terça-feira, 18 de setembro de 2018

Santos terá sua primeira escola de surfe inclusiva

Espaço será construído no Posto 3 e atenderá alunos com deficiência e mobilidade reduzida
CAROLINA IGLESIAS
Jovem de 16 anos é um dos alunos da Escola Radical de Surf (Foto: Irandy Ribas/AT)
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Em breve, as antigas instalações do Posto 3, na orla de Santos, darão lugar à primeira escola pública inclusiva de surfe na Cidade. A unidade, que integra

o projeto Escola Radical de Surf, criado há 26 anos, terá uma área de 80 m² e atenderá alunos com deficiência e mobilidade reduzida.

O novo espaço contará com salas de reuniões e de professores, sala funcional e espaço para guarda e troca de roupas, além de área específica, com 30 suportes,

para guardar as pranchas adaptadas. O acesso será feito por meio de rampas e haverá sinalização adequada em piso tátil.

Com a inauguração da unidade, prevista para ocorrer em 2019, o coordenador da Escola Radical de Surf, Cisco Araña espera atender cerca de 80 jovens, em

programas com três meses de duração.

Hoje, segundo Araña, o atendimento está concentrado no Posto 2. Porém, em razão da demanda deste público, que só vem crescendo ano a ano, os voluntários

envolvidos no projeto identificaram a necessidade de se ter um espaço reservado, voltado especificamente para jovens com deficiência física ou mobilidade

reduzida.

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Escola dará continuidade ao projeto iniciado no Posto 2, com pranchas adaptadas (Foto: Irandy Ribas)
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“Nós atendemos todas as pessoas na escola montada no Posto 2, mas observamos que nos últimos quatro anos a demanda desse público cresceu muito. Estava

na hora de montarmos um local adaptado para esse público, para ampliar e dar continuidade ao trabalho que já realizamos na primeira escola”, explicou.


Para a reforma interna e adaptação do espaço serão destinados R$ 250 mil, oriundos de um convênio firmado com o Governo do Estado. O edital da licitação

para definir a empresa que executará os serviços, incluindo materiais, equipamentos e mão de obra já foi publicado no Diário Oficial e a expectativa é

de que a reforma tenha início ainda este ano.

“Com esse novo espaço, considerado uma conquista incrível para o surfe santista, conseguiremos ampliar ainda mais esse trabalho voluntário que já acontece

há tantos anos”, comenta Aranã.

Com a criação da escola, além da expansão no atendimento gratuito aos interessados pela modalidade esportiva, o coordenador da Escola de Surf também espera

ampliar a oferta de pranchas adaptadas do projeto. Santos, segundo ele, é pioneira no uso dos equipamentos adaptados para deficientes visuais e físicos.


Para a criação das pranchas, Cisco conta que se baseou na experiência de alunos com diferentes patologias. “Cada corpo é um corpo. Por isso, adaptamos

as pranchas multifuncionais para cada tipo de deficiência. E o mais legal é que esse projeto, que nasceu em Santos, foi levado para outras cidades e até

para fora do País”.

Conforme Araña, já foram desenvolvidas aproximadamente 20 pranchas adaptadas. Elas foram doadas a cidades em Portugal, País Basco, Chile, Uruguai. “Esse

projeto de inovação é uma sementinha, um ponto para se refletir sobre como o surfe pode servir de ferramenta para melhorar a qualidade de vida de outras

pessoas”, comemora.

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Portador de paralisia cerebral, jovem começou a andar após
iniciar a prática de surfe (Foto: Irandy Ribas/AT)
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Menino com paralisia começou a andar

E se o assunto é qualidade de vida, a artesã Fabiana dos Santos, 35 anos, tem motivos de sobra para enaltecer o trabalho desenvolvido pela escola de surfe.

Seu filho, o estudante Raphael Guilherme dos Santos Nascimento, 16, é portador de paralisia cerebral. E foi graças às aulas de surfe oferecidas no Posto

2 que o jovem, quando ainda tinha 10 anos, alcançou o que a mãe chama de milagre: conseguiu caminhar sozinho pela primeira vez.

O garoto, diagnosticado com a doença aos 4 meses de vida, tinha o corpo atrofiado por ficar sempre sobre uma cadeira de rodas. Ele chegou a ser submetido

a uma cirurgia nos pés e joelhos, e em uma das vezes em que a mãe o levou para uma das sessões de fisioterapia, ficou sabendo do projeto.

“Um fisioterapeuta nos falou sobre o projeto do Cisco. No começo, senti medo. Achei que o Raphael pudesse se afogar, mas em pouco tempo vi a evolução dele.

No começo, ele ficava sentado na prancha, depois apoiado sobre os joelhos", relata Fabiana, que conta que a grande superação ainda estava por vir. "Um

dia vi meu filho de pé no mar", lembra emocionada.

Hoje, segundo ela, o estudante não se imagina mais longe do esporte. “Eu presenciei algo que muitos médicos consideram impossível. O Raphael começou a

andar, quando não existia nenhuma perspectiva de que isso pudesse acontecer”.

Até começar a surfar, o deslocamento do garoto só era possível com a ajuda de uma cadeira de rodas, conta a artesã. “Hoje me emociono quando vejo ele caminhando

sozinho. A luta dele foi grande, mas a vitória foi maior ainda. Hoje, o Raphael não vive sem o mar e posso afirmar que o surfe é a vida dele”.

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Voluntários do projeto auxiliam jovem com paralisia cerebral a surfar com prancha adaptada (Foto: Irandy Ribas/AT)
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