Embalado pelo "efeito Pistorius", movimento paralímpico projeta mudar mentalidade do público em Londres. Brasil almeja inédito sétimo lugar
O movimento paralímpico voltou para “casa” com a missão de dar início a uma nova era. Sessenta e quatro anos após o médico inglês Ludwig Guttman dar a
partida para os esportes aos portadores de deficiência, com os Jogos de Stoke Mandeville 1948, que tapeinha como principal objetivo a reabilitação dos
feridos na Segunda Guerra Mundial, Londres recebe, a partir desta quarta-feira, as Paralimpíadas de 2012. A cerimônia de abertura, que começa às 16h30m
(de Brasília) com transmissão ao vivo do SporTV3, marca o pontapé inicial do evento que ainda tem, sim, a missão de promover a igualdade e socialização,
mas que pode se consolidar definitivamente como uma competição esportiva de alto rendimento.
Se histórias de cidadãos que vencem suas limitações ainda seguem como o carro-chefe, cada vez mais elas perdem espaço para disputas entre atletas profissionais.
Em sua 14ª edição, a sétima utilizando as mesmas instalações dos Jogos Olímpicos (desde Seul-1988), as Paralimpíadas de Londres começam com a previsão
de serem as mais bem sucedidas da história e com a missão de colocar a competitividade em igualdade de condições do clichê que exalta a superação.
- Acredito que em Londres as pessoas não vão colocar mais o foco nas deficiências e passarão a nos ver como verdadeiros atletas. Verão nossos triunfos
e nossas decepções. Realmente acredito que os Jogos de Londres podem mudar a maneira como enxergam o esporte paralímpico e, consequentemente, as pessoas
com deficiência. Podemos mudar completamente a mentalidade das pessoas e estou muito animado para o impacto disso ao redor do mundo – disse o sul-africano
Oscar Pistorius, o principal ícone desta mudança.
Estrela maior das Paralimpíadas, o velocista sul-africano quebrou barreiras ao lado da mesa-tenista polonesa Natalia Partyka ao participar dos Jogos Olímpicos
de Londres e colocar em evidência as habilidades dos portadores de deficiência diante de esportistas “convencionais”. Semifinalista nos 400m rasos e finalista
no revezamento 4 x 400m, Pistorius realizou na Grã-Bretanha um sonho que foi acompanhado de perto por amantes do esporte nos últimos quatro anos e contribuiu
(bastante) para que as Paralimpíadas de 2012 garantissem antecipadamente o maior público de sua história.
Se Pequim-2008 já foi um “ponto fora da curva” com arenas lotadas e presença recorde de 1.8 milhão de torcedores, em Londres a exceção começa a virar regra.
Com três semanas de antecedência, 2.1 milhões de ingressos já tinham sido vendidos, garantindo uma lotação de cerca de 80% nas disputas que acontecem até
o próximo dia 9 de setembro.
Brasil projeta inédito sétimo lugar
E se Londres surge como palco da maior profissionalização do movimento paralímpico, o Brasil chega à capital britânica no embalo dessa tendência e com
a perspectiva de realizar a melhor campanha de sua história. Enquanto no mundo olímpico a realidade ainda está distante do primeiro escalão, no esporte
para portadores de deficiência o país é uma potencia emergente que tem como meta alcançar a sétima posição no quadro de medalhas.
Para isso, a delegação brasileira desembarcou na Inglaterra com 182 atletas (115 homens e 67 mulheres) e a missão de superar o 9º lugar de Pequim, quando
47 medalhas foram conquistas (16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze). Com a natação, de Daniel Dias, André Brasil e Clodoaldo Silva, e o atletismo, de
Terezinha Guilhermina e Lucas Prado, como principais apostas, o presidente do Comitê Paralímpico Brasil (CPB), Andrew Parsons, demonstra confiança em alcançar
o objetivo traçado e relembra o último ciclo de quatro anos para justificar o otimismo.
