quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Mercado de trabalho formal em AL conta com apenas três mil deficientes

Estado possui mais de 859 mil pessoas com deficiências, diz IBGE. Questões culturais atrapalham a aplicação da Lei de Cotas, diz MTE. Wadson Costa Com uma população de 859.515 pessoas com deficiência, o que corresponde a 27,54% da população do estado, segundo informações do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Alagoas possui uma média de apenas 3 mil trabalhadores deficientes no mercado de trabalho formal. A informação é do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), órgão do governo federal que fiscaliza o cumprimento da Lei de Cotas e acompanha a inclusão de Pessoas Com Deficiência (PCD) no mercado de trabalho. Diante da disparidade entre o número de pessoas com algum tipo de deficiência – motora, visual, intelectual e auditiva – e a ocupação no mercado de trabalho formal, há, segundo o auditor fiscal do Ministério do Trabalho em Alagoas, Leandro Carvalho, questões sociais, culturais e econômicas sérias que envolvem os integrantes das duas pontas da relação de trabalho. Para Carvalho, a maioria dos deficientes, por motivos diversos, opta pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC) em detrimento do contrato e compromisso profissional. Já as empresas, na maioria das vezes por despreparo e até mesmo preconceito, alegam incapacidade estrutural para contratar e manter no quadro pessoas com deficiências. “Por isso, em 1991, foi instituído no país a Lei de Cotas, para assegurar e incentivar a presença de pessoas com deficiências no mercado de trabalho. Nela estão expostos termos que vão desde o número mínimo de colaboradores com deficiência, a questões de capacitação e reinserção de pessoas que sofreram algum tipo de acidente e ficaram com sequelas que impõem algum tipo de limitação”, explica Leandro Carvalho. Ao citar um dos artigos da Lei 8.231/91, que evidencia que cabe ao setor público e privado manter condições, com critérios de igualdade, para incluir no mercado de trabalho as pessoas com deficiência, Leandro Carvalho expõe que a política pública é necessária porque qualquer pessoa está passível de lesão dentro ou fora do ambiente de trabalho, passando a integrar o grupo de PCD. “O que a lei garante é que essas pessoas, com deficiência congênita ou adquirida, possam trabalhar, produzindo e contribuindo de forma direta para sociedade. E isso é feito porque é algo favorável para o estado, para a economia, as empresas e também para as pessoas com deficiência. No entanto, diversos fatores, que vão desde a escolaridade do deficiente ao empenho das empresas em adequar o local de trabalho para recebê-los, podem resultar em entraves”, conta. E é exatamente o conjunto destes entraves que vem deixando o mecânico automotivo Valter Gomes da Silva, 39, afastado do mercado de trabalho. Paraplégico desde os dois anos de idade após uma poliomielite, ele conta que a visão do empregador pode mudar entre a avaliação do currículo e o encontro presencial. "É interessante a abordagem feita pelo telefone, quando avaliam meu currículo, e depois da entrevista. Vejo muitas vezes que a expressão das pessoas mudam quando veem que sou cadeirante. Tento explicar o que já tá dito, que tenho formação em mecânica, já trabalhei em oficina e sou capaz de exercer a função. No entanto, a resposta costumar ser a mesma: 'aguarde que vamos ligar', algo que não acontece”, diz Valter ao lamentar o que ele denomina como “preconceito contra o deficiente”. “Neste momento, vejo que o que conta não é capacidade de executar o trabalho. Mas sim, o preconceito das pessoas, que embarreiram a oportunidade pelo simples fato do outro ter uma limitação, no meu caso, por conta da cadeira de roda”, completa. O analista em Tecnologia da Informação, Douglas Rodrigues, 26, que é cego, enfrenta a mesma dificuldade em se inserir no mercado de trabalho. Segundo ele, muitas vezes o deficiente não é visto como profissional. “Necessitamos de oportunidades. Não somente porque a lei obriga, mas porque somos capazes de fazer. Se temos capacitação, podemos responder ao trabalho como qualquer outra pessoa”, acrescenta. Com um pouco mais de sorte, os surdos Joseildo Miranda, 39, e Kirlla Daniella, 28, conseguiram colocação no mercado de trabalho dentro de uma empresa que busca eliminar as barreiras para as pessoas com deficiência. Ele é instrutor no curso de Costura do Serviço Nacional de Aprendizagem Alagoas (Senai-AL), ela, estagiária no mesmo setor. Em comum, o desafio da comunicação e de ensinar e profissionalizar pessoas sem deficiência. “As pessoas precisam saber que o deficiente não é inferior a ninguém. Ele possui apenas algum tipo de limitação. No entanto, com estímulo e dedicação a pessoa com deficiência pode levar uma vida normal. Trabalhar em algo que exija outros sentidos”, diz Joseildo Miranda, que para a entrevista, assim como nas aulas, conta com o auxílio de uma intérprete de libras (Língua Brasileira de Sinais) para se comunicar. E quando a barreira é vencida, a satisfação se transforma em motivação na busca de novas realizações. É o que explica Kirlla Daniella, que como estagiária vem construindo seu lugar no mercado de trabalho. “Todo mundo quer se sentir útil e ser valorizado no mercado de trabalho. As pessoas com deficiência também. Assim, mesmo que as barreiras sejam diversas é necessário enfrentá-las. Pois ter uma limitação não incapacita ninguém para a vida ou para o trabalho. Nosso exemplo é a prova disso”, relata. fonte:g1

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