quinta-feira, 20 de março de 2014
Guia de cinema e vídeo para cegos e surdos
Filmes que voam
18/03/2014
Sugestões de acessibilidade para produtores e distribuidores de cinema,
programadores de computador, professores de informática, pais e
estudantes com
deficiências auditiva e visual.
da Redação
Introdução
As sugestões deste guia são fruto de uma experiência profissional em
curso no
www.filmesquevoam.com.br
e das reflexões de quem vive no
cotidiano os desafios
relacionados à acessibilidade – pais, professores, pesquisadores,
roteiristas, intérpretes, programadores.
Optamos por uma abordagem mais prática que teórica, uma síntese técnica
atual do que tem se mostrado eficaz. Para discutir a quantidade de temas
que envolvem
a fruição de um filme com os cinco sentidos, desconstruindo uma
hierarquia dominada pelos olhos, seria preciso voltar alguns séculos e
estudar várias ciências.
Na teoria fílmica, esta reflexão está ancorada na ideia de sinestesia –
a união de planos sensoriais diferentes –, que não parece interessar
muito às produtoras
e distribuidoras de filmes. O "príncipe dos sentidos", como Santo
Agostinho definia o olhar, é quem manda. Poucos se dão conta de que uma
pessoa pode "ver
um filme" de outros modos.
Esta pessoa, parte do público, pode ser um cego, que vivencia o OUVIR
histórias, ou um surdo que vivencia o LER histórias, de forma similar
àquela em que
todo indivíduo RECRIA os espetáculos sensoriais de um filme com a sua
imaginação, única e particular.
Quem convive com pessoas com deficiência visual e auditiva constata que
o cérebro tem potencialidades não utilizadas no cotidiano. Por exemplo,
quando
vê um cego usando o telefone celular com destreza ou quando observa um
surdo desenvolver, com gestos, ideias sofisticadas e precisas.
Segundo o Censo Brasileiro de 2010, há cerca de 15 milhões de pessoas
com deficiências auditivas e visuais. Esse público poderia ter acesso a
filmes brasileiros,
se os produtores, distribuidores e profissionais de comunicação
praticassem a alteridade – colocar-se no lugar do outro.
Hoje é relativamente fácil comunicar-se com pessoas com deficiência.
Existem tecnologias e formas consolidadas. Basta um pouco de atitude.
Tentar usar
os olhos como um surdo e os ouvidos como um cego. São experiências
instrutivas, que estimulam a criatividade e a inteligência.
Este guia não pretende reinventar a roda. A proposta é organizar
recomendações de forma sintética e disseminá-las para que possam virar
uma rotina possível
dentro de cada produtora. Dá para começar de forma simples e direta,
evoluindo aos poucos com pequenas tarefas nos levarão a produzir e
distribuir filmes
mais acessíveis.
Torcemos para que pessoas capazes – na justiça, na medicina e na
ciência, pais, professores e, permitam-nos acreditar, alguns políticos
sensíveis – possam
se ocupar do assunto com honestidade e genuíno interesse.
Ainda há muito a ser desvendado pela neurologia, psicologia e outras
áreas de conhecimento. Novos métodos e ferramentas surgirão. Por isso,
estas indicações
precisarão ser atualizadas de tempos em tempos. Mas não no essencial: a
convicção de que qualquer pessoa pode se envolver com a arte e a cultura
através
dos filmes.
Sugestões para produtores
A primeira coisa que o produtor tem de saber é que não é preciso
inventar o departamento de acessibilidade na empresa, ou cumprir
imediatamente todas as
diretrizes e padrões normativos sobre o tema.
Claro que seria melhor entrar de cabeça no assunto e resolvê-lo de uma
vez por todas, mas existem dificuldades, como a necessidade de
compreender o assunto,
de encontrar de uma cadeia produtiva equipada, falta de profissionais
adequados e, sobretudo, limitação de orçamento. Por isso, opte pelas
atividades mais
fáceis para começar.
Grandes emissoras de TV têm sistemas sofisticados para a produção de
legendas ocultas (closed caption), com profissionais e softwares que
sintetizam e
interpretam as falas, para a legendagem em tempo real. Mas você não
precisa deles porque não tem 24 horas de programas por dia.
Para começar, se os seus filmes não tiverem legendas, chame o seu
assistente de montagem e peça para ele separar todas as listas de
diálogos dos seus filmes,
que podem estar no roteiro e na versão final.
Baixe da internet softwares gratuitos para legendagem e mãos à obra.
Tudo o que o estagiário precisa é de uma versão do filme em baixa
resolução e da lista
de diálogos. Você pode salvar e exportar depois as legendas nos formatos
indicados para cada mídia.
