quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Em Florianópolis, neurocientista 'da Copa' fala da função social da ciência

Miguel Nicolelis foi o responsável por coordenar o projeto 'Walk Again'. Ele é fundador de escolas de neurociências em comunidades carentes. da Redação O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, responsável pela demonstração na cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, em São Paulo, em que um tetraplégico deu o primeiro chute do mundial com a ajuda de uma roupa robótica, realizou nesta terça-feira (26) uma conferência em Florianópolis sobre como a ciência pode ser ferramenta de inclusão social. Nesta quarta-feira (27), quem encerra o ciclo de altos estudos Fronteiras do Pensamento em Santa Catarina é o psicólogo canadense Paul Bloom, que disserta temas relacionados à moralidade, no Teatro Pedro Ivo. “Quer saber, eu não ligo”, disse Nicolelis sobre a curta exibição televisiva do momento do chute, em pleno campo do Itaquera no dia 12 de junho. Segundo Nicolelis, quando acertado com o governo brasileiro, que patrocinou o projeto Walk Again (Andar de novo) e com a Fifa, os cientistas teriam alguns minutos para mostrar ao mundo o que um exoesqueleto era capaz. Conectado por eletrodos ao cérebro, um homem com paralisia poderia mover as pernas pelos próprios comandos neurais. No fim, foram oito segundos transmitidos oficialmente. E as imagens gravadas do projeto nunca foram disponibilizadas pela organização, afirma. Com a voz embargada, Nicolelis afirmou que o projeto que envolveu 156 pessoas na sua concepção, provenientes de 25 países, em um ano e meio de pesquisa se tornou realidade quando o paciente da demonstração afirmou ter sentido a bola. Esta foi a primeira veste robótica já feita capaz de devolver a sensação tátil ao usuário.“E com esse chute cumprimos nossa palavra, mas mais do que isso, o exoesqueleto agora era parte do corpo do paciente", reforçou. O estudo será publicado dentro de alguns meses e não tem patente, com o intuito de disseminação do conhecimento. Com a cobertura midiática, "as crianças estavam falando de neurociência em plena Copa do Mundo" e "de repente os Estados Unidos da América estavam falando de futebol e o Brasil em ciência". Nicolelis afirma que o dom maior da ciência é promover a inclusão, seja ela através da reabilitação médica ou desenvolvendo um papel social. E foi assim que em 2006 ele fundou em Macaíba, no Rio Grande do Norte, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Além de cientistas internacionais atraídos pelo pioneirismo do projeto, trabalham e estudam no local crianças da comunidade. Desde a fundação, o instituto forneceu o pré-natal de mulheres em situação de vulnerabilidade social e disponibilizou aulas em contraturno de iniciação científica do ensino fundamental ao médio para as crianças da região. “O resultado foram índices altos de aprovação em universidades federais em um local onde há um dos piores índice de educação do país. Um dos nossos alunos se formou em física na USP e vai voltar para estudar mestrado de robótica conosco”, exemplifica. Macaíba possuiu um IDH/renda de 0,636 e taxa de analfabetismo de 34%. “Eu gosto de dizer que a gente não construiu escolas, nós construímos aeroporto de cidadãos. Porque o conhecimento liberta”, retoma. O projeto de instituto científico vinculado à comunidade se ampliou e já tem sede brasileira também em Feira de Santana, na Bahia, onde o resultado de inclusão social e desenvolvimento de novos cientistas na comunidade carente da Serrinha foram tão proveitosos quanto em Macaíba. Com inspiração na criação de Santos Dummont, o brasileiro pai da aviação que surpreendeu em terras parisienses, Nicolelis profetiza “que os futuros 14 bis comecem a voar nos céus do Cruzeiro do Sul". Miguel Nicolelis O paulista de 53 anos foi estudar neurociência nos Estados Unidos em 1988 e atualmente é pesquisador da Universidade Duke, na Carolina do Norte. “Os jovens brasileiros ainda querem voltar para Brasil para fazer ciência. Hoje em dia isso é possível”, afirma.Referência na área de desenvolvimento de próteses neurais, também tem estudos voltados a reabilitação de mal de Parkinson, surdez e coordenação motora. Como ideologia, acredita que “nosso papel como cientista é gerar conhecimento o mais aberto possível para o mundo”, e trabalha com cientistas de diversos países em projetos de patente livre. fonte:g1

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