terça-feira, 16 de agosto de 2016
Dificuldades financeiras e jurídicas criam temor de Paralimpíada 'esvaziada' no RIO
Problemas financeiros e jurídicos têm criado o temor de que a Paralimpíada do Rio de Janeiro, que começa em 7 de setembro, possa ser uma versão “esvaziada”
da maior festa do esporte para as pessoas com deficiência.
A preocupação existe entre os dirigentes do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na singla em inglês), que nos últimos dias tiveram reuniões de emergência
com o Comitê Organizador da Rio 2016 e autoridades brasileiras para discutir uma saída.
O problema principal é de caixa. A começar pela baixa venda de ingressos para a Paralimpíada – segundo números oficiais, apenas 31% das entradas disponíveis
foram vendidas, um total que levaria em conta 500 mil delas compradas pela Prefeitura do Rio para serem distribuídas em escolas da rede municipal.
Isso provocou um encurtamento de receitas projetadas, o que foi agravado por problemas de infraestrutura da Olimpíada, especificamente os reparos de emergência
nos prédios da Vila dos Atletas.
A competição também não escapou de ser afetada pelo aperto de cintos no orçamento olímpico anunciado em janeiro pela Rio 2016, em que houve cortes de custos
sob a forma da redução no número de voluntários e no uso de veículos oficiais, por exemplo.
A Rio 2016 já anunciou novas reduções para os Jogos Paralímpicos, embora negue que as medidas “afetarão a experiência dos atletas”, o que, a princípio,
descarta cortes no número de provas e eventos.
Ajudas de custo
O problema é que o esporte paraolímpico é bem mais sensível que o olímpico a mudanças orçamentárias: delegações, por exemplo, dependem de ajuda de custo
para viagens e esse montante ainda não foi pago pela Rio 2016 para uma série de associações nacionais – um total estimado em mais de R$ 24 milhões.
Especula-se que pelo menos 60 delegações poderiam ter problemas para participar dos Jogos caso o pagamento não seja feito.
A BBC Brasil apurou que o problema tornou delicado o clima entre o IPC e a Rio 2016. O movimento paralímpico teme que um evento esvaziado e que a publicidade
negativa já gerada pelos problemas represente um passo para trás nos progressos feitos pelo esporte para pessoas com deficiência, depois do sucesso da
Paralimpíada de Londres.
O evento de quatro anos atrás foi considerado o mais bem-sucedido de todos os tempos, com arenas lotadas e amplo interesse da mídia.
“O sucesso de Londres colocou pressão sobre o Rio, e o movimento paralímpico esperava uma evolução (para esta Paralimpíada). Há uma preocupação muito grande
com a baixa venda de ingressos e a estratégia da Rio 2016 para o evento. O que é uma pena, porque em termos de instalações e infraestrutura para atletas
e público as coisas parecem estar bem”, disse à BBC Brasil uma fonte ligada ao IPC.
O IPC também sente que a Paralimpíada está sendo negligenciada pela Rio 2016.
Em um briefing de imprensa realizado no domingo, o diretor de comunicações da Rio 2016, Mário Andrada, disse que a verba de viagem seria paga até sexta-feira.
Ele admitiu que o comitê precisa de ajuda financeira.
“Estamos falando de um planejamento fluido, que depende de negociações de patrocínio, venda de ingressos. Mas para o nível de serviço que queremos oferecer
na Paralimpíada, hoje vamos precisar de uma ajuda financeira. Ela pode ser reduzida ou anulada amanhã, porque há uma série de elementos em um evento desta
magnitude. Estamos negociando com patrocinadores e autoridades. Todo dinheiro que entrar vai ser aplicado nos Jogos”, afirmou Andrada.
Recursos públicos
Na semana passada, tanto o governo federal quanto o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciaram a intenção de injetar um montante de verbas públicas no orçamento
olímpico, que poderiam ultrapassar R$ 300 milhões. No entanto, na sexta-feira a Justiça Federal do Rio determinou que União e poder municipal não repassem
recursos até que a Rio 2016 abra suas contas, além de também aplicar multa de R$ 100 mil por dia caso recursos já aportados sejam usados pelo comitê.
A Rio 2016 tenta desde o início de segunda-feira derrubar a liminar.
A polêmica com o uso de verbas públicas já vinha desde antes da liminar, porém. Em ano de eleições municipais, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio
de Janeiro vetou a distribuição dos ingressos, decretando que a própria compra poderia constituir uso da máquina pública com fins de campanha.
“Os cortes que a gente tiver que fazer nos Jogos Paralímpicos para manter o orçamento equilibrado a gente vai fazer sem sacrificar a qualidade da experiência
paralímpica e sem sacrificar nada que reflita nos atletas e na qualidade da recepção que se dará a eles”, disse Andrada.
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