Muitas pessoas com deficiência auditiva e alfabetizadas não vão se
importar se as suas legendas omitirem indicações de sons (o telefone que
toca fora de
cena ou a descrição da música), porque para elas o sentido será
facilmente capturado. Mas, certamente, a legendagem será melhor se você
pedir ajuda a um
especialista para saber quais ruídos são importantes e como desenvolver
essa legendagem de ruídos.
Depois, instrua o responsável pela distribuição para que nenhum DVD ou
vídeo saia sem a opção de legendas em português. Se o assistente de
montagem disser
que não existem as listas, faça. Uma por vez, um filme por dia. Quando
for possível. Festivais de cinema poderiam elaborar sessões específicas
de acessibilidade,
como faz a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
Em projetos futuros
Inclua três linhas na última página do seu orçamento (aquela que fala em
pós-produção): audiodescrição, Libras (Língua Brasileira de Sinais) e
legendagem.
Depois, breves telefonemas ou pesquisas na internet vão indicar a
existência de profissionais especializados. Inclua a palavra
"estimativa" para cada uma
das linhas, e um valor na coluna seguinte.
A estimativa resultante das suas pesquisas vai dar apenas uma base,
porque os preços e o tempo de execução dos serviços variam de acordo com
a região onde
você está e com o tamanho do seu filme. Profissionais realmente
capacitados ainda são poucos, mas cada vez mais escolas e instituições
preparam gente que
pode fazer o trabalho.
A legendagem pode ser feita na própria produtora, com softwares
gratuitos baixados da internet. Eles feram vários formatos, cada um
destinado a mídias
específicas. O mais comum é o “srt”.
A versão em Libras precisa de um tradutor/intérprete, da gravação dessa
interpretação e posterior edição. A audiodescrição precisa de
roteiristas específicos,
narradores e de uma nova edição de som.
Siga os padrões recomendados para a janela da Libras. É bom que o
tradutor receba o material bem antes, para que possa ensaiar a
interpretação. Para gravar,
use como som guia o original. O intérprete vai repetir para a câmera o
que ouve no filme. Depois, na ilha de edição, vai ser mais fácil depois
achar os
pontos de entrada e saída.
Libras e legendas são maneiras diferentes de se comunicar com
deficientes auditivos, ambas válidas. Você pode escolher uma delas,
dependendo do público
que busca. Por exemplo, crianças ainda não alfabetizadas terão
facilidade com Libras.
A audiodescrição servirá para que os cegos “vejam” o seu filme. Ela é
uma narrativa objetiva sobre o que se passa na tela. Nas próximas
páginas, vamos
apresentar sugestões práticas sobre como tornar as obras visuais
acessíveis a esses públicos.
Cegos e surdos no cinema
A formação do gosto pelo cinema começa na infância. Pais, mães e
familiares de crianças surdas, cegas ou com visão subnormal devem
oferecer a elas o maior
acesso possível às produções audiovisuais.
Poucos cinemas brasileiros contam com recursos técnicos para
audiodescrição, como cabines que transmitem a voz para aparelhos de
rádio com fones de ouvido,
ou mesmo os serviços de dublagem ao vivo e legendagem para surdos.
Tramita no Senado um projeto de lei que torna obrigatória a
acessibilidade para filmes nacionais. Você também pode contribuir, seja
como espectador, produtor
cultural ou gestor de empreendimentos.
É muito importante o treinamento dos profissionais que trabalham no
cinema. Às vezes, pequenos detalhes fazem a diferença. Por exemplo,
pisos táteis e
placas com o nome do filme em Braille.
Dicas para lidar com deficientes visuais
Estas orientações servem tanto para os profissionais que atuam em salas
de cinema, teatro e espetáculos musicais como para uso em situações
cotidianas,
como, por exemplo, o atendimento a cegos no comércio e em serviços públicos.
· Identifique-se e faça a pessoa cega perceber que você está falando com
ela.
· Lembre-se de que a pessoa cega dispõe de todas as demais capacidades,
portanto, trate-a com naturalidade.
· Ao guiar um deficiente visual, ofereça o seu antebraço para que ele
possa segurar e acompanhar o movimento do seu corpo enquanto você se
desloca. Não
o pegue pelo braço ou pela bengala.
· Evite acariciar o cão-guia, para não distraí-lo em sua função.
· Dê indicações que sejam claras para quem não enxerga. Por exemplo:
“Venha para a frente e dobre à sua direita”.
· Ao entregar pipocas a um cego, pegue na mão da pessoa e dê o saco para
ela segurar.
