terça-feira, 14 de maio de 2013

Público vivencia a experiência de deficientes visuais em restaurante argentina

No restaurante sobre rodas Gallito Ciego Móvil, deficientes visuais cozinham e servem os clientes às escuras para conscientizar a população portenha sobre tolerância. Eduardo Szklarz Um ônibus transformado em restaurante, que funciona às escuras com cozinheiros e garçons cegos, está mudando a visão da sociedade sobre os deficientes na Argentina. No Gallito Ciego Móvil (Galinho Cego Móvel), pessoas com deficiência visual se encarregam de todo o serviço da cozinha e do salão. O ônibus tem circulado por escolas e empresas, prestando serviços de catering de café da manhã, almoço, merenda e jantar. Ao comer na escuridão, o público vivencia as dificuldades enfrentadas pelos cegos e se dá conta dos próprios preconceitos. O projeto é realizado em Buenos Aires e em municípios da província de Buenos Aires pela Audela, uma associação civil que promove a integração social e laboral de pessoas com deficiência. “Oferecemos capacitação e trabalho às pessoas cegas e também buscamos sensibilizar e conscientizar o público a fim de construir uma sociedade mais amigável e transitável para todos”, diz Mônica Spina, diretora da Audela. O projeto conta com 10 deficientes visuais capacitados pelo Instituto Argentino de Gastronomia (IAG), que se alternam em equipes de três em cada evento. “Eles fazem de tudo: limpam as mesas, preparam a comida e servem o público”, diz Mônica. Inspirado no restaurante suíço Blinde Kuh (Vaca Cega), o Gallito funcionou entre 2002 e 2004 num salão do Instituto Roman Rosell, voltado à reabilitação de pessoas cegas. Em 2012, foi reinaugurado na versão sobre rodas. Para isso, a Audela adaptou um ônibus com 14 metros de comprimento e 2,20 metros de altura. O veículo tem cozinha profissional, salão com ar condicionado para 25 pessoas, janelas vedadas com blecaute e piso rebaixado. Uma rampa hidráulica permite o acesso de cadeirantes. Vivência transformadora No início de cada evento, os cozinheiros cegos dão as boas-vindas ao público na porta do ônibus. Todos sobem a escada do veículo em fila, com a mão sobre o ombro da pessoa à frente, e passam por um labirinto de cortinas que impede a entrada de luz. Ao sentar-se às mesas, já não enxergam nada. “As pessoas sobem no ônibus de uma maneira e descem de outra”, diz a cozinheira Karina Chediex, de 39 anos. “Elas tomam consciência de que nós, cegos, também somos capazes de fazer as coisas.” Após a sobremesa, as luzes se acendem e os cozinheiros coordenam um debate com o público. Nessas horas, eles mostram que o humor é uma ferramenta valiosa para lidar com os preconceitos. “As crianças costumam expressar suas curiosidades com total inocência. Uma vez, um menino perguntou aos cegos como eles tomavam banho. E a cozinheira respondeu, com naturalidade: ‘Nua, como você!’”, recorda Mónica. “Nas perguntas dos adultos, vemos uma preocupação de como a vida seria se eles também ficassem cegos.” O cozinheiro Javier Suñé, de 43, diz que o Gallito Ciego vem rompendo barreiras ao mostrar à sociedade que os os cegos também são pessoas capazes. “Muita gente relaciona cego com mendigo ou pensa que você perdeu a visão por descuido”, diz Suñé. “Mas a sociedade está mudando. As pessoas cegas têm mais acesso à computação e à universidade, por exemplo.” Javier perdeu a visão de maneira progressiva devido à cegueira congênita. “Perder um dos sentidos gera muito temor no início, mas potencializamos outros recursos”, diz ele, que também toca tuba na Banda Sinfônica de Cegos, da Secretaria de Cultura da Argentina. Este ano, o restaurante móvel pretende rodar pela Argentina. “Nosso objetivo é que muita gente passe pelo Gallito, mas também que ele seja um projeto federal e viaje pelas províncias”, diz Mônica. “Passaremos por Jujuy, Salta e Tucumán. Depois, a ideia é ir para o Sul do país.” Segue uma receita simples de entrada para os leitores do Degusta comerem às cegas. ¤ fonte rede saci

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