sábado, 16 de fevereiro de 2019

Audiodescrição amplia acesso ,à produções de TV e cinema

Audiodescrição permite que deficientes visuais tenham acesso à arte com muito mais informação; acima, eles aplaudem o fim do concerto “80 Vozes”, no auditório

do Masp, em SP - Divulgação / Raoni Reis
Assistir a um filme no cinema – ou em casa mesmo –, uma peça de teatro ou visitar uma exposição de arte são opções de entretenimento que estão na agenda

de grande parcela da população. Porém, há um contingente que, não fosse a técnica da audiodescrição, estaria privado do acesso a estes bens culturais diários.

Este recurso da audiodescrição, previsto em lei federal, tem o difícil desafio de colocar em áudio todos os detalhes do que é visto em um filme, peça teatral

ou mesmo ao descrever uma obra de arte, para que deficientes visuais tenham acesso à informação.

“Trata-se de um recurso muito importante para a autonomia e independência do deficiente visual, pois permite a compreensão muito mais ampla do conteúdo

apresentado. Ele passa a ter acesso à arte, à informação. E, quanto mais a gente estuda e pesquisa, percebe as possibilidades de outros usos”, explica

Lívia Motta, doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC de São Paulo e uma das mais importantes especialistas nesta técnica no Brasil.

Lívia realizou a primeira audiodescrição no teatro, descrevendo as cenas, gestos, expressões, cores e movimentos que deram à pessoa com deficiência visual

acesso às informações com riqueza de detalhes.

Segundo ela, outras pessoas também são beneficiadas. “O público-alvo é o deficiente visual, porém, autistas, deficientes intelectuais, idosos, entre outros,

também se beneficiam”.

A acessibilidade para deficientes visuais e auditivos nas salas de cinema está prevista na Lei 13.146/2015, que criou o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

A lei fixou um prazo máximo de quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2016, para que as salas de cinema brasileiras ofereçam, em todas as sessões, recursos

de acessibilidade para pessoas com deficiência. Porém, são poucas as salas Brasil afora que disponibilizam o recurso. Na televisão, desde 2011, o recurso

é oferecido por algumas emissoras.

Para Lívia Motta, a técnica de audiodescrição vai muito além do uso apenas no entretenimento. “Há necessidade do uso na escola como ferramenta pedagógica,

que contribui para ampliar os conhecimentos do mundo, não só pelos deficientes visuais, mas para os que enxergam também, já que amplia muito o próprio

senso de observação. Os que enxergam não obrigatoriamente prestam atenção em todos os elementos do que é visualizado”.

NA PRÁTICA

Para confirmar a extensão do alcance da audiodescrição, basta conhecer a opinião de quem realmente necessita dela. “Ao assistir a um filme, por exemplo,

é fantástico. Você consegue aproveitar muito mais do conteúdo do texto. Muitas vezes, num filme, aparecem apenas imagens, a trilha sonora, sem diálogo.

E, quando vem a audiodescrição, ela preenche este vazio que a gente não entende no decorrer do filme. É uma sensação muito boa”, descreve Telma Nantes

de Matos, deficiente visual, coordenadora geral e diretora do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florisvaldo Vargas (Ismac).

Segundo Telma, a Organização Nacional de Cegos do Brasil tem acompanhado a efetivação da garantia deste direito, que tem sido protelado pelos responsáveis

pela audiodescrição. “É muito importante proporcionar este tipo de acesso. Temos legislações que garantem que a TV e o cinema promovam esta acessibilidade,

mas, infelizmente, não há muitas ações. A audiodescrição é discutida em todo o mundo, foi discutida na convenção da ONU e em vários outros espaços, pois

é um direito que nós temos”, acrescenta a coordenadora do Ismac.

Como audiodescritora formada, a agente pedagógica e coordenadora do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP-DV) de Campo Grande, Maria Cândida

Abes, diz que a audiodescrição é um aprendizado de mão dupla. “Ela abre possibilidades para o deficiente visual, analfabetos funcionais, pessoas com formação

acadêmica com dificuldade, deficientes intelectuais. Para mim, como audiodescritora, além da maior possibilidade de promover a inclusão social, também

o meu repertório linguístico e meu vocabulário ampliam totalmente, além do conhecimento em várias disciplinas, como história, arquitetura, ciências etc”.


OFICINA
De hoje até quinta-feira, das 14h às 16h30min e das 17h às 19h30min, a doutora Lívia Motta (SP) ministra a oficina “Introdução à Audiodescrição”. Será

um encontro de 15 horas, com uma das mais representativas profissionais do Brasil na área, que apresentará e discutirá o uso da audiodescrição em diversos

eventos, espetáculos e produtos audiovisuais. Haverá atividades teóricas e práticas de forma a preparar o espaço e produtores culturais para apresentações

acessíveis. A inscrição é gratuita, mas é preciso ter cartão Sesc válido. Serão disponibilizadas 30 vagas e a capacitação ocorrerá na Sala de Música.

Na quinta-feira (14), às 15h, haverá sessão do Cine Sesc acessível, com audiodescrição e libras do longa “O Menino no Espelho” (2014). Avenida Afonso Pena,

2.270.
fonte Correio do Estado

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