· Lembre-se que o cego não pode pegar o refrigerante com a outra mão.
Ele precisa segurar a bengala e ainda no braço ou mão de outra pessoa.
Ofereça ajuda
para transportar o copo.
· Pergunte ao deficiente aonde ele prefere sentar. Pessoas com baixa
visão às vezes enxergam em “tubo” e podem achar mais confortável ficar
nas poltronas
mais afastadas da tela ou do palco.
· Coloque a mão da pessoa no braço ou no encosto da cadeira e deixe que
ela se sente por si mesma.
· Quando for embora, avise ao deficiente visual, para que ele não fique
falando sozinho.
Cultura e linguagem dos surdos
Antes de tudo, é importante saber que surdez não é uma condição única,
ela varia de pessoa para pessoa. A perda auditiva pode ser leve,
moderada, severa
e profunda. Cada um desses graus tem características específicas que
influenciam na acessibilidade.
Quem tem perda auditiva profunda se comunica principalmente usando
linguagem gestual e/ou técnicas de leitura labial. Há também várias
classificações da
perda de audição: por bloqueio das partes móveis do ouvido ou dano ao
nervo auditivo, por exemplo.
Na perda auditiva de som alto, as vozes femininas são mais difíceis de
compreender; e na perda de som baixo, fica mais difícil entender as
vozes masculinas.
Mais que uma condição fisiológica, surdez é um modo de vida. Pessoas com
deficiência auditiva têm um forte grau de pertencimento a uma
comunidade, fortalecido
pelo vínculo linguístico. Compreender essa cultura ajuda na comunicação
e na acessibilidade.
A linguagem gestual é uma das principais formas de comunicação dos
surdos. Elas são línguas próprias, não equivalentes aos idiomas falados.
Há várias versões
– por exemplo, a American Sign Language (ASL), nos Estados Unidos e a
Australian Sign Language (Auslan), na Austrália. No Brasil, a Língua
Brasileira de
Sinais (Libras) é reconhecida como meio oficial de comunicação entre as
pessoas surdas. Em Portugal, usa-se a Língua Gestual Portuguesa (LGP).
Há também
variações regionais.
Outra forma de comunicação é a leitura labial, em que os surdos
oralizados são treinados a “ler os lábios” dos interlocutores. Seus
defensores argumentam
que ela encoraja as pessoas surdas a fazer parte do conjunto da
sociedade. A desvantagem é a inexatidão – leitores de lábios compreendem
de 40% a 60% do
que as pessoas dizem.
Tenha em mente que:
· Nem todas as pessoas surdas falam a língua de sinais.
· Nem todo mundo fala a mesma linguagem gestual.
Para se comunicar em Libras, é preciso combinar configurações de mão,
movimentos e pontos de articulação – locais no espaço ou no corpo onde
os sinais
são feitos. Existem profissionais especializados em traduzir produtos
audiovisuais para a língua dos surdos. Procure os cursos universitários
de Letras-Libras
ou associações de surdos.
Dicas para lidar com deficientes auditivos
Algumas destas dicas para lidar com deficientes auditivos se aplicam a
situações sociais em geral e também ao ambiente dos cinemas e outros
espaços de
espetáculos públicos:
· Fale diretamente com a pessoa, e não de lado ou atrás dela.
· Pronuncie suas frases devagar, mas com naturalidade.
· O volume de voz depende da perda de audição da pessoa. Comece falando
com o tom de voz habitual e, se a pessoa solicitar, fale mais alto ou
mais baixo.
· Faça com que a sua boca esteja bem visível, para permitir a leitura
labial.
· Não fale mastigando, pois isso torna os lábios ilegíveis.
· Para chamar um surdo, faça algum sinal visual ou tátil, como acenar,
acender e apagar uma luz ou até tocar o ombro da pessoa de leve.
· Quando falar com uma pessoa surda, tente ficar num lugar iluminado.
Evite ficar contra a luz, pois isso dificulta ver o seu rosto. Se
estiver na penumbra
da sala de cinema, use lanterna ou a luz da tela do celular.
· As expressões faciais, os gestos e o movimento do seu corpo serão
excelentes indicações do que você quer dizer.
· Enquanto estiver conversando, mantenha sempre contato visual. Se você
desviar o olhar, a pessoa surda pode achar que a conversa terminou.
· Se for necessário, comunique-se com a pessoa surda através de
bilhetes. O importante é se comunicar.
· Quando a pessoa surda estiver acompanhada de um intérprete, dirija-se
à pessoa surda, não ao intérprete.
· Se você se sentir inseguro, pergunte. Não tenha vergonha de pedir para
a pessoa repetir.
