Silêncio e sons se afinam no mesmo tom, em “
Malhação
”, para gritar numa só voz — emitida pela linguagem oral ou de sinais — que a surdez é invisível, mas os surdos, não. Na novela, Giovanna Rispoli interpreta
a deficiente auditiva Milena, paciente e amiga da fonoaudióloga
surda
Sara, personagem vivida por Tatá Cordazzo, atriz que perdeu a capacidade de ouvir com poucos meses de vida.
A mensagem de inclusão e representatividade transmitida em cena e fora dela proporciona às artistas uma rica troca de experiências, com direito a ensinar
e aprender a lição de que é preciso combater diariamente o preconceito que insiste em assombrar tanto na ficção quanto na vida real.
— A sociedade não tem conhecimento desse universo da surdez, como eu também não tinha. Isso precisa mudar! Fico feliz quando alguém me conta que começou
a fazer
curso de libras
por causa da minha personagem. Bate uma sensação de dever cumprido. Antes de contracenar com Tatá, só tinha entrado em contato com surdos que preferem
usar as libras, mas ela me mostrou a outra parte da comunidade, os que falam. Milena é uma mistura porque sinaliza e oraliza — diz Giovanna, de 17 anos,
em referência a sua personagem em “Malhação”.
Foi com o auxílio de um aparelho auditivo que Tatá começou a escutar aos 5 anos e, pouco a pouco, a desenvolver a fala através de sessões de fonoaudiologia.
A deficiência auditiva não a impediu de acreditar que seria possível seguir carreira artística.
— Sempre sonhei fazer novela. Até achava que era uma realidade um pouco distante, mas nunca associei uma eventual incapacidade à minha surdez. Existem
barreiras na profissão por conta da deficiência, mas em “Tempo de amar” (2017), por exemplo, participei do elenco de apoio e minha personagem (Aline) não
era surda. Espero que surjam novos convites para eu fazer personagens ouvintes, mas também me sinto feliz com papéis de deficientes auditivas, já que essa
é uma chance de dar visibilidade aos surdos e combater o preconceito — explica a atriz de 30 anos.
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Giovanna Rispoli e Tatá Cordazzo dividem a cena em “Malhação”
Na trama, Milena não é discriminada e leva uma vida normal. Já Tatá reconhece que, no passado, sentiu o peso de não ser exatamente igual às outras meninas.
— A adolescência é cruel, porque nessa fase é complicado ser diferente. Apesar de ter me sentido isolada em muitos momentos, sempre aceitei minha deficiência.
Mas, infelizmente, muitos jovens têm vergonha de usar o aparelho auditivo. A deficiência não pode limitar nossos sonhos. Como todo mundo, a gente pode
amar, viver e se divertir — frisa a intérprete de Sara.
A responsabilidade de ser uma porta-voz dessa causa é motivo de muito orgulho para Giovanna:
— Milena me trouxe um olhar mais sensível e alegre perante o mundo.
Surdez sem preconceito
Autora do livro “
Crônicas da surdez
”, palestrante e criadora do site surdosqueouvem.com.br, a deficiente auditiva Paula Pfeifer, que ouve através do implante coclear — dispositivo eletrônico
que visa a proporcionar a seus usuários sensação auditiva próxima ao fisiológico —, foi quem deu a ideia à equipe de “Malhação” para que uma atriz surda
fosse escalada para atuar na trama.
— Minha sugestão foi para que prestassem atenção nas atrizes que têm deficiência auditiva na vida real, especialmente em Tatá, que havia acabado de fazer
uma novela na Globo (“Tempo de amar”, de 2017). É muito poderoso quando você se vê de fato representado na TV — frisa.
Paula aplaude a iniciativa de “Malhação” em dar visibilidade ao dia a dia absolutamente comum das pessoas que têm deficiência auditiva:
— É importante mostrar numa novela que surdos ouvem, falam, fazem tudo! Também sugeri que atentassem para a diversidade da surdez e ajudassem a quebrar
mitos como os de que “todo surdo é mudo”, “todo surdo usa libras”… A tecnologia já é capaz de fazer uma pessoa com surdez profunda voltar a ouvir, como
é o meu caso, com meus dois ouvidos biônicos. Isso é maravilhoso!
Fonte:
Extra
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