sexta-feira, 27 de junho de 2014
Copa 2014 – Vamos, vamos, Argentina!
Em seu artigo, Adriana Lage comenta sobre a acessibilidade no Mineirão.
Adriana Lage
Adoro futebol. Confesso que minha coragem ainda é menor que a vontade de assistir a um jogo do Galo, mas não poderia deixar de prestigiar a Copa do Mundo.
Como considero caros demais os valores dos ingressos, optei por assistir apenas ao jogo da Argentina com o Irã. Na Copa do Mundo, o cadeirante tem direito
ao ingresso do acompanhante. Mas vale ressaltar alguns pontos:
- Como o local de cadeirante é fixo (por exemplo, no Mineirão, ficamos distribuídos por quase metade do campo, no lado oposto ao banco de reservas), já
compramos o 3º mais caro.
- Os critérios para compra de ingressos para cadeirantes não são os mesmos do público com mobilidade reduzida. Entram nesse grupo, por exemplo, cegos e
gestantes.
- Vi muita gente criticando as fotos que se espalharam pelas redes sociais e telejornais de cadeirantes em pé. Se de um lado tivemos pessoas criticando
a suposta fraude, por outro, pessoas com deficiência tentando justificar o fato. Trazer à tona assuntos como esse é sempre bom, pois ajuda a diminuir a
falta de conhecimento. Particularmente, mesmo que não se trate de uma fraude, não acho que se justifica ficar em pé no local reservado para cadeirantes.
E os torcedores que estão atrás dos cadeirantes? Terão a visão comprometida! No Mineirão, por exemplo, tanto na Copa das Confederações quanto na Copa do
Mundo, os voluntários da FIFA sempre solicitam que não se fique em pé nesse setor. Seja o cadeirante, seu acompanhante ou um transeunte que quis, por alguns
segundos, ter uma visão melhor do jogo. Ou seja, acho que aqui cabem duas palavras básicas e tão raras hoje em dia: educação e respeito!
- Também vale dizer que, tanto na Copa das Confederações quanto na Copa do Mundo, em momento algum (seja na hora de retirar o ingresso ou na entrada do
estádio), verificaram meu laudo médico ou qualquer documentação que comprovasse minha condição de cadeirante. Ou seja, caminho livre para fraudes. Vi num
programa de esportes um anúncio no qual o ingresso para cadeirante já incluía o aluguel da cadeira de rodas. Isso é Brasil!
Considerações à parte, vamos ao jogo. Señoras e Señores, siga la pelota!
Retirada dos ingressos
Aqui em BH, o ponto de entrega dos ingressos fica no Shopping Boulevard. Achei o espaço muito mais acessível e organizado que na Copa das Confederações.
Temos rampas para acessar os guichês e funcionários para nos auxiliar, caso seja preciso.
Como dessa vez pretendia ir de carro para o Mineirão (ainda não foi dessa vez que testei o MOVE), solicitei a credencial de estacionamento. Não tive problemas.
Em menos de 5 minutos, já estava com meus ingressos e credencial na mão.
O jogo: 1 Argentina x 0 Irã
Adorei a acessibilidade no Mineirão e a organização do evento. Mesmo com algumas pequenas falhas, o “padrão FIFA” tem muitos méritos.
Chegada ao Estádio
Credencial adesivada ao carro, modelito alviceleste e lá fomos nós. Optei por sair mais cedo de casa e chegar ao Estádio de forma a não enfrentar filas.
Duas horas antes do início do jogo, já estava saboreando um cachorro quente “padrão FIFA” (parece comida de guerra/avião) após uma sessão de fotos, com
minhas maninhas, na bela Esplanada do Mineirão.
Adirana em sua cadeira, com sua irmã atrás, o estádio ao fundo, e camiseta da Argentina
Nada como ser VIP. Antes mesmo da UFMG, já estávamos na pista reservada para carros com credencial. Estacionamos no CEU. O estacionamento é coberto. O
chão, mesmo sendo de terra, está bem liso e ainda podemos contar com uma rampa de EVA para facilitar nosso deslocamento. Logo que estacionamos o carro,
um voluntário FIFA veio me oferecer ajuda. Ri demais quando ele me perguntou como poderia me carregar. Falei que era só me carregar como uma noiva. Ele
disparou a rir e me disse que ainda não era casado. Na hora de entrar no carro, pós jogo, ele já foi me vendo e abrindo um sorrisão, falando que nunca
mais esquecerá como se carrega uma noiva.
Fui a pé até o Mineirão. No ano passado, achei mais complicado usar o carrinho da FIFA (parece aqueles carrinhos usados em resort e em campos de golfe).
Querendo ou não, temos que sair da cadeira e meu equilíbrio me deu trabalho. Quem preferir, pode usar o carrinho para se deslocar do estacionamento ao
Estádio.
Acessibilidade no Estádio
Foram tantas emoções que acabei esquecendo meu fone de ouvido em casa. Com isso, não pude testar a narração audiodescritiva. Deve ser muito legal! Tomara
que a ideia vingue e permaneça após a Copa. A audiodescrição tem sido utilizada no Mineirão, Maracanã, Mané Garrincha e Itaquerão.
Dizem que o elevador estava funcionando. Como estava com tempo sobrando, preferi usar as rampas do Mineirão.
Adiana em uma rampa bem grande, com sua irmã. A rampa tem paredes e teto de vidro.
