estamos tentando firmar parcerias com empresas que possam nos apoiar em atividades, como, por exemplo, a 1ª Gincana Cultural Louis Braille que será realizada no segundo semestre. Também pensamos em promover curso de braile dentro da biblioteca, mas para isso precisaríamos pagar a um professor; saraus de leitura em braile, neste caso, apenas para que o cego possa se soltar mais, conseguir mais desenvoltura diante de um público. Todo e qualquer apoio será sempre bem-vindo. Temos muitas ideias e projetos, mas sem verbas não se vai muito longe.” Além desta biblioteca, atualmente existem sete acervos para cegos dentro das bibliotecas públicas municipais, e existe também a Biblioteca São Paulo, estadual, no Parque da Juventude, no Carandiru (com um acervo de audiolivros). A Biblioteca Louis Braille foi transferida para o CCSP em 1986; fundada em 1947 e com ênfase em literatura para crianças, seu acervo pertencia à Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato. Conhecer e apoiar estas bibliotecas, acervos e projetos é certamente uma tarefa prioritária dos que trabalham com o livro e a leitura. font:Publish News

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