sábado, 21 de setembro de 2013

Acessibilidade no Rock in Rio 2013

O artigo é de Nickolas Marcon, ao blog "Mão na Roda". Nickolas Markon Nas últimas semanas recebemos vários emails de leitores pedindo informações sobre a acessibilidade no Rock in Rio 2013. Como todos já sabem, aqui no blog não publicamos nada que não tenhamos conferido pessoalmente. Dessa vez não será diferente. Para responder às dúvidas dos leitores, segue abaixo o relato completo da minha experiência no primeiro dia do evento. Transporte e chegada ao local Acho que essa é a parte mais sensível da coisa e por isso vou descrever com mais detalhes. Assim como foi 2011, neste ano não há como estacionar próximo ao evento. Há bloqueios nas avenidas de acesso bem antes da Cidade do Rock, onde só passam os carros de moradores previamente cadastrados. Na Av. Abelardo Bueno, não vi nem táxis passando. Num segundo bloqueio da mesma rua, mais próximo do evento, ninguém passava. Não adianta reclamar, argumentar, xingar, mostrar permissão para deficiente físico da prefeitura, nada. Como chegar então? Para os 0,00000001% da população que tem um helicóptero, há um heliporto próximo ao RioCentro. Acreditem, o tráfego aéreo estava congestionado, tinha fila de helicópteros para pousar. Mas, como esse não era o meu caso, a solução foi o busão mesmo. Para o Rock in Rio 2013 foram disponibilizadas duas alternativas de ônibus. A primeira eram os especiais, ônibus de viagem com ar-condicionado (popular frescão) que partiam de pontos determinados da cidade e iam direto para um terminal montado no RioCentro, a poucos metros da entrada da Cidade do Rock. As passagens dos ônibus especiais eram limitadas e deveriam ser adquiridas com antecedência pela internet. Como o acesso aos ônibus de viagem não costuma ser amigável para cadeirantes, essa opção foi descartada (já escrevemos sobre isso, clique aqui para ver o post). A outra opção era uma linha de ônibus comuns criada para o evento, que fazia o trajeto entre o terminal Alvorada e a Cidade do Rock, com paradas no Barrashopping e no Shopping Via Parque. Minha estratégia foi estacionar o carro no Via Parque (o estacionamento do shopping funciona 24 horas) e pegar essa linha de ônibus, torcendo para os veículos tivessem elevador. Funcionou direitinho. Cheguei por volta das 17 horas no shopping e havia muitas vagas livres. Depois, fui até o ponto de ônibus em frente, onde já tinha um ônibus parado e equipado com elevador. Aliás, todos os ônibus que vi nessa linha tinham elevadores para cadeirantes. Se os elevadores funcionam, é outra história… No meu caso o elevador funcionou depois de um sobe-desce-para-pontapé-puxa-soco-pontapé-chute-porrada-desce-estica-treme-pontapé-sobe-para. Normal. Estava no ônibus indo para a Cidade do Rock. Uhú!!! O desembarque é feito num terminal improvisado montado no estacionamendo do falecido autódromo de jacarepaguá, a 1500 metros da entrada. Para quem estiver bem disposto, dá para ir andando até a entrada. A pista toda estava fechada para pedestres. Os obstáculos no percurso se limitaram a um quantidade insana de vendedores ambulantes, mas fora isso e não tive problemas em chegar à entrada. Dica: para quem não tem tanta mobilidade ou disposição, há táxis adaptados (Doblôs) no terminal para levar cadeirantes até a entrada. Não sei qual era o preço cobrado, se alguém utilizar o serviço, por favor escreva seu relato nos comentários, ok? Bom demais, né? Alto lá. Nem tudo pode ser perfeito. Na entrada, o caminho adaptado com rampas começava do outro lado da avenida, onde paravam os táxis adaptados. Ou seja, eu deveria ter chegado pelo outro lado da avenida, atravessando um canteiro enorme. Lógico que não havia nenhuma sinalização mostrando isso. Como devo ser um dos estranhos cadeirantes na face da Terra que não reclama de rodar por muitos metros num piso liso e plano, acompanhando os andantes, tive que pedir ajuda para subir dois degraus na entrada normal e chegar até o guichê de recepção. Lá ganhei uma pulseira verde, que no evento seria fundamental para… não sei. Não sei mesmo. Disseram que era para me idenficar na entrada dos tablados elevados. Acho que minha cadeira deve ser discreta demais, ninguém saberia que sou cadeirante se eu não usasse a pulseira. Surreal. O fato é que ninguém me cobrou a tal pulseira em lugar nenhum. Na volta, o caminho foi o mesmo até o terminal, mas com uma muvuca muuuuito maior. Um verdadeiro rio de gente andando na pista e esbarrando num número de ambulantes ainda maior que na entrada. A única opção era seguir o fluxo. Dica: na chegada ao terminal as bilheterias ficam num terreno arenoso, difícil de tocar a cadeira. Vá direto ao bloqueio e peça para o guarda municipal abrir a grade para continuar o percurso até os ônibus pelo asfalto. Assim também se escapa da super-muvuca que fica no terminal para embarcar nos ônibus. No trajeto de volta, havia a opção de descer na frente do shopping e atravessar as 4 pistas da av. Ayrton Senna que está sem sinalização por causa das obras do BRT. Achei perigoso e pedi para o motorista se me deixar do outro lado, em frente ao shopping, quando estivesse voltando. Sem problemas. Fui com o ônibus até o terminal Alvorada, onde todo mundo desembarcou. Na volta, com o ônibus vazio, o motorista foi muito gentil e parou no ponto bem na frente ao shopping. Sei que o serviço de ônibus da cidade do Rio de Janeiro é muito criticado por N-motivos, mas dessa vez mereceu meus elogios. Tudo correu bem. Atualização em 15/09/2013: segundo o Eduardo, havia estacionamento gratuito para deficientes dentro do Rio Centro, mas essa informação não foi amplamente divulgada. Ele fez o caminho por outra rua, a Av. Salvador Allende. Seu carro estava identificado com o sinal de acessibilidade e ele conseguiu passar pelas barreiras. Vejam o relato dele aí embaixo, nos comentários. Fica a dica para todos os deficientes que quiserem ir de carro ao evento. A Cidade do Rock Dentro da Cidade do Rock o piso é todo plano. Não há problemas em se deslocar entre os caminhos que se alternam entre cimento alisado, calçamento com blocos de concreto e alguma coisa que um dia foi grama sintética mas hoje se parece mais com um tapete verde, um pouco mais fofo que o piso de cimento, para andar com a cadeira tem a mesma resistência que um carpete grosso. Não há degraus na transição entre o piso, calçamento e o “tapete de grama sintética”. Dá para circular tranquilamente entre os dois grandes palcos (Mundo e Sunset), a Rock Street e a tenda eletrônica. A disposição dos acessos e dos tablados está mostrada na foto abaixo. Clique na foto para ampliá-la. Tablados para ver os shows Para facilitar, ou melhor, para permitir que os cadeirantes e outros PNEs pudessem ver os shows nos dois palcos, foram construídos dois tablados elevados. As rampas de acesso eram largas e tinham uma inclinação forte, acima da recomendação, mas não eram impossíveis. Um pouquinho de força e equilíbrio resolvia o problema. Algumas pessoas reclamaram da falta de um corrimão para muletantes e deficientes visuais, mas outros disseram que a altura da grade era suficiente para servir de apoio. Havia funcionários do evento na entrada que só permitiam a entrada do PNE com mais dois acompanhantes. Apesar de serem distantes do palco e posicionados numa posição muito lateral, sem dúvida eram o melhor lugar para se assistir aos shows. Quem estava sentado na cadeira conseguia ver por cima da cabeçada da multidão que estava na frente. A grade de proteção não chegava a atrapalhar a visão dos palcos. O tablado do palco Mundo era maior e comportou tranquilamente os PNEs da noite. Banheiros Há vários banheiros espalhados pela Cidade do Rock e em todos eles há uma cabine especial para cadeirantes. Uma grata surpresa: são banheiros de verdade, nada de banheiros químicos. O banheiro que eu usei estava razoavelmente limpo e tinha água, sabão, papel higiênico e toalha de papel, mas não tinha luz. Acho que esse foi o jeito que encontraram para desestimular o uso pelos andantes: deixar o banheiro no escuro. É nessas horas que a gente lembra daquele aplicativo no celular que transforma o flash em lanterna. Alimentação e compras As lojas montadas para venda de produtos não eram acessíveis. Quase todas tinham um patamar com mais ou menos 1 metro de largura na frente dos balcões, e esse patamar formava um degrau razoável com o chão. Na Rock Street, apenas alguns bares e patrocinadores tinham rampa na entrada. No conjunto de lojas em frente ao palco Sunset, o patamar na frente das lojas era mais largo e havia uma rampa que ficava na ponta do corredor, próxima à entrada da montanha-russa. Para quem saiu do trabalho, foi direto para o show e chegou morto de fome (como eu), a primeira visão de comida era uma das várias lanchonetes do Bob’s que ficava logo na entrada. Nessas, não havia degrau em frente ao balcão, mas depois que se comprava a comida não havia nenhuma mesa ou apoio em frente. Era comprar e comer apoiando no colo. O povo improvisou sentando no chão mesmo. Ainda bem que eu levei a minha cadeira de casa. Depois do desespero alimentar saciado com um hambúrguer xexelento e caro, descobri que havia muitas outras opções alimentares na Rock Street, inclusive com várias mesas e cadeiras para utilização dos comensais. Fica a sugestão para quem quiser comer. Os preços dos comes e bebes estavam mais salgados que o Mar Morto: R$ 15 o sanduíche, R$ 12 o cone de batata, R$ 5 pela água, R$ 6 o refri e R$ 10 o chope. Não é permitida a entrada de comidas e bebidas no evento e as bolsas são revistadas na entrada. Dica: nem todos os lugares tinham leitores de cartões funcionando. Melhor levar dinheiro vivo, assim também fica mais fácil de comprar dos vendedores volantes que ficam circulando entre o povo. Conclusão Ao final da noite, meu balanço geral do evento foi muito bom. Apesar dos perrengues de qualquer evento que envolve multidões, a estrutura funcionou bem e não tive nenhum problema para aproveitar a noite. Para os que compraram ingressos para os outros dias, sigam as dicas que coloquei aqui e podem ir sem medo. fonte mao na roda

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