O Estádio está lindo! Deu para sobreviver bem no quesito acessibilidade! Duas coisas me chamaram atenção:
1- Banheiro adaptado sem tranca na porta
Assim como na Copa das Confederações, testei um banheiro adaptado que não possuía tranca na porta. O cadeirante tem que deixar um amigo tomando conta da
porta! Também continuei sentindo falta de um espelho. Se bem que confesso que nem sei se é usual ter espelho em estádios de futebol.
2- Falta de atendimento preferencial na Loja da FIFA e em restaurantes
Na hora de enfrentar filas, sem querer, descobri minha invisibilidade. É impressionante como algumas pessoas abusam do fato de estarem em um estádio de
futebol e potencializam sua falta de educação. Para conseguir comprar um Fuleco, tive que puxar a orelha do funcionário da FIFA, após ser ignorada por
várias pessoas que furaram fila, na minha frente, como se eu não existisse. Foi só soltar um “ô moço, cadê o atendimento preferencial? ” para ser atendida
rapidinho e deixar a turma da fila sem graça.
O mesmo aconteceu na hora de garantir o famoso Tropeiro do Mineirão. Como a fila estava enorme e não havia guichê específico para atendimento preferencial,
fui logo atrás de um voluntário. Quando perguntei sobre o atendimento preferencial, ele foi logo me acompanhando até o caixa e, posteriormente, ao balcão
para buscar uma das melhores iguarias da comida mineira.
Na falta de guichês específicos, o jeito é perguntar e fazer valer nosso direito. É claro, de forma simpática. Nada de arrogância ou pregação sobre os
direitos da Pessoa com Deficiência.
Ri demais quando estava na fila para comprar uma água e uma senhora brasileira pensou que eu fosse argentina de verdade. Ela se dirigiu a minha irmã e
disse: “a senhora pode passar adelante”!
Local reservado para cadeirantes
O local para cadeirantes, no Mineirão, é ótimo. Dessa vez, fiquei próxima ao gol do lado direito. Os cadeirantes ficam no lado oposto ao banco de reservas.
A única desvantagem é assistir aos hinos com os jogadores de costas. Nossa, isso me fez lembrar do Hulk! Risos. Recapitulando, a visão é bem legal. Foi
maravilhoso ver o gol do Messi tão de pertinho.
No ano passado, assisti à Semi final Brasil x Uruguai. Foi tudo bem tranquilo e emocionante. Confesso que, dessa vez, passei alguns sustos. “Esa é la banda
loca de la Argentina”! Assim que a alviceleste entrou em campo para o aquecimento, a torcida foi ao delírio. O povo ficou louco. Todo mundo queria tirar
uma foto. De repente, começou o empurra empurra. O espaço entre a cadeira de rodas e a outra arquibancada ficou pequeno para tanta gente.
Para terem uma ideia, o local reservado para cadeirante à minha direita foi invadido por andantes, com direito a um deles em pé na cadeira. Ganhei vários
esbarrões e um empurrão nas costas que fez com que meu tronco tombasse pra frente. Enquanto os ânimos não se acalmaram, minha irmã teve que “me dar um
leve” segurando meu tronco. Muita gente tentou cortar caminho passando na minha frente, se espremendo entre minha cadeira e o vidro. De repente, levei
um empurrão que fez com que minha cadeira tombasse para a direita. Por sorte, minha fiel escudeira me segurou. Na hora do hino, foi emocionante! Que lindo!
A torcida é mesmo apaixonada e louca. Não é que, na hora do hino, tinha um louco, amigo do cadeirante argentino que estava ao meu lado, com um dos pés
apoiado na cadeira do amigo e o outro no vidro que fica na frente dos cadeirantes? O pessoal da FIFA teve trabalho para conseguir tirar as pessoas do setor
dos cadeirantes onde eu estava. Sei lá de onde saiu tanta gente.
Novamente, na hora do intervalo, mais sustos. Além de empurrões, ganhei um copo de cerveja na cabeça! Minha cara de pânico foi ótima... Dizem que tudo
nessa vida tem um lado bom. Sendo assim, descobri que meu fixador de maquiagem é divino! A pior parte, para mim, foi quando levei uma série de empurrões
que fizeram minha cadeira tombar lateralmente algumas vezes. Tenso demais! A pessoa entrava atrás da minha cadeira e, no empurra, empurra, acabava se desequilibrando
e me levando junto. O corpo do meliante trombava no lugar do acompanhante empurrar a cadeira e... madeira! Num próximo jogo, acho que irei de cadeira motorizada.
Risos! Assim vai ser mais difícil deslocar mais de 100 quilos.
Tirando esses pequenos sustos, o local é ótimo. Acredito que isso só aconteceu porque estava próxima a uma das entradas.
A Torcida
Fui vítima de preconceito por parte de alguns amigos. Gente, que mal há torcer pela Argentina? Aqui vale lembrar que o fato de torcer pelos hermanos não
me impedi de torcer também pelo Brasil. Minha paixão pela Argentina vem desde 1986 – xiii! Agora me senti um dinossauro! Quando criança, na época que ainda
nem era cadeirante, me lembro de pular elástico com minhas irmãs. Cada uma era de uma seleção. Eu, é claro, era Diego Maradona. Criança tem cada uma!
É muito lindo a torcida argentina cantando o tempo todo ao invés de gritar. Como diria um amigo, tanta paixão lembra a torcida do Galo.
Enfim, foi uma experiência maravilhosa! Como bem canta a hinchada argentina, “te juro que aunque pasen los años, nunca nos vamos a olvidar”!
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fonte;:rede saci
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