quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mobilidade e orientação espacial Privados parcial ou totalmente do sentido da visão, os deficientes visuais na maioria das vezes são capazes de se locomover. Entretanto, a locomoção ocorre de diferentes formas, dependendo de características individuais, como noção de direção, medo, grau de dependência, entre tantos outros fatores. A questão da insegurança e problemas de locomoção podem levar o deficiente visual ao sedentarismo, o que pode vir a comprometer o seu grau de desenvolvimento. Por isso o trabalho de orientar o indivíduo para uma locomoção adequada, que possibilite acesso à vida social é de extrema relevância. A locomoção dependente sempre envolve a participação de mais um indivíduo, o guia vidente, ou então de um cão guia. Segundo Carroll (1968, p. 28) o guia vidente corresponde a “(...) uma extensão dos sentidos tátil e cinestésicos da pessoa cega”, mas não os substitui. A técnica do guia vidente favorece a captação das informações sobre o meio ambiente como mudanças de nível, direção, de tipos de superfície, de temperatura, de luminosidade, estímulos sonoros etc. O deficiente visual deve interpretar corretamente os movimentos corporais e sinais emitidos pelo guia, não necessariamente verbais. Ao deslocamento o guia deverá ter o conceito da duplicação do volume corporal, ou seja, deve estar sempre atento ao espaço que comporte os dois corpos. De acordo com Melo (1991), no posicionamento ideal para a locomoção dependente o deficiente visual deve segurar o braço do guia acima do cotovelo, com o polegar do lado externo do braço e os demais dedos sobre a parte interna do braço do guia. Este deve permanecer com o braço esticado e relaxado, evitando cansaço pela contração muscular. O deficiente visual deve permanecer meio passo atrás do guia, com o objetivo de garantir maior proteção e segurança em relação ao tempo de reação. É de extrema importância a adaptação ao ritmo de marcha do guia, sincronizando os passos. Entretanto, outros posicionamentos podem ser adotados. O apoio no ombro deve ser usado em situações em que há uma diferença de estatura significativa ou então no momento de descida de um veículo alto. A posição de antebraços entrelaçados não é recomendável, pois prende os movimentos do braço do guia e impossibilita o posicionamento correto do deficiente visual à distância de meio passo atrás do guia, o que interfere no tempo de reação do indivíduo guiado. A posição de contato leve, na qual o deficiente visual anda perto do guia, apresenta como desvantagem a maior dificuldade para o aviso dos obstáculos. O punho só deve ser utilizado como apoio em crianças, quando guiadas por adultos. Dependendo da posição que o braço do guia é colocado uma atitude deve ser tomada. Assim, o braço esticado atrás do tronco, por exemplo, corresponde à postura adotada numa passagem estreita, onde o deficiente visual deverá se posicionar atrás do guia. Já o movimento ascendente/descendente de braço e tronco evidencia a existência de escadas ou desníveis. Outro tipo de locomoção possível é a locomoção independente, consiste no uso de bengala longa que, combinada com o uso de técnicas de orientação, representa também proteção e segurança. A bengala permite a identificação de informações do ambiente e condições do solo, principalmente, avisando sobre existência de degraus, buracos e depressões; localiza pontos de referência, protege a parte inferior do corpo de obstáculos, sendo, por isso, considerada uma extensão do sentido tátil da pessoa cega (MELO, 1991). A bengala corresponde a uma ferramenta de auxílio para a marcha e não uma muleta de apoio. O uso dela exige o conhecimento de técnicas específicas, que colaborem para o processo de transformação de obstáculos espaciais em informações e percepções que auxiliem o deslocamento dos deficientes visuais. Existem tipos variados de bengalas: bengala ortopédica (para apoio e sustentação, não sendo utilizada como meio de pesquisa e detecção de obstáculos), bengala branca (mais longa que ortopédica – 90 cm, de madeira, pintada de branco com uma faixa vermelha na extremidade inferior com finalidade de chamar a atenção dos videntes e motoristas, quando pintada de várias faixas vermelhas em toda a extensão é o símbolo internacional da pessoa surda-cega), bengala longa ou de Hoover (é a mais usada, feita de liga de alumínio é capaz de transmitir aos nervos da mão, em forma de sensações táteis, as particularidades do terreno que esteja reconhecendo, é leve, de baixo custo de fabricação e é à prova de corrosão, tem medida personalizada, adaptada à altura da cada indivíduo: tomada do processo xifóide até o solo) e a bengala laser (pouco utilizada devido ao custo elevado, é um invento eletrônico que detecta obstáculos e informa-os aos deficientes visuais, sem interpretá-los). Para um bom desempenho ao deslocamento o deficiente visual deve receber orientações de como manusear a bengala, como escolher e identificar pontos de referências, como reconhecer um ambiente, como se posicionar nele para o deslocamento, como proteger seu corpo, dentre muitos outros detalhes.

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