Normas técnicas de acessibilidade na TV
Um documento de referência indispensável para produtores audiovisuais,
educadores, gestores de espaços de cultura e o público em geral é a NBR
15290, Acessibilidade
em Comunicação na televisão, publicada em 2005 pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
A Norma estabelece preceitos para viabilizar ao maior número possível de
pessoas o acesso à programação televisiva. Resumimos as principais
orientações
sobre legendas e janela de Libras (veja onde baixar a íntegra em Fontes
de Referência, ao final deste Guia):
Diretrizes para legenda oculta em texto
· Alinhamentos. Para produção de legenda oculta nos sistemas closed
caption (CC, textos que aparecem opcionalmente na tela do televisor, a
partir do acionamento
de dispositivo decodificador), no sistema ao vivo, as legendas devem ser
alinhadas à esquerda; no sistema pré-gravado, o alinhamento deve ser o
que melhor
informar o espectador, dependendo da posição do falante.
· Caracteres. Devem ser de cor branca, para permitir maior eficácia na
leitura, e estar centralizados em relação à tarja, de modo a permitir a
acentuação,
a cedilha e a inscrição das letras G, J, P, Q e Y sem alterar o tamanho
e o alinhamento horizontal. Cada linha deve apresentar no máximo 32
caracteres.
· Fundo/tarja. Nos sistemas CC ao vivo ou pré-gravado, deve ser de cor
preta para proporcionar ótimo contraste e facilitar a leitura.
· Número de linhas. No sistema CC ao vivo, o ideal e utilizar até três
das linhas disponíveis no display da legenda. No CC pré-gravado, pode
ser utilizado
o número de linhas que melhor informar ao espectador, dependendo de
fatores como quantidade de caracteres, o número e posição de falantes em
cena, etc.
· Posicionamento. No sistema CC ao vivo, a legenda deve estar
preferencialmente na parte inferior da tela. Quando houver necessidade
de inserção de outros
textos na parte inferior, a legenda deve ir para o alto da tela. No
sistema CC pré-gravado, pode-se posicionar a legenda em diferentes
níveis, de acordo
com situações cênicas específicas. A legenda deve estar próxima à pessoa
que está falando.
· Sinais e símbolos.
o Aspas ( “ ) – devem ser usadas para citações, títulos de livros,
filmes, peças de teatro, palavras ditas de forma errada, etc.
o Início ( >> ) – no sistema CC ao vivo, deve ser usado para informar a
troca da pessoa que está falando.
o Hífens ( -- ) – devem ser usados para indicar interrupção da fala;
o Nota musical – esse símbolo deve ser inserido no começo de uma música,
fundo musical, voz cantada etc., e ficar por algum tempo, retomando
tantas vezes
quanto necessário, até entrar o texto.
· Sincronia. Ao vivo, o operador ouve antes e depois envia o texto, com
atraso máximo tolerado de quatro segundos. Em sistema CC pré-gravado, a
legenda
deve acompanhar o tempo exato do quadro ou da cena (frame).
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· Efeitos sonoros. Todos os sons não literais, importantes para a
compreensão do texto, devem ser transcritos e indicados entre colchetes.
Por exemplo:
[Latidos], [Criança chorando], [Trovoadas], [Porta rangendo].
· Falas e ruídos. Quando houver informações simultâneas de fala e sons
não literais, a fala deve estar posicionada próxima ao falante e o som
não literal,
entre colchetes.
· Identificação dos falantes. Quando a situação cênica não permite a
identificação de quem está falando, ou o personagem está fora de cena
(em off), o
nome do personagem ou alguma informação que o identifique deve aparecer
entre colchetes. Ex.: [João]; [Menino]; [Policial].
· Itálico. Deve ser usado para identificar falas fora de cena, narração,
enfatizar entonação e para palavras em outra língua.
· Música.
o A informação sobre a música (se é fundo musical, rock, trilha de
suspense etc.) deve vir entre notas musicais.
o No caso de transcrição da letra, duas notas musicais seguidas, ao
final da transcrição, devem indicar o seu término.
o Sempre que possível, a letra da música deve ser transcrita.
· Onomatopeias. O uso de informação literal do som deve ter preferência.
Por exemplo, [latidos], e não [au-au]. Em programas infantis e cômicos,
pode-se
dar preferência às onomatopeias.
· Tempo de exposição. Depende de vários fatores, como velocidade da
fala, quantidade de palavras e de cortes de cena. Recomenda-se a
seguinte exposição:
o Legendas de uma linha completa: 2 a 3 segundos.
o Legendas de duas linhas: 3 segundos.
o Legendas de três linhas: 4,5 a 5 segundos.
o Legendas para público infantil: 3 a 4 segundos por linha – usar frase
simples e concisas.
