sábado, 7 de junho de 2014

No RS, deficientes visuais e auditivos driblam barreiras para torcer na Copa

Paixão nacional, esporte integra e e motiva pessoas a superar dificuldades. No futebol para cegos, Brasil também é um formador de craques. Roberta Salinet A emoção de uma Copa do Mundo vai muito além de assistir aos jogos e ouvir a explosão da torcida no momento do gol. A força do maior evento de futebol do mundo tem o poder de romper barreiras, mesmo as colocadas pelas limitações físicas. Apesar das dificuldades, deficientes visuais e auditivos também torcerão pela seleção brasileira no Mundial. Na Escola Especial Concórdia, em Porto Alegre, alunos com deficiência auditiva torcem, se emocionam e sonham com a conquista do hexa, assim como qualquer outro brasileiro. Lá, o futebol também é assunto frequente, mas em um linguagem diferente: a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Por meio dos gestos, os alunos elegem seus ídolos no futebol. Ronaldo, David Luiz, Marcelo e Julio César são alguns dos jogadores citados. Mas para Para Fabrício Ramos, professor de Educação Física e deficiente auditivo, o maior ídolo da seleção é o técnico Felipão, morador da cidade. “O Felipão, ele sabe tudo, tem muita experiência, muita pesquisa”, diz. Segundo a diretora da escola, Hiltrud Elert, a maior dificuldade para os deficientes auditivos não é se encaixar na sociedade dos que ouvem. O problema está nas pessoas que ouvem e não querem “entrar” no mundo dos surdos. “O surdo ele não é diferente, ele é igual a todo mundo. Ele apenas se comunica de forma diferente, através de libras, através das mãos. Eles torcem, fazem álbuns de figurinhas, falam de jogadores, têm seus ídolos. É uma relação com o futebol que todos os brasileiros têm”, destaca. Essa relação como o futebol, no entanto, parece não ser recíproca. No Brasil, são raros os estádios ou transmissões de futebol que incluem deficientes visuais e auditivos. Na Copa do Mundo, apenas quatro oferecerão o serviço de audiodescrição, e o Beira-Rio não está entre eles. “Os estádio precisam ter mais paz, mais união entre os amigos. Não pode se diferenciar brancos, surdos, negros, todos são pessoas iguais. Os estádios precisam ser mais animados”, ensina a diretora. Craque do futebol para cegos Mas a paixão pelo futebol não fica restrita ao ato de torcer. Não são poucos os deficientes visuais, por exemplo, praticantes do esporte. E como nas outras modalidades, no futebol para cegos o Brasil também produz seus craques. Um exemplo é o gaúcho Ricardo Alves, jogador da seleção brasileira de cegos eleito o melhor do mundo em 2006. Embora admita que possua, sim, certa limitação em relação a atletas que não têm deficiência, Ricardinho acredita que conseguiu se adaptar bem ao esporte específico para cegos. “Eu entendo a incredibilidade das pessoas com o fato de eu jogar futebol. Se eu não fosse cego e não jogasse, eu duvidaria muito que os atletas cegos fizessem o que fazem”, conta o volante. O jogador explica as adaptações no esporte. “A bola tem um guizo e a gente se baseia pelo som dela. O goleiro enxerga normal e ajuda a orientar o setor defensivo da equipe. O treinador fica na metade da quadra e orienta os jogadores. Atrás do gol onde vamos chutar, fica uma pessoa que é nomeada de chamador. Quando ele chama, a gente sabe a referência de onde está o gol”, explica Ricardinho. “A primeira regra fundamental é o silêncio dentro e fora da quadra para eles escutarem o barulho da bola. A lateral da quadra é fechada com bandas e a bola só sai na linha de fundo. Quando eles vão na bola, eles tem que falar, caso contrário pode até ser considerado uma falta. Eles perdem na visão e ganham na audição”, acrescenta o técnico Rafael de Dorneles. O que não muda para os cegos é emoção de marcar um gol ou testemunhar um lance genial de algum craque. O presidente da Associação de Futebol para Cegos, Pedro Beber, conta que tem gravado na memória um gol da seleção em Copas do Mundo. “Acho que foi o jogo do Brasil contra a Itália em 1982, o segundo gol do Falcão. Eles vieram trocando passes e o Falcão fez o gol da entrada da área. Não vi, mas está gravado. A descrição, a narração foi inesquecível. Não vi e não esqueci”, recorda. A torcida de Ricardinho pelo hexa também é a mesma. “Eu desejo boa sorte para a seleção brasileira na Copa, que todos os nossos jogadores estejam iluminados nesse campeonato, que o nosso treinador também saiba as melhores opções para a equipe. Estou torcendo aqui, vou estar acompanhando e desejo que Deus abençoe toda a nossa equipe”, conclui. fonte g1

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