quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Fotógrafos com deficiência visual mostram trabalhos no Memorial da Inclusão

A exposição "Não Vi" traz trabalhos de sete fotógrafos cegos. Comentário SACI: "É necessário esclarecer que o termo correto ao se referir a alguém com deficiência é pessoa com deficiência e não “pessoa portadora de deficiência”. Essa revisão do termo “portador” para pessoa com deficiência já havia ganhado muita força em 2006, com a promulgação da Declaração dos Direitos Humanos Fundamentais das Pessoas com deficiência da Organização das Nações Unidas ratificada no Brasil em 2008. Por fim, no dia 03 de novembro de 2010 foi publicada a Portaria n. 2.344 da Secretária de Direitos Humanos da Presidência da República que regularizou oficialmente as terminologias legais aplicadas as leis sobre a matéria, instituindo legalmente o termo Pessoas com Deficiência abolindo de vez o termo portador de deficiência." de Eduardo Martins de Miranda, Advogado - OAB/BA 36.757 Fernanda Cruz A fotografia produzida na estação de metrô do bairro do Capão Redondo, periferia da zona sul da capital paulista, tem foco em um único ponto: o piso tátil que guia os deficientes visuais. Ao mesmo tempo, a imagem desfoca no primeiro plano a pessoa que caminha com o auxílio de uma bengala. Atrás estão a cidade e todas as suas cores. O autor da foto é Josias Ângelo da Silva Neto, estudante de filosofia, 30 anos. Ele perdeu totalmente a visão há sete anos por um descolamento da retina, mas isso não o impede de registrar cenas urbanas como essa. “Você não precisa só da visão para fotografar. O essencial é habilitar as suas percepções. Eu não enxergo, mas habilitei as percepções por meio do som, do tato, do cheiro. Então, você usa esses recursos”, explica. A imagem registrada no Capão Redondo pode ser vista no Memorial da Inclusão, na Barra Funda, até 27 de novembro, como parte da exposição Não Vi, que traz também trabalhos de mais sete fotógrafos cegos. O tema da exposição é acessibilidade. Josias utiliza uma câmera profissional Reflex e define seu trabalho como conceitual. “Eu tenho uma visão mais conceitual de fotografia, então procuro ir a lugares onde há menos atenção na cidade. Ali, você encontra uma riqueza de informações, de culturas. É muito interessante trabalhar isso nas periferias, em cidades interioranas”, disse. Para a foto da exposição, Josias foi avisado de que um deficiente visual vinha caminhando pelo piso tátil. “Eu posicionei a câmera, usei a técnica de abrir um pouco o diafragma e dei uma puxada no zoom na hora de fotografar. Eu fiz esse desfoque justamente representando a dificuldade da visão não só do portador de deficiência, mas também das questões políticas e sociais a respeito da ideia que se tem sobre a pessoa com deficiência”. O fotógrafo João Kulcsár foi quem reuniu o trabalho dos fotógrafos, alunos do curso do Centro Universitário Senac, para a exposição. “Eu trabalho em um projeto chamado alfabetização visual. A ideia é usar a fotografia como ferramenta para a leitura crítica do mundo, a construção da imagem, essa cultura visual. Já trabalhamos com deficientes auditivos também. A diversidade enriquece, com cada público você aprende alguma coisa”, destacou. Desde 2008, o professor Kulcsár, que não tem deficiência, aprende com seus alunos a desenvolver os outros sentidos – a audição, o tato e o olfato – na hora de fotografar. “Considerando que 75% da nossa percepção são visuais, ela inibe, às vezes, os outros sentidos. E para o fotógrafo, é importante, quando ele documenta a cena, pensar também nos outros sentidos”. Na prática, os alunos aprendem a fotografar de maneira semelhante, mas cada um aprimora a sua técnica. “Nós aprendemos a colocar a câmera embaixo do queixo, ou na altura do peito ou embaixo do nariz. Sempre com o braço encostado ao corpo, porque o equilíbrio da pessoa com deficiência visual não é muito bom. Então, treme bastante. Com essa técnica inicial, você ganha confiança”, explicou Josias. Para Kulcsár, mais importante do que dizer como as fotografias são produzidas é explicar porque elas são importantes para os seus alunos. “O deficiente visual quer parar de se sentir invisível na sociedade. Os deficientes visuais querem se expressar. Eles podem fazer tudo, inclusive fotografar”. Leonardo Sinhão Lima, estudante de 15 anos, que visitou a exposição compreendeu a ideia. “Por que a pessoa com deficiência não pode fazer o que quer? Ela pode sim, tudo o que ela quiser. Vou poder aprender bastante aqui [no memorial] e passar o conhecimento para outras pessoas que nunca vieram”. Stefani Rodrigues da Silva, estudante de 14 anos, concorda que a visita ao Memorial ajuda a criar um momento de reflexão sobre a inclusão. “A gente tem que se importar também com as pessoas que têm deficiências, como os exemplos que vemos hoje. Tenho um primo que é surdo e mudo. Desde pequeno, ele estudou em escolas especiais e já sabe ler lábios. Eu converso bastante com ele”, contou. Segundo a curadora do Memorial da Inclusão, Elza Ambrosio, tanto o público sem deficiência, como o Leonardo e a Stefani, quanto aquele com algum tipo de deficiência, podem se encantar com as atrações do espaço. “O objetivo é falar do movimento social da pessoa com deficiência. Aqui, ele foi pensando em desenho universal, então todas as pessoas que entram no Memorial da Inclusão são, de fato, bem-vindas”. O espaço traz nova exposição todo mês e mantém uma mostra permanente com 11 painéis, tratando das deficiências auditiva, visual, intelectual e física. O memorial é dividido pelas alas da comunicação, legislação, direitos da pessoa com deficiência, além da sala de sentidos, onde o visitante sente na pele como é viver sem enxergar. O Memorial da Inclusão funciona de segunda a sexta, das 10h às 17h, e está localizado na Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564, na capital paulista. A entrada é gratuita e as visitas de grupos podem ser agendadas pelo telefone (11) 5212-3727. Editora: Graça Adjuto ¤ --- Este email está limpo de vírus e malwares porque a proteção do avast! Antivírus está ativa. http://www.avast.com fonte:memorial da inclusao

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