Diretrizes para a janela de Libras
· Estúdio. O local onde será gravada a imagem do intérprete em Libras
deve ter:
o Espaço suficiente para que o intérprete não fique colado ao fundo,
evitando assim o aparecimento de sombras.
o Iluminação suficiente e adequada para que a câmera possa captar, com
qualidade, o intérprete e o fundo.
o Câmera de vídeo apoiada sobre tripé fixo.
o Marcação no solo para delimitar o espaço de movimentação do intérprete.
· Janela.
o Os contrastes devem ser nítidos, quer em cores, quer em preto e branco.
o Deve haver contraste entre o pano de fundo e os elementos do intérprete.
o O foco deve abranger toda a movimentação e gesticulação do intérprete.
o A iluminação adequada deve evitar o aparecimento de sombras nos olhos
e/ou o seu ofuscamento.
· Recorte ou wipe. Quando a imagem do intérprete de Libras estiver no
recorte:
o a altura da janela deve ser, no mínimo, metade da tela do televisor;
o a largura da janela deve ocupar no mínimo a quarta parte da largura da
tela do televisor;
o sempre que possível, o recorte deve estar localizado de modo a não ser
encoberto pela tarja preta da legenda oculta;
o quando houver necessidade de deslocamento do recorte na tela do
televisor, deve haver continuidade na imagem da janela.
· Requisitos para a interpretação e visualização da Libras. Para boa
visualização da interpretação, devem ser atendidas as seguintes condições:
o a vestimenta, a pele e o cabelo do intérprete devem ser contrastantes
entre si e entre o fundo. Evitar fundo e vestimenta em tons próximos ao
tom da
pele do intérprete;
o no recorte não devem ser incluídas ou sobrepostas quaisquer outras
imagens.
Produção de DVD
Ao produzir um DVD, deve-se incluir os seguintes recursos:
· idioma original;
· dublagem de língua estrangeira para o português;
· CC no idioma original;
· CC em língua portuguesa;
· descrição em áudio de imagens e sons, na língua portuguesa,
preservando as características dos efeitos estéreo e estéreo digital,
bem como a qualidade
do áudio;
· janela com intérprete de Libras;
· suporte de voz para permitir navegação pelos menus.
Dicas de um intérprete
O intérprete de Libras Tom Min Alves dá algumas sugestões e dicas
práticas sobre acessibilidade para surdos em produções audiovisuais e em
locais de exibição:
· A cor da roupa do intérprete pode variar, para tornar a produção mais
dinâmica: por exemplo, um figurino adaptado a um filme infantil de piratas.
· Assim como os ouvintes aprendem uma segunda língua ao ver um filme
estrangeiro com legenda, o surdo poderia desenvolver o seu português se
pudesse visualizar
ao mesmo tempo a janela de Libras e a legenda.
· Em salas de cinema, pelo menos um dos profissionais que atendem o
público deveria ser razoavelmente fluente em Libras. Também seria
interessante a contratação
de alguém com proficiência na Língua de Sinais. Essa pessoa poderia dar
treinamento às equipes de lojas no shopping center, por exemplo.
· O cinema que contar com estrutura de acessibilidade aos deficientes
pode afixar cartaz com o símbolo nacional de surdez.
Dicas de um espectador surdo
Algumas sugestões práticas de Germano Dutra, estudante de cinema na
UFSC, para a produção de legendas em produtos audiovisuais:
· Dê preferência a descrições objetivas e evite redundância com o que
está sendo visto.
· Use linguagem sintética, mas seja fiel ao conteúdo.
· Descreva os sons relevantes para a compreensão da história. Por
exemplo, em um filme romântico, quando o casal se encontra, coloque o
símbolo de música
e acrescente [Música romântica]
· Em comédias, não é preciso dizer quando é hora de rir, exceto quando
há claque de risadas.
· Use closed caption em comerciais. Surdo também faz compras.
· Evite legendas com corpo muito pequeno. Isso costuma ocorrer em
propagandas políticas.
· Quando a voz estiver em off, coloque as letras em itálico.
· Indique quando a voz for sussurrada, se isso tiver importância na
narrativa.
Audiodescrição
Audiodescrição é um recurso de acessibilidade que permite acesso de
pessoas com deficiência visual, entre outras, ao cinema, teatro,
programas de TV, exposições,
espetáculos de dança, passeios turísticos, eventos acadêmicos etc. Ela é
fundamental para a inclusão de milhões de pessoas ao lazer, à cultura e
ao conhecimento.
