quinta-feira, 16 de maio de 2013
REGRETE POSITIVA NAO SIGNIFICA UM NOVO BRAILLE ,APENAS UMA FORMA NOVA DE ESCREVER
aprendizado do
sistema de escrita e leitura
braille. --------------------------------------------------------------------------------Apoiada
pelo Programa Pesquisa Inovativa
em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, a empresa já iniciou a
comercialização do produto no Brasil e tem planos de exportá-lo.
"Ao todo, o processo de desenvolvimento do produto e de testes em
instituições que atendem pessoas com deficiência visual levou seis anos",
disse Aline
Picolli Otalara, fundadora da empresa, à Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisadora, a reglete convencional existe desde 1837,
quando o francês Louis Braille (1809-1852) apresentou a primeira versão do
instrumento,
composto por duas placas de metal ou plástico, do tamanho de pequenas réguas
escolares, fixas uma na outra por meio de uma dobradiça na lateral esquerda
e com um espaço entre elas para permitir a introdução de uma folha de papel.
A placa superior possui diversos retângulos vazados, correspondentes aos
espaços de escrita em braille (denominadas celas braille). Já a placa
inferior
tem celas braille com seis pontos côncavos (em baixo relevo) em cada uma
delas.
Ao introduzir um instrumento (chamado punção) com uma ponta côncava dentro
de cada retângulo vazado da placa superior da reglete, pressiona-se a folha
de papel entre as duas placas contra os pontos côncavos dispostos na placa
inferior para formar o símbolo braille correspondente às letras, números ou
qualquer outro caractere que se deseja escrever. Com a folha virada do lado
contrário ao que foi inserida na reglete, os deficientes visuais conseguem
identificar, por meio da leitura tátil, os pontos em relevo formados pela
pressão exercida pela punção na folha de papel.
Um dos problemas apresentados por esse dispositivo convencional, no entanto,
é que, em razão de os pontos serem escritos em baixo relevo e a leitura ser
realizada em alto relevo, a escrita é iniciada do lado direito e os
caracteres são escritos espelhados de modo que, quando a folha é virada para
a leitura
(realizada da esquerda para direita), os caracteres estejam do lado correto.
Além disso, no Sistema Braille diversas letras são o reflexo invertido de
outras. "Isso gera um esforço maior de quem está aprendendo o sistema
braille,
porque ele tem de aprender um alfabeto para ler e outro para escrever",
afirmou Otalara.
A fim de solucionar o problema, em 2007, por meio de um projeto apoiado pelo
PIPE, a empresa fundada pela pesquisadora desenvolveu uma reglete
esteticamente
similar ao instrumento convencional, que possibilita escrever os pontos já
em alto relevo.
Para isso, ao contrário da reglete convencional, a placa inferior do
instrumento possui os seis pontos em cada cela braille na forma convexa (em
alto relevo).
Para marcá-los, a Tece desenvolveu um instrumento de punção similar a uma
caneta sem ponta e com concavidade fechada que, ao ser pressionado sobre a
folha
de papel entre as duas placas da reglete, forma os pontos já em alto relevo.
Dessa forma, o usuário pode começar a escrever da esquerda para a direita,
porque não é necessário virar a folha para ler o que foi escrito. Além
disso,
precisa aprender um único alfabeto tanto para ler como para escrever em
braille.
"Nós desenvolvemos ao longo do projeto diversos protótipos do produto para
avaliar alguns problemas técnicos causados por essa inversão na escrita
braille",
disse Otalara.
Desafios
Um desses problemas técnicos, segundo a pesquisadora, é que os seis pontos
em cada cela braille são muito próximos uns dos outros. Ao marcar um ponto
convexo
com a punção com a cavidade fechada para fazer um símbolo braille já em alto
relevo, se formava um ponto "fantasma" que gerava dificuldade de leitura
pelos
deficientes visuais.
Na primeira fase do projeto, os pesquisadores da empresa criaram diversos
protótipos, com diferentes distâncias entre os pontos, e realizaram uma
série
de testes de leitura dos textos escritos com o novo instrumento.
"O surgimento desses 'pontos fantasmas' foi o fator que tinha impedido, até
então, o desenvolvimento desse material", disse Otalara. "Todas as
tentativas
anteriores de desenvolver uma reglete que já escreve em alto relevo
fracassaram porque não conseguiram superar essa etapa", afirmou.
Curso na Unesp
Por meio de outro projeto, também com apoio do PIPE, a empresa realizou um
curso de Sistema Braille para avaliar o tempo de aprendizado dos
participantes
por meio da reglete que desenvolveram.
O curso foi realizado com alunos do curso de licenciatura em pedagogia da
Unesp de Rio Claro porque, de acordo com Otalara, era difícil encontrar
alunos
com deficiência visual que ainda não tivessem tido contato com a reglete
comum. Por outro lado, os estudantes de pedagogia representam o maior
público
usuário desse tipo de material.
"Há um número muito maior de professores aprendendo Sistema Braille do que,
de fato, deficientes cegos", estima a pesquisadora.
Os pesquisadores constataram que, com a reglete que desenvolveram, foi
possível reduzir em 60% o tempo de aprendizado do Sistema Braille pelos
futuros
educadores. Com isso, de acordo com Otalara, é possível diminuir o
investimento em formação de professores, facilitar o aprendizado e aumentar
o interesse
do público, em geral, em aprender o Sistema Braille.
"Há uma impressão muito negativa sobre o Sistema Braille. As pessoas já
imaginam que é difícil aprender e, quando viam que tinham de aprender a
escrever
ao contrário, o estigma, principalmente por parte de professores e crianças,
aumentava ainda mais", disse Otalara.
O produto foi batizado pela empresa de "reglete positiva", porque, no ensino
de braille, os pontos em baixo relevo, que não aparecem no momento da
escrita,
são chamados pontos negativos. Já os pontos em alto relevo - legíveis e
sensíveis ao toque com a folha virada do lado contrário ao que os pontos
foram
marcados pela punção escrita - são chamados de pontos positivos.
Máquina de escrever em braille
Alguns dos resultados do projeto da reglete positiva serão utilizados pela
empresa para desenvolver, também com apoio do PIPE, uma máquina de escrever
em braille.
Muito utilizado por pessoas com deficiência visual tanto em sala de aula
como no mercado de trabalho, o equipamento é relativamente caro - custa em
torno
de R$ 2 mil -, ainda não há nenhum fabricado no Brasil e sofreu poucas
variações desde que foi criado.
A empresa brasileira pretende desenvolver uma versão nacional do produto,
torná-lo mais viável economicamente e melhorar alguns aspectos técnicos,
como
peso e design, para diminuir o esforço do usuário para manuseá-lo e
transportá-lo.
Para desenvolver o protótipo, a empresa fez uma parceria com o Centro de
Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, de Campinas, que possui um
centro
de prototipagem e um laboratório de tecnologia assistiva.
As seis teclas correspondentes aos pontos braille e o material impresso pelo
equipamento seguirão o padrão da reglete positiva desenvolvida pela empresa.
Apesar de ser um pouco maior do que o utilizado na escrita em braille em
baixo relevo (negativa), o novo padrão facilita a leitura tátil.
"Como os pontos são um pouco mais 'gordinhos', eles são mais parecidos com o
braille impresso em livros", comparou Otalara. "Por isso, são mais fáceis
de serem lidos por meio da leitura tátil", afirmou.
O desenvolvimento da reglete positiva resultou em um pedido de patente, que
está em processo de avaliação. O produto é vendido no
site da empresa
- que possui recursos de navegação para pessoas com deficiência visual - e
em lojas especializadas.
Agência FAPESP
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