sábado, 29 de março de 2014

Olhares guardados traz elenco de atores cegos

Peça apresentada em Brasília mostra como recursos teatrais podem suplantar deficiências; sessões ocorrem no sábado e domingo Fábio Luporini Um fotógrafo chega à estação ferroviária de uma cidadezinha para registrar em imagens o cotidiano de quem vive por ali. Entre seus personagens, estão uma costureira, um escritor, um músico e um vendedor de antiguidades. O enredo se entrelaça nos trilhos do trem entre passadeiras de borracha que, embora façam parte do cenário, acumulam a função de marcações cênicas para os atores, todos cegos. O espetáculo teatral Olhares guardados será apresentado amanhã e domingo, como parte da programação da Londrina Mostra Teatro e Circo. “Não deixamos claro que os atores são cegos. Fazemos a preparação do ator com cenografia, sonorização e cenário, que facilitam a locomoção em cena. A sonoplastia faz sentido como marcação de cena”, explica Paulo Braz, diretor da peça e coordenador, desde 2003, do projeto Expressividade cênica para pessoas com deficiência visual. Em cena, os atores se movimentam com base nesses recursos: a passadeira funciona como piso tátil e os trilhos do trem possuem carrinhos que se locomovem no palco. “Eles usam o trilho com um carrinho que anda e é conduzido por eles mesmos.” Entretanto, os atores estão tão habituados com a movimentação em cena que às vezes nem precisam usar algumas das marcações. “Eles encenam descalços para sentir a passadeira, um piso tátil que liga vários pontos do cenário. Mas estão tão acostumados com o espaço cênico que o som e a percepção os conduzem”, explica Paulo. Além disso, há certa subjetividade em relação à cegueira dos atores, o que faz o público duvidar da deficiência visual. “É outra percepção de olhar, dessa possibilidade de ter e perceber a imagem, até para quem é cego, que vê o mundo de outra forma.” O espetáculo estreou no Festival Internacional de Londrina (Filo) em 2010 e, dois anos depois, morreu Sebastião Narciso, integrante do elenco e do projeto desde sua fundação, em 2001. Por conta disso, a peça ficou um tempo parada, até ser remontada para o Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, em janeiro, para a 1ª Mostra Sensorial e Inclusiva. No lugar de Sebastião entrou Michael Braz Veiga. O elenco inclui Tatiane Quadros, Flávio Cordeiro, João Durval e Marquinhos Santos. A peça foi pensada para criar alternativas, no teatro voltado a atores com deficiência visual, de locomoção em cena. “Esse projeto tem se destacado no cenário nacional por incluir a acessibilidade através das artes cênicas.” O projeto Expressividade cênica para pessoas com deficiência visual foi criado em 2001 como extensão do Filo. “Era basicamente contação de histórias. Quando eu assumi em 2003, resolvi avançar um pouco e adaptamos As cidades e os olhos, baseado no livro Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino.” Serviço Olhares guardados – Peça com direção de Paulo Braz. Sábado e domingo, às 21 horas, na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL (Av. Celso Garcia Cid, 205), dentro da programação da Londrina Mostra Teatro e Circo. Ingressos a R (inteira) e R. Informações: 3322-1030 ou 3324-8694. fonte:jornal de londrina

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