Desde 1º. de julho de 2011, as emissoras de TV no Brasil são obrigadas a
exibir pelo menos duas horas semanais de produções adaptadas para o
público com
alguma deficiência visual ou intelectual. Até 2020, as geradoras e
retransmissoras devem exibir 20 horas semanais de programação adaptada.
Profissional e informal
Usualmente, a audiodescrição é realizada por atores treinados, a partir
de um roteiro que segue padrões e técnicas específicas. Ela pode ser
gravada, ao
vivo ensaiada, ao vivo simultânea e em filmes estrangeiros não dublados.
Certas modalidades requerem apoio técnico e ferramentas como roteiro,
cópia do
filme com time code para sincronização de áudio e vídeo, cabines de
tradução simultânea e equipamento para edição do áudio.
Muitos deficientes visuais veem filmes com audiodescrição informal,
feita por familiares e amigos. Em geral, ela é improvisada e emotiva,
mas nem por isso,
menos importante. O conhecimento das preferências das pessoas
deficientes pode ajudar a descrever o que é mais interessante e
necessário para elas. Várias
orientações que apresentamos para a audiodescrição profissional podem
ser aplicar também nesses casos.
Definições
Algumas definições e comentários de especialistas ajudam a compreender
melhor as principais características da audiodescrição:
“...é uma atividade de mediação linguística, uma modalidade de tradução
intersemiótica que transforma o visual em verbal,...contribuindo para a
inclusão
cultural, social e escolar. Além das pessoas com deficiência visual, ela
amplia também o entendimento de pessoas com deficiência intelectual,
idosos e
disléxicos”. (Lívia Motta – vercompalavras.com.br)
“...consiste na descrição clara e objetiva de todas as informações que
compreendemos visualmente e que não estão contidas nos diálogos, como,
por exemplo,
expressões faciais e corporais que comuniquem algo, informações sobre o
ambiente figurinos, efeitos especiais, mudanças de tempo e espaço, além
da leitura
de créditos, títulos e qualquer informação escrita na tela”. (Graciela
Pozzobon e Lara Pozzobon – audiodescricao.com.br)
“...é uma forma de leitura reveladora que evoca em seu público uma
multiplicidade de sensações e sentimentos capazes de gerar uma revolução
sensitiva muito
necessária para a formação do gosto cinematográfico”. (Bell Machado –
Ponto de Cultura)
Diretrizes para audiodescrição
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) publicou um estudo com sugestões para o desenvolvimento da
audiodescrição no
Brasil.1 Sintetizamos algumas delas, acrescidas de um conjunto de
diretrizes do American Council of the Blind (Conselho Americano dos
Cegos)2. As sugestões
abordam questões como a linguagem cinematográfica, o grau de
detalhamento e as preferências individuais.
Uma diretriz importante é que a audiodescrição não deve interferir no
diálogo existente. Isso significa que há um tempo limitado no do qual a
descrição
deverá ser feita. Logo, nem tudo o que poderia ser descrito, o será.
Estudos acadêmicos sugerem os seguintes procedimentos para uma boa
audiodescrição:
· Siga do geral para o particular, criando primeiro um contexto (espaço,
tempo, situação) para passar em seguida aos detalhes.
· Responda as quatro perguntas básicas: Quando? Onde? Quem? e O quê? As
duas primeiras situam o espectador no tempo e no espaço como dia ou
noite, nublado
ou ensolarado. A terceira descreve quem aparece na cena: características
físicas e relacionais do(s) personagem(s), vestuário, se é pai, mãe,
namorado,
etc. A última, “o quê”, descreve movimentos e gestos expressivos.
· Faça uma descrição objetiva, com linguagem acurada e apropriada.
· Escreva com simplicidade, clareza e concisão.
· Descreva no tempo presente.
· Evite termos técnicos, a menos que seja absolutamente necessário.
· Evite a descrição excessiva, que às vezes antecipa a narrativa e
desfaz as ambiguidades propositais do filme, retirando parte de seu
encanto.
· Leve em consideração a paleta sonora com todas as possibilidades que
ela oferece na construção do sentido. O silêncio, em certas situações,
pode ter
o seu valor.
· Não use termos ofensivos ou racistas (mas descreva a etnia quando
relevante).
· Experimente e invente um pouco, para tentar da conta da singularidade
de cada filme.
· Envolva os deficientes visuais no processo.
1 DAVID, Jéssica; HAUTEQUESTT, Felipe, e KASTRUP, Virginia.
Audiodescrição de filmes: experiência, objetividade e acessibilidade
cultural. Fractal : Revista
de Psicologia. Vol.24, N.1, Rio de Janeiro Janeiro/abril 2012.