- É uma meta ambiciosa e palpável, é possível. Em Pequim, o que nos separou do sétimo lugar foram três medalhas de ouro, e o trabalho dos últimos quatro
anos nos faz acreditar que vamos conseguir isso. Os resultados do último ciclo, dos Mundiais, nos apontam esse caminho. Essa é nossa delegação mais bem
preparada de todos os tempos. É ambicioso (o sétimo lugar) por entrarmos no terreno das grandes potências de fato, mas é factível.
Sem fazer previsão de número de medalhas, o dirigente aponta a maior homogeneidade da equipe brasileira como fator que pode fazer a diferença. Para ele,
a responsabilidade de medalhas está bem distribuída, o que diminui a pressão sobre determinados atletas.
- Somos um dos poucos países classificados em 18 modalidades. Estamos ampliando o leque de possibilidade de medalhas. Não temos mais um único grande medalhista.
Temos nomes como Daniel Dias, André Brasil, Lucas Prado, Terezinha, Odair...
Daniel Dias é "apenas" mais uma estrela
Os números comprovam os argumentos de Andrew Parsons. Por mais que Daniel Dias, porta-bandeira na cerimônia de abertura, chegue como estrela máxima pelos
11 ouros no Parapan de Guadalajara-2011, nove medalhas (oito de ouro) no Mundial da Holanda-2010 e o Laureus 2009, o “Oscar do Esporte”, conquistados no
último ciclo paralímpico, não é exagero chamar a equipe brasileira de constelação.
Desde a própria natação, com os multicampeões André Brasil e Clodoaldo Silva, passando pelo atletismo, com os cegos mais velozes do mundo, Terezinha Guilhermina
e Lucas Prado, chegando até o judô, que conta com Antônio Tenório em busca do pentacampeonato dos Jogos, o Brasil trouxe na bagagem um leque variado de
boas possibilidades de ouro. Isso sem contar os esportes coletivos, que têm o Futebol de 5 (para cegos) como grande destaque em busca do tricampeonato.
- A situação do esporte brasileiro hoje é outra, bem diferente até mesmo de Atenas-2004. A responsabilidade está mais dividida, temos muitos ídolos, muitas
referências, e isso é importante até mesmo para gerações futuras – afirmou Clodoaldo Silva, maior medalhista da história do país, com 13 pódios, ao lado
de Ádria Santos, que não disputa os Jogos de Londres.
A mudança citada por Clodoaldo fica evidente até mesmo nas declarações dos atletas. A expectativa de medalhas não tem sido transformada em pressão, mas
em confiança, como deixa claro Terezinha Guilhermina, recordista mundial nos 100m, 200m e 400m rasos na classe T11 (para cegos totais).
- Estabeleci prioridades e me preparei fisicamente, psicologicamente e emocionalmente para estar aqui e viver tudo isso de uma maneira especial. Os recordes
são uma consequência disso. A pressão vem de mim, não de fora. Me cobro muito, me preparei e por isso chego aqui como favorita. Hoje, todas me respeitam.
Ninguém entra à vontade contra mim.
Em Londres, o Brasil terá representantes em 18 das 20 modalidades em disputa. Dessas, o país conquistou medalhas em oito nos Jogos de Pequim-2008.
Curiosidades e diferenças para os Jogos Olímpicos
- Durante os Jogos, a Vila Paralímpica receberá cerca de 4.280 atletas. Nas Olimpíadas o número ultrapassou os 10 mil.
- A previsão é de que 1.800 cadeiras de rodas e 22 cães-guia sejam utilizados por atletas na Vila Paralímpica.
- Dois novos locais de competição serão utilizados nas Paralimpíadas: Eton Manor, no próprio Parque Olímpico, que receberá as disputas do tênis em cadeiras
de rodas; e o Brands Hatch, antigo autódromo que será palco das disputas do ciclismo estrada.
- Dezessete das arenas olímpicas não fazem parte do programa paralímpico e foram desmontadas ou devolvidas aos seus proprietários (caso de seis estádios
de futebol).
- Ao todo, 166 nações participam das Paralimpíadas.
- Mais medalhas de ouro estarão em disputas nos Jogos Paralímpicos: serão 503 contra 302 das Olimpíadas.
Fonte: GloboEsporte.com
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