domingo, 19 de agosto de 2012

OPORTUNIDADE!

Segundo Guimarães Rosa, a vida só nos pede coragem. Porém, quando deparamos de repente com algo muito difícil, a cegueira, por exemplo, percebemos que
só coragem
não basta para enfrentar a vida que continua. É preciso ter oportunidade para reagir, razão pela qual, durante milênios, por falta absoluta de participação
do cego
na sociedade, a cegueira foi sempre caracterizada como um fator de invalidez. Não basta esperar que as pessoas com deficiência tenham ânimo, que levantem
a cabeça
e a auto-estima, se não conciliar o estímulo com oportunidade de fato. Sem dúvida, o maior desafio do cego consiste em apagar seu rótulo de invalidez que
o acompanha
desde os primórdios da humanidade.
Sua primeira oportunidade de participação na sociedade só aconteceu no século XIX, na França, com a invenção do alfabeto braille. No fim do século XX,
com a
retomada das ideias humanísticas do Iluminismo, avançamos um pouco mais. Porém, nossa emancipação não se limita agora somente em ter acesso à educação,
mas também
à reabilitação e ao trabalho, completando assim o tripé da política em favor dos deficientes.
Vivemos, portanto, numa época em que ser cego já não é tão limitador como antigamente, pois a ordem social do momento é a nossa inclusão na sociedade através

das oportunidades de se reabilitar, de se instruir e de trabalhar. Podemos crer, finalmente, que os homens já percebem que todas as pessoas fazem parte
de uma grande
caravana que passa rapidamente pela Terra, mas que só se considera civilizada à medida que for capaz de compreender que não pode abandonar ninguém pelo
caminho,
à beira da estrada, seja qual for o motivo. Afinal, a humanidade não passa de uma grande equipe na qual há uma função compatível para cada indivíduo. A
atuação isolada
de qualquer pessoa, deficiente ou não, é pequena. Cada um, isoladamente, é um simples tijolinho da grande construção que é o mundo - e as pessoas demonstram
que,
quanto mais elevado é seu nível de desenvolvimento, mais levam em conta não apenas os próprios interesses, mas também os dos outros.

Mário Alves de Oliveira

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