2 AMERICAN COUNCIL OF BLIND. Guidelines for Audio Description. 2003.
Disponível em
http://www.acb.org/adp/guidelines.html.
O que é descrição objetiva?
A descrição “objetiva” tem sido entendida como aquela que não demonstra
envolvimento afetivo ou emocional com o filme. Mas, muitas vezes, a
pretensa neutralidade
pode produzir efeitos indesejáveis, com descrições monocórdias e
robóticas. A descrição deve ser integrada à paisagem do filme, sem
interpretar nem atribuir
juízos de valor, mas com ritmo e adequação ao contexto.
Dicas de uma roteirista
A roteirista Mônica Magnani faz audiodescrições de filmes e outros
produtos audiovisuais para emissoras de televisão. Ela compartilha
algumas dicas práticas:
- Ouça quem entende. É fundamental para o roteirista ter um consultor
cego ou de baixa visão. Caso não seja possível, já que o prazo de
entrega é sempre
muito curto, conta-se com o diretor de gravação para fazer os ajustes
necessários. Também ajuda participar de listas de discussão.
- Assista ao filme todo. Este é o primeiro passo do trabalho, para
detectar as “clareiras” de silêncio e as características da obra. Em
seguida, passa-se
ao roteiro.
- Considere o público-alvo. Se o filme é para crianças, por exemplo, é
importante evitar o vocabulário complexo ou rebuscado.
- Redija com qualidade e rapidez. Roteirizar é um trabalho artesanal
meticuloso que requer correções e ajustes. Também deve ser feito com
qualidade e rapidez,
pois, em geral, o roteirista dispõe de poucos dias de prazo.
- Descreva o que vê, sem interpretar nem antecipar situações. Este é um
dos maiores desafios para o roteirista. Alguns cegos classificam, com
bom humor,
de “audiodestruição” a audiodescrição que vai além da sua função básica.
Exemplos:
- Como NÃO descrever uma cena. “Dois rapazes se cumprimentam com um
abraço efusivo, como se fossem amigos de infância”.
- Como descrever a mesma cena. “Dois rapazes se cumprimentam com um
abraço e sorriem”.
- Atenção ao citar cores. Descreva as cores para ajudar as pessoas com
baixa visão a localizarem o que está sendo descrito e para compartilhar
o significado
emocional da cor na produção. Exemplos: mulher de vestido vermelho
berrante em um velório; cor branca como símbolo de “paz”.
- Adote uma narração “branca”. Não apenas o roteirista deve evitar uma
carga interpretativa muito forte, como também o narrador. Mas deve-se
buscar um
meio termo, evitando uma linguagem “robótica”.
- Use vozes distintas. Vozes idênticas ou muito parecidas produzem
confusão para o espectador cego. A voz do audiodescritor não deve ser a
mesma da dos
personagens.
- Nomeie no momento adequado. O ideal é falar o nome do personagem
quando o mesmo for nomeado no filme, o que nem sempre ocorre no início.
Depois, não
é preciso
voltar a fazê-lo, exceto quando há muita gente falando ao mesmo tempo.
Use o bom senso.
- Economize adjetivos. A adjetivação torna o texto interpretativo e não
é apreciada. Deve-se também evitar o pronome possessivo em excesso
(“seu”, “sua”),
que pode provocar ambiguidade. - Evite a “linguagem vazia” – palavras
que não dizem o que se está vendo. - Como NÃO descrever uma cena:
“Amanhece. Vista
aérea da cidade, com os prédios ao fundo”. - Como descrever a mesma
cena: “Amanhece. Céu em tons de azul e laranja. Algumas nuvens. Cidade
coberta por
uma tênue névoa”.
- Inclua um resumo dos créditos. Os cegos gostam de saber quem fez o
filme. A sugestão é citar diretor, roteirista, produtor executivo e
atores principais.
Acessibilidade na web
Sintetizamos algumas orientações para quem programa, produz e publica na
internet tornar o resultado do seu trabalho acessível a um amplo grupo
de pessoas
com deficiência – cegueira e baixa visão, surdez e baixa audição,
dificuldades de aprendizagem, limitações cognitivas e outras.
Estas recomendações são introdutórias e se baseiam no trabalho do W3C
(Word Wide Web Consortium), comunidade internacional que cria padrões
abertos para
assegurar o crescimento de longo prazo da Web. Sugerimos a leitura do
documento WCAG 2.0 (Diretrizes de Acessibilidade ao Conteúdo Web) – veja
o link ao
final deste Guia.
Princípio 1: Conteúdo perceptível
A informação e os componentes da interface devem apresentados aos
usuários em formas que eles possam perceber.
· Forneça equivalentes textuais para qualquer conteúdo não textual, de
forma a permitir impressão em caracteres ampliados, Braille, fala
(sintetizadores
de voz), símbolos etc. Os elementos não textuais mais comuns são imagens
de figuras, fotografias, botões, animações, mapas, filmes e sons.
o Em código HTML, o atributo “ALT” (alternativo) é útil para fornecer
descrições simples, como legendas de fotos e instruções de botões.
o Para explicações muito longas ou complexas – por exemplo, de um
gráfico –, utilize o ALT para um resumo e também o atributo “LONGDESC”
(descrição longa)
ou um “D” link, que permitem aos usuários acessar um texto em janela
separada.
o Evite usar o “ALT” para bombardear o usuário com informações inúteis
ou meramente decorativas, como “um espaçador” ou “uma linha azul”.
Nesses casos,
use o valor vazio para o atributo: ALT (alt=“ “). Deixe um espaço em
branco entre as aspas, para que o ALT seja ignorado por leitores de tela.
o Ao dar link para um site externo, acrescente a informação (alt=“site
externo”)
· Áudio e vídeo devem ser acompanhados de legendas, audiodescrição ou
tradução em língua de sinais.
· Facilite a visualização. A cor não deve ser o único meio visual para
transmitir informações.
· Se o som tocar por mais de três segundos, deve estar presente um
mecanismo para pausar, parar e controlar o volume.
· O texto deve ser redimensionável e contrastável com o fundo. O ideal é
que as cores do primeiro plano e do plano de fundo possam ser alteradas
pelo usuário.
Princípio 2: Conteúdo operável
· Toda a funcionalidade do conteúdo deve ser operável através de
teclado. Isso não significa, entretanto, desencorajar a entrada de dados
através do mouse
ou outros métodos, em conjunto com o teclado.
· O site precisa fornecer tempo suficiente para os usuários lerem e
utilizarem o conteúdo.
· Deve-se evitar conteúdo que possa causar ataques epiléticos – com mais
de três flashes no período de um segundo.
· Sites acessíveis fornecem meios de ajudar os usuários a navegar,
localizar conteúdos e determinar o local onde estão.
Princípio 3: Conteúdo compreensível
· A informação e a operação da interface de usuário devem ter formas de
aumentar a legibilidade, tais como mecanismos para identificar palavras
incomuns,
jargões, abreviaturas e pronúncia.
· É importante fazer com que as páginas Web surjam e funcionem de forma
previsível. Isso inclui, por exemplo, uma navegação consistente, com os
mesmos
mecanismos repetidos na mesma ordem e posição em um conjunto de páginas.
Princípio 4: Conteúdo robusto
· É recomendável que o conteúdo seja compatível com os atuais e futuros
agentes de usuário, tais como navegadores, leitores de mídia, plug-ins e
tecnologias
de assistência que ajudam a interagir com conteúdos Web.
Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página
· Falta de clareza e consistência na organização das páginas.
· Imagens que não possuem texto alternativo.
· Imagens complexas. Exemplo: gráfico ou imagem com importante
significado que não possui descrição adequada.
· Vídeos que não possuem descrição textual ou sonora.
· Tabelas que não fazem sentido quando lidas célula por célula ou em
modo linearizado.
· Frames que não possuem a alternativa "noframe", ou que não possuem
nomes significativos.
· Formulários que não podem ser navegados com a tecla “Tab” em uma
sequência lógica ou que não estão rotulados.
· Navegadores e ferramentas que não têm suporte de teclado para todos os
comandos.
· Documentos formatados sem seguir os padrões web que podem dificultar a
interpretação por leitores de tela.
· Fontes com tamanhos absolutos, que não podem ser aumentadas ou
reduzidas facilmente.
· Uso de linguagem complexa sem necessidade.
Uma dica de ouro: testar e validar
Ao construir um site que ofereça o máximo de acessibilidade aos
visitantes, teste-o com validadores automáticos e com pessoas com
deficiência especialistas
no assunto. Experimente o uso de diversos navegadores, como o Webvox,
Lynx, Firefox, Opera, Internet Explorer e Safari. Revise a linguagem
para deixá-la
clara e simples. Revise o código para eliminar erros e adequá-lo aos
padrões Web. Deixe as páginas ajustadas ao tamanho das letras em todo o
site. Imagine-se
no lugar dos usuários e tente antecipar suas dificuldades. E esteja
sempre pronto(a) a aprender.
¤
fonte:rede saci
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