quarta-feira, 16 de julho de 2014
Pagando mico no transporte público de Buenos Aires
Adriana Lage
Dizem que uma boa maneira para se descobrir uma cidade e também a sua acessibilidade é utilizando seus meios de transporte. Na Argentina, isso funciona!
Só que não... Hoje, vou compartilhar com meus leitores minhas experiências utilizando os meios de transporte em Buenos Aires.
Dessa vez, fiquei hospedada em um hotel no centro de Buenos Aires, bem próximo ao Obelisco. Com isso, fiz a maioria dos meus passeios a pé. Como minhas
companhias de viagem adoram longas caminhadas, lá fomos nós desbravar a capital porteña. O bom de Buenos Aires para cadeirantes é que a cidade é bem plana
e possui muitos rebaixamentos nas calçadas. Não é à toa que o hermano cadeirante que encontrei no Mineirão, no jogo da Argentina com Irã, me disse que
BH é mais complicada que Buenos Aires, já que possui muitas subidas e descidas. Por aqui, ele, que é paraplégico, precisou de ajuda para se locomover em
alguns pontos da cidade.
Fui muito feliz nesse meu retorno à Argentina. O frio estava suportável, só peguei uma pequena garoa numa das noites, a tempestade caiu de madrugada e
fomos presenteadas com dias de céu azul e solzinho acolhedor.
Amo a arquitetura da cidade. Sem falar que sempre tive um fraco pelos porteños. Ô povo charmoso! A cidade é cheia de parques, monumentos, cafés maravilhosos...
Difícil resistir a tamanha beleza!
Táxis
Até onde pesquisei, Buenos Aires não possui táxis acessíveis. Ri demais quando gastei todo meu portunhol num quiosque de informações turísticas perguntando
sobre um guia de acessibilidade. Quando estive por lá, em 2011, o guia estava fresquinho! Existe uma nova versão no forno, mas ainda sem data para lançamento.
Dessa vez, achei os sites bem desatualizados no que se refere à acessibilidade no metrô e nos ônibus. Por falar nisso, acreditam que recebi várias informações
erradas de guias turísticos e da polícia? No quesito acessibilidade, não foram boas referências.
Andei algumas vezes de táxi. Ao contrário do que encontrei em Santiago, os motoristas não oferecem ajuda. Só um deles, que por sinal era a cara do Guilherme
do Galo, me ajudou e saiu do carro. A frota é bem misturada. Temos carros novos e alguns bem velhinhos. Para transportar a cadeira de rodas, sempre andei
de utilitário (por exemplo, Meriva). Achei os preços bem tranquilos (na época, um real valia cerca de quatro pesos) e os motoristas mais educados que os
de 2011. Mesmo assim costumam ser bem apressados e não prezam muito pela simpatia.
Optei pelo táxi apenas quando não tinha como ir a pé ou quando era tarde da noite. Por lá, também penei com táxis a gás. Impressionante como as desculpas
são as mesmas que as dada pelos motoristas brasileiros.
Metrô
Já tinha visto que o metrô de Buenos Aires é restrito a alguns lugares da capital. Nem todas as estações são acessíveis. Poucas possuem elevadores. Dizem
que podemos contar com a ajuda de funcionários na hora de utilizarmos as escadas rolantes, mas, comigo, não foi bem assim!
Iria do centro ao Zoo de Palermo. Existe um ônibus, piso baixo, que nos deixa na porta do Zoo. Só que a guia me convenceu a ir de metrô. De acordo com
ela, a estação mais próxima ao zoológico tinha escada rolante. Verifiquei no mapa do metrô e descobri que a estação acessível mais próxima ao Obelisco
era a que fica em frente ao majestoso Teatro Colón. Quando chegamos à estação, logo pegamos um elevador e ficamos esperando o trem. Quando ele chegou,
meu Deus! Que caco velho! Rimos demais. Estava acostumada com os metrôs de São Paulo e Santigo; não esperava nunca andar numa lata de sardinha. Para terem
uma ideia, entre o trem e a plataforma, formou-se um degrau enorme. Como, nas férias, tudo é festa, lá fomos nós. Não encontrei nenhum local reservado
para cadeirantes, embora tenha embarcado no primeiro vagão.
Quando descemos na estação Plaza Itália, fui atrás do guarda pedir ajuda para subir as escaleras mecânicas. Ele foi todo educado comigo e me explicou que
não poderia me ajudar. De acordo com ele, após a escada rolante, existe uma escada fixa e bem íngreme antes da saída para a rua. Dessa forma, ele me aconselhou
descer na estação Palermo.
Pegamos novamente o metrô, dessa vez, num trem bonito! Logo que descemos em Palermo, perguntei a uma vendedora de um quiosque se poderia contar com a ajuda
de algum funcionário para subir as escadas rolantes até a rua. Ela chamou ajuda, mas nada da pessoa aparecer. Enquanto aguardava pela ajuda, num daqueles
momentos de intervenção divina, um senhor surgiu e me ofereceu ajuda. Ele sabia como subir a cadeira em segurança. Com tanta boa vontade e simpatia, não
tive como recusar a ajuda. Ele recrutou um homem mais novo para nos ajudar, repassou os conhecimentos e foi atrás, na retaguarda, segurando as costas do
moço. Quando chegamos ao final da primeira escada rolante, finalmente, apareceu a funcionária. Foi bom porque ela retornou ao metrô com meus ajudantes.
Se saíssem na rua sem acompanhamento, teriam que retornar e pagar outra passagem.
Subir escada rolante sempre me dá um frio na barriga, mas foi uma ótima experiência. Fiquei encantada com o cuidado e a boa vontade dos porteños.
Quando chegamos à rua, agradeci bastante aos dois e nos despedimos. Acabei não andando novamente de metrô. Como são poucos os elevadores e muitas estações
possuem escadas fixas, achei melhor não arriscar. Afinal, são tantas emoções!
Ônibus
Quando estive na cidade, em 2011, andei de ônibus. Na época, os motoristas ajudavam o cadeirante. Eram eles quem nos embarcavam. Como os veículos possuíam
piso baixo, o motorista utilizava uma rampinha bem íngreme, semelhante à encontrada nos ônibus da Infraero.
Não vi nenhum veículo com elevador. Dessa vez, só piso baixo e sem a rampinha.
Peguei o ônibus em uma avenida movimentada da capital. Era dia de semana, por volta das 18 horas. Quando o ônibus abriu a porta, nada do motorista se mexer.
Uma passageira me disse que o motorista alegou que o veículo não tinha rampa. Já estava disposta a esperar pelo próximo, quando outra passageira se indignou
com o pouco caso do motorista e recrutou ajuda. Dois homens me subiram. A partir desse momento, protagonizei um dos meus maiores micos nessa vida. Estava
tão tensa e com medo (a altura é grande! Dá um acidente e tanto!) que nem percebi que minhas companheiras entraram pela porta da frente para pagar a passagem.
Um dos homens me deixou estacionada no local para cadeirantes. Nem me lembrei de freiar a cadeira. Pois bem! Assim que o ônibus arrancou, minha cadeira
andou em direção à porta ainda aberta. Quando vi que não conseguiria me segurar sozinha, soltei a seguinte pérola para uma passageira que estava nos bancos
a minha direita: “puedes ayudarme, por favor”? Minha cara de pânico era tão grande que a mulher deu um pulo do banco e correu em minha direção. Ela me
devolveu para o lugar e me ajudou a frear a cadeira. Na hora do medo, quem disse que sabia falar freio em espanhol? Fiz mímica e disse “abajo”. Não sei
por que a moça riu de mim a viagem inteirinha! O fato da cidade ser plana (ainda mais se comparada à BH) torna a viagem de ônibus bem tranquila.
Na hora de descer, para variar, o motorista nem se mexeu. Pedi ajuda a um rapaz que estava próximo a mim. Ele segurou atrás da cadeira e foi ajudado pelas
minhas companheiras que ficaram do lado de fora do ônibus.
Confesso que cheguei ao hotel toda descabelada e com as mãos sujas de tanto me segurar no ônibus. Mas foi bem divertido! Meu momento dramático ainda tem
rendido boas risadas.
Enfim, seja qual for o meio de transporte, vale muito a pena conhecer Buenos Aires. Sempre que precisei, pude contar com a boa vontade e simpatia dos argentinos.
Assim como no Brasil, onde a acessibilidade não é lá essas coisas, sempre temos um braço amigo pra ajudar.
¤
fonte